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Venezuela: presidente da Assembleia Nacional é preso e liberado

Venezuela: presidente da Assembleia Nacional é preso e liberado

Juan Guaidó havia dito, na última sexta, que estava disposto a assumir a presidência depois que a oposição declarou ilegítimo o segundo mandato de Nicolas Maduro

Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 21:39

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presidente da Assembleia Nacional é preso e liberado. (Reprodução/Flickr)

O presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela, Juan Guaidó, foi preso neste domingo por agentes do Serviço de Inteligência Bolivariana (Sebin) em uma estrada que liga Caracas a La Guaira, capital do estado de Vargas, no Norte do país, onde ele era esperado para um comício. Ele foi sequestrado no meio da rodovia, para ser solto quase uma hora depois.

Segundo a mulher de Guaidó, Fabiana Rosales, os agentes de inteligência teriam retirado o presidente da AN à força de seu carro. Um vídeo que mostra a ação foi divulgado no Twitter pelo partido Vontade Popular, fundado por ele e que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro.

Na última sexta-feira, Guaidó declarou-se disposto a assumir a Presidência, num possível governo de transição na Venezuela. Em discurso, ele disse que a Constituição venezuelana o legitima a assumir o poder em uma transição depois que o Legislativo, de maioria opositora desde as eleições de 2015, declarou Maduro um "usurpador".

Solto uma hora depois da prisão na estrada, Guaidó chegou finalmente ao comício no estado de Vargas, próximo de Caracas, e disse à plateia ter sido vítima de um "golpe de Estado", reafirmando que tem direito de assumir o poder, segundo a Constituição do país.

"Denunciamos um golpe de Estado contra o presidente legítimo da Assembleia Nacional e de toda a Venezuela", afirmou no discurso.

O ministro de Comunicação e Informação do governo Maduro, Jorge Rodríguez, declarou que a detenção de Guaidó, "irregular", foi uma ação "individual" de funcionários da Sebin que, segundo ele, seriam "destituídos" e "submetidos a procedimentos disciplinários estritos".

"NÃO TEMOS MEDO"

"Se queriam enviar uma mensagem para que nos escondêssemos, aqui está a resposta do povo: aqui estamos, não temos medo"disse Guaidó no evento neste domingo, mais um encontro para conclamar a população a se reunir num grande protesto contra Maduro.

A manifestação nacional, liderada pela coalizão Frente Ampla Venezuela Livre (FAVL), foi marcada para o dia 23 por esta ser uma data emblemática na História da Venezuela, o marco do fim da ditadura militar, em 1958.

No sábado, a Frente Ampla — criada logo depois da eleição de Maduro do ano passado, composta por partidos opositores, sindicatos, estudantes e outros representantes da sociedade civil — se reuniu com Guaidó para, como afirmou o presidente da AN no Twitter, buscar uma "agenda única" para o protesto de 23 de janeiro.

Segundo ele, a reeleição de Maduro, cujo novo mandato deve durar até 2025, infringiu três artigos da Constituição de 1999. Por isso, para restituir a ordem constitucional, pediu aos cidadãos, e especialmente às Forças Armadas, a não reconhecerem a posse do presidente. Grande parte da comunidade internacional não reconhece o novo mandato.

Manuel Rosales, líder do partido Nuevo Tiempo, que também integra a oposição de Maduro, afirmou no Twitter que a prisão de Guaidó foi "um ultraje".

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, descreveu o incidente como um sequestro. Segundo ele, que chama Guaidó de presidente interino, "a comunidade internacional deve parar os crimes de Maduro e seus asseclas".

PRISÃO SERÁ DISCUTIDA NO BRASIL 

O episódio também foi condenado em Buenos Aires. Em nota, o governo argentino afirmou que a prisão de Guaidó "atenta contra as liberdades civis e políticas dos venezuelanos (...) ratifica a imperiosa necessidade de restabelecer na Venezuela uma ordem democrática e o respeito aos direitos humanos".

Neste sábado, o chanceler argentino, Jorge Faurie, afirmou que Buenos Aires reconhece a Assembleia Nacional, presidida por Guaidó, como "a única autoridade legítima" na Venezuela, já que a reeleição de Maduro teria ocorrido em um "processo manipulado".

Ainda de acordo com Faurie, o presidente argentino Mauricio Macri e Jair Bolsonaro "emitirão um pronunciamento conjunto" sobre a Venezuela na próxima quarta-feira, quando ambos se encontrarão em Brasília.

Guaidó, um engenheiro de 35 anos, era, até pouco tempo atrás, um deputado pouco conhecido, mas a perseguição aos principais opositores do regime o levou para a liderança das forças contrárias a Maduro. Ele foi eleito deputado em 2015, pelo estado de Vargas, com quase 100 mil votos.

DOIS JORNALISTAS DETIDOS

Agentes da Sebin também prenderam neste domingo dois jornalistas que trabalhavam na cobertura da detenção de Guaidó. A ONG Espaço Público informou a prisão de Osmary Hernández, da CNN Venezuela, e Beatriz Adrián, do Notícias Caracol. Ambos foram soltos uma hora depois.

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"Libertados os repórteres Beatriz Adrián e Osmary Hernández, os funcionários do Sebin detiveram e os mantiveram em sua sede até que verificaram sua documentação", escreveu o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa da Venezuela no Twitter.

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