Publicado em 10 de agosto de 2024 às 15:03
- Atualizado há um ano
Único atleta enviado por seu país para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, o velocista Shaun Gill tem desfrutado do seu status temporário de "homem mais famoso" de Belize.>
Ele é um dos quatro atletas enviados para competir no evento como único representante da sua nação. É uma responsabilidade que traz orgulho — e uma dose extra de ansiedade.>
Competidores "solo" disseram à BBC que sua missão pode ser solitária, mas ser o porta-bandeira do país durante a cerimônia de abertura foi emocionante.>
Como resultado da fama repentina de Gill, muita gente tem pedido seu autógrafo na Vila dos Atletas, disse o jovem de 31 anos à BBC.>
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"Brinquei com um dos meus amigos que eu poderia precisar de uma equipe de segurança", diverte-se.>
As delegações olímpicas maiores — como as enviadas pelos EUA e pelo Reino Unido — podem escolher quem vão ser seus porta-bandeiras entre grupos de centenas de atletas.>
Mas Belize, um país da América Central com uma população de menos de meio milhão de habitantes, tinha apenas um candidato — assim como Liechtenstein, Nauru e Somália.>
Gill agitou a bandeira do seu país com todo o fervor patriótico que conseguiu reunir, enquanto ele e outros atletas desfilavam em barcos ao longo do Rio Sena. Ele viralizou por conta do seu esforço apaixonado em meio à chuva torrencial.>
Carregar todas as esperanças de uma nação nas costas, era uma pressão, admitiu o atleta. Ele não avançou para a final masculina dos 100m, e acredita que o efeito da diferença de fuso horário o deixou incapaz de correr tão rápido quanto esperava.>
"Quando o desempenho deixa a desejar, eu penso: 'Cara, espero não ter desapontado todos vocês'", disse Gill.>
O corredor somali Ali Idow Hassan esperava alcançar o feito que Gill não conseguiu: subir ao pódio no Stade de France garantindo uma medalha para seu país.>
Mas Hassan, de 26 anos, não foi rápido o suficiente na prova masculina dos 800m, e não conseguiu avançar para as semifinais.>
Acabou assim a única esperança de medalha olímpica do país do leste africano.>
Algumas das menores nações do mundo se beneficiam das regras de universalidade que são concebidas para garantir uma representação diversificada de países durante a competição esportiva.>
Hassan disse à BBC que estava "muito feliz" por ser o único enviado do seu país aos Jogos de Paris 2024, mas admitiu que havia um outro lado: >
"Me sinto muito triste quando estou sozinho.">
Mas Hassan fez amizade com atletas de outros países africanos. A experiência de ficar na Vila dos Atletas foi menos isoladora do que se poderia esperar, concordaram os competidores.>
O ciclista Romano Püntener, que representou Liechtenstein sozinho, foi perseguido no complexo por ninguém menos que Andy Murray.>
O tenista queria trocar pins com Püntener, sabendo que um pin de Liechtenstein era uma raridade. Os pins são trocados regularmente por atletas que disputam o circuito internacional.>
Liechtenstein é um pequeno país sem acesso ao mar, entre a Áustria e a Suíça, com uma população de 38 mil habitantes. Lá, os atletas de alto rendimento são poucos e raros.>
Os Jogos Olímpicos foram "inesquecíveis" para Püntener, que disse ter apreciado o grande investimento que recebeu como a única esperança de seu país na edição de 2024.>
"Só me ajudou", refletiu o atleta. "Nós conseguimos montar toda a equipe ao meu redor, e eu pude decidir quem eu queria ter comigo — e quem não queria.">
O atleta de 20 anos terminou em 28º na prova da semana passada, sua estreia olímpica. >
Mas como não era esperado que ganhasse uma medalha, ele conseguiu se divertir e valorizar o apoio dos cerca de 20 ou 30 compatriotas que apareceram para torcer por ele. Entre eles, estava o primeiro-ministro do país.>
Mas na era digital, uma enxurrada de apoio é capaz de se tornar uma distração quando os atletas querem se concentrar em fazer bonito para seu país.>
"Parecia que eu tinha recebido uma mensagem de cada pessoa que vive em Liechtenstein", contou Püntener.>
Gill disse que recebeu “milhares” de votos de boa sorte. >
"Meu telefone trava, meu Instagram trava", afirmou ele. >
"Tive que desligar em um determinado momento, porque não conseguia ter um segundo de paz comigo mesmo... Eu agradeço tudo isso, mas acho que tive que aprender a lidar com isso bem rapidamente.">
Apesar do enorme apoio que podem ter recebido, os competidores "solitários" enfrentam uma série de desafios, de diferentes maneiras.>
Winzar Kakiouea competiu na prova masculina dos 100m por Nauru, uma ilha no Pacífico que é a menor república do mundo, e depende muito de ajuda.>
Quando os Jogos acabarem, e os holofotes se voltarem para outra coisa, esses competidores vão retomar suas vidas, que podem ser muito diferentes daquelas vividas pelas celebridades do mundo esportivo.>
Gill decidiu se aposentar das pistas de atletismo, e agora vai focar no treinamento da próxima geração de corredores de Belize, assim como na futura carreira como engenheiro.>
Püntener vai voltar para sua casa em Schaan, nas montanhas de Liechtenstein, que é perfeita para ciclismo cross-country. "Para mim, parece uma cidade grande", ele diz.>
Hassan vai retomar os treinos na Etiópia, embora espere um dia viver novamente em sua cidade natal, Mogadíscio, capital da Somália.>
Na véspera da prova masculina dos 800m, ele estava esperançoso de que a melhora na situação de segurança da Somália poderia significar mais atletas sendo enviados para futuras edições dos Jogos Olímpicos.>
A Somália tem uma população de 17 milhões de habitantes, mas tem sido assolada por uma guerra civil por décadas.>
"Um dia, haverá mais atletas", acredita Nassan. >
"Dez atletas, 100 atletas vão estar aqui.">
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