Publicado em 8 de agosto de 2024 às 08:02
Milhares de manifestantes antirracistas se reuniram em cidades por toda a Inglaterra na noite desta quarta-feira (7/8) em resposta aos protestos violentos de grupos de direita radical na última semana. >
As autoridades temiam que os atos pudessem acabar em violência, e policiais extras foram mobilizados para manter a ordem em todo o país, mas as manifestações foram em sua maioria pacíficas, com poucos incidentes sérios. >
As manifestações antirracismo aconteceram em Londres, Brighton, Southampton, Bristol, Birmingham, Newcastle e outras cidades do país. >
O chefe da Scotland Yard, a Polícia Metropolitana de Londres, Mark Rowley, afirmou que foi uma "noite de muito sucesso", dizendo que os temores de desordem provocada pela direita radical foram "reduzidos". >
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Em Accrington, no noroeste da Inglaterra, frequentadores de pubs foram vistos abraçando muçulmanos na rua, enquanto em Londres um manifestante disse à BBC que compareceu ao ato porque sua comunidade multiétnica queria "garantir que ninguém jamais nos intimidaria".>
O prefeito da capital agradeceu àqueles "que saíram pacificamente para mostrar que Londres está unida contra o racismo e a islamofobia".>
Em uma publicação no X, Sadiq Khan também agradeceu "à nossa força policial heroica trabalhando 24 horas por dia para manter os londrinos seguros" depois que 1.300 policiais foram mobilizados.>
"E para aqueles criminosos da direita radical que ainda pretendem semear ódio e divisão - vocês nunca serão bem-vindos aqui", acrescentou o prefeito.>
Abaixo, as cidades onde os protestos antirracismo foram registrados:>
Os protestos da noite de quarta foram uma resposta à onda de violência anti-imigração que tomou a Inglaterra na última semana.>
Os distúrbios começaram após o assassinato de três meninas em um ataque a facadas em Southport, no noroeste da Inglaterra. Enquanto a cidade litorânea lamentava a tragédia, grupos de direita radical usaram o incidente como uma oportunidade para intimidar comunidades não brancas e de imigrantes.>
Vigílias pacíficas na cidade logo deram lugar à violência e destruição. A onda de distúrbios — na qual manifestantes arremessaram tijolos, bombas de fumaça e outros projéteis contra a polícia, e solicitantes de asilo foram alvo de ataques em hotéis em que foram instalados pelo governo enquanto aguardam a conclusão de seus pedidos — se espalhou para outras partes do Reino Unido, incluindo Hull, Liverpool, Manchester, Blackpool e Belfast.>
Índia, Nigéria e Malásia são alguns dos países que emitiram alertas para seus cidadãos em viagem para o Reino Unido. O Itamaraty recomendou que brasileiros que vivem no país tomem precauções.>
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, descreveu as cenas dos distúrbios como "selvageria de direita radical">
Quando a notícia dos esfaqueamentos em Southport veio à tona, a desinformação sobre a identidade do suspeito se espalhou rapidamente nas redes sociais.>
Devido à idade dele, a polícia só podia confirmar que um rapaz de 17 anos havia sido acusado — e pediu à população que parasse com especulações.>
Mas boatos de que o suspeito era um solicitante de asilo muçulmano que havia chegado ao Reino Unido em um bote normalmente usado para a travessia do Canal da Mancha foram alimentados por influenciadores de direita radical nas redes sociais, que incentivavam as pessoas a "tomar uma atitude".>
De acordo com a BBC Verify, um deles era um influenciador do X chamado Stephen Yaxley-Lennon (que usa o pseudônimo Tommy Robinson), associado ao fundador da Liga de Defesa Inglesa (EDL, na sigla em inglês), grupo de direita radical.>
As alegações falsas começaram a inundar as plataformas de rede social, atingindo um grande público — incluindo pessoas comuns sem nenhuma conexão com indivíduos e grupos de direita radical, segundo a BBC Verify.>
"Não houve uma força motriz única", diz Joe Mulhall, chefe de pesquisa do grupo antirracismo Hope Not Hate.>
"Isso reflete a natureza da direita radical contemporânea. Há um grande número de pessoas engajadas em atividades online, mas sem uma estrutura de associação ou membros — não há nem sequer uma estrutura formal de liderança, mas (as pessoas) são direcionadas por influenciadores de redes sociais. É como um cardume de peixes, em vez de uma organização tradicional.">
As eleições gerais, realizadas no início de julho, trouxeram à tona temas como a imigração e a chegada de migrantes em pequenas embarcações ao Reino Unido.>
Nigel Farage, que foi um dos protagonistas da campanha pelo Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia), também voltou à cena política como líder do partido político Reform UK, que pediu o bloqueio da imigração "não essencial".>
Em resposta aos violentos protestos, ele afirmou que "a maioria da nossa população pode ver a fragmentação das nossas comunidades como resultado da imigração em massa e descontrolada".>
As evidências mostram que há uma preocupação por parte da população no Reino Unido em relação aos níveis atuais de imigração legal e ilegal.>
Uma pesquisa do instituto Ipsos revelou em fevereiro que 52% das pessoas acreditavam que os níveis atuais de imigração eram muito altos. Dois anos antes, apenas 42% diziam isso.>
Mas a pesquisa Ipsos mostrou que as pessoas, em geral, são mais otimistas em relação ao impacto da imigração do que o contrário, embora essa diferença também tenha diminuído desde 2022.>
Outros grupos, incluindo o Patriotic Alternative, de direita radial, que organizou protestos contra imigrantes, promoveram encontros que se aproveitaram da revolta da população em relação aos ataques de Southport e que se transformaram em distúrbios violentos.>
Grupos de direita radical mais extremistas pediram deportações em massa.>
"Uma das coisas que constantemente impedem que a direita radical seja uma força maior neste país são as brigas internas, mas Southport de fato a uniu", disse à BBC Radio 4 Lizzie Dearden, autora do livro Plotters: The UK Terrorists Who Failed, que já foi editora de assuntos nacionais do jornal britânico The Independent.>
Ataques racistas tiveram como alvo mesquitas em partes da Inglaterra, exigindo a presença de força policial especial em algumas áreas.>
Hotéis que abrigam solicitantes de asilo também se tornaram um foco para ataques racistas e anti-imigração.>
Na cidade de Aldershot, no sul da Inglaterra, o jornalista da BBC Paddy O'Connell testemunhou um fluxo de manifestantes do lado de fora de um hotel que abriga solicitantes de asilo.>
"No Facebook, uma manifestação pacífica foi convocada para chamar a atenção para problemas de moradia (e) problemas de integração — e a coisa ficou muito feia. Arremessaram tijolos, gritaram insultos raciais, e foi muito assustador estar no hotel", disse ele ao podcast Newscast, da BBC.>
Na calçada do lado de fora, ele conversou com duas irmãs do Afeganistão que estavam buscando asilo no Reino Unido.>
"[Os manifestantes] chegaram de repente e estacionaram os carros aqui. Eles estavam tentando entrar no hotel. Quebraram até o muro e o portão. Janelas também foram quebradas. Foi muito assustador", contou uma das irmãs, de 22 anos.>
"Eles estavam abusando de nós [gritando insultos] e fazendo vídeos, o que não é um bom comportamento", acrescentou a outra irmã, de 17 anos.>
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