Publicado em 3 de setembro de 2025 às 11:25
No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus no processo criminal por suposta tentativa de golpe de Estado, ganhou os holofotes outra empreitada, fora da Corte: a de garantir uma anistia a Bolsonaro.>
O ex-presidente, se condenado pela Primeira Turma do STF, pode ter uma pena máxima de prisão que supera 40 anos (entenda aqui).>
Não é novidade que familiares e aliados do ex-presidente pressionam pela votação do projeto de lei que anistia os envolvidos nos atos antidemocráticos do 8 de janeiro. >
Por exemplo, na semana em que Bolsonaro teve decretada sua prisão domiciliar, no início de agosto, parlamentares bolsonaristas bloquearam os trabalhos nos plenários da Câmara e do Senado para pedir, entre outras coisas, a anistia a envolvidos na tentativa de golpe de Estado.>
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Nesta semana de início do julgamento, no entanto, outros fatores deram fôlego à proposta, e parlamentares de partidos do Centrão e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) trabalham por um acordo para anistiar o ex-presidente após o julgamento do STF.>
Tarcísio, cotado para ser candidato à presidência em 2026, inclusive chegou a dizer no fim da semana passada que seu "primeiro ato" no cargo seria conceder uma anistia a Bolsonaro.>
"Na hora. Primeiro ato. Primeiro ato seria esse. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado", disse Tarcísio ao jornal Diário do Grande ABC, quando perguntado sobre a possibilidade de um indulto a Bolsonaro.>
"Tenho plena convicção da inocência do presidente. Plena convicção. E, para mim, isso tudo que está acontecendo é extremamente injusto. E é por isso que a gente vai trabalhar para que uma anistia seja construída no Congresso Nacional, que é um remédio político e é um remédio que garante a pacificação.">
Na terça-feira, líderes do PT e do PL na Câmara dos Deputados afirmaram que um projeto de anistia está mais perto de caminhar na Casa. >
Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, inclusive disse que já há maioria dos deputados para pautar o assunto. Ele afirmou que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), teria avisado a líderes partidários que o assunto seria pautado — embora ainda não haja data determinada para isso.>
Ele afirmou que a ideia é que a anistia abranja desde os atingidos pelo chamado "inquérito das fake news", de 2019, ao "presente momento" — incluindo um mecanismo para beneficiar Bolsonaro, em caso de condenação do ex-presidente, por exemplo.>
Cavalcante afirmou que o avanço do assunto teve "grande ajuda" de Tarcísio. "Ele trabalhou comigo todo fim de semana. Me ligou na quinta, trabalhou sexta, trabalhou sábado, trabalhou domingo...", disse.>
Também há relatos de que o pastor Silas Malafaia está na negociação para uma anistia via Congresso.>
Outro fator que dá força para a oposição no Congresso é o anúncio do União Brasil e Progressistas, partidos que juntos contam com mais de 100 parlamentares no Congresso Nacional, anunciaram na terça que os detentores de mandato filiados às legendas devem deixar cargos ocupados no governo federal.>
O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, Lindbergh Farias, afirmou que "cresceu um movimento" de colocar em discussão "essa questão da anistia" depois do julgamento do STF, o que ele classificou como um "equívoco completo". >
"A gente não quer que paute esta semana e não quer que paute depois", afirmou, acrescentando que se trata de uma "interferência (no STF)".>
Bolsonaro não deve ir para a prisão imediatamente após a conclusão do julgamento se for condenado pelo STF.>
No cenário de uma condenação, embora não haja uma data exata para uma prisão acontecer, a execução da pena só deve ocorrer após o esgotamento do prazo para recursos — o chamado trânsito em julgado, quando a decisão se torna definitiva.>
Se Bolsonaro for condenado pela Primeira Turma do STF, o passo seguinte é a publicação do acórdão da decisão, que pode ocorrer em até 60 dias após o julgamento.>
Mas há expectativa de que ocorra antes. A publicação do acórdão da decisão que tornou Bolsonaro réu, em abril, ocorreu em 15 dias, como exemplificou uma fonte do STF à BBC News Brasil.>
Depois dessa publicação, as defesas têm cinco dias para apresentação dos embargos.>
"Não me parece correto que seja expedido o mandado de prisão logo após [o julgamento]. Primeiro é preciso publicar o acórdão, depois ele dispõe de um recurso denominado embargos declaratórios, e só depois desses embargos declaratórios serem julgados é que aí, sim, se torna possível a expedição do mandado de prisão", diz o advogado criminalista Alberto Zacharias Toron, mestre e doutor em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP) (Entenda mais nesta reportagem).>
Bolsonaro está em prisão domiciliar desde o dia 4 de agosto. >
A medida foi decretada por Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito que apura a conduta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação da chamada trama golpista e abolição violenta do Estado democrático de direito.>
No julgamento que ocorre em setembro, Bolsonaro responde por cinco tipos penais.>
Se for condenado por todos, as penas máximas somadas podem superar 40 anos de prisão. E, no Brasil, penas acima de oito anos começam a ser cumpridas em regime fechado.>
"Neste caso, o regime inicial será fechado e ele será cumprido num estabelecimento prisional. Como ocorreu com o presidente Lula, embora se tratasse de um preso provisório, pode ser que ele [Bolsonaro] seja destinado a uma cela numa sede da Polícia Federal, em Brasília ou outro Estado, para que ele cumpra a pena no âmbito de uma cela especial", disse Toron.>
Pierpaolo Bottini, advogado e professor de direito penal da USP, acrescenta que "a prisão domiciliar é cabível para pessoas com mais de 70 anos que tenham algum problema grave de saúde, que é o caso do Bolsonaro".>
Não seria, no entanto, automática. "O tribunal precisa avaliar as condições do encarceramento e sua relação com a necessidade de tratamento.">
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