Publicado em 20 de setembro de 2024 às 15:09
Primeiro, veio a explosão de centenas de pagers. Um dia depois, ocorreu o mesmo com um grande número de walkie-talkies.>
As explosões ocorridas no Líbano durante dois dias seguidos mataram pelo menos 37 pessoas e deixaram mais de 2.450 feridos, incluindo centenas que perderam seus olhos, dedos e mãos.>
O governo libanês e o Hezbollah — o partido político islamista xiita apoiado pelo Irã e considerado organização terrorista por Israel, EUA e União Europeia — atribuíram os ataques a Israel.>
Na quinta-feira (19/9), o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, descreveu os ataques com aparelhos eletrônicos como "terrorismo puro" e os qualificou de "crimes de guerra ou, pelo menos, uma declaração de guerra".>
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"Deus é misericordioso e evitou que houvesse mais mortos e feridos", declarou Nasrallah. "Vários pagers estavam fora de serviço ou desligados. Alguns não haviam sido distribuídos e ainda estavam armazenados.">
Alguns funcionários de governos ocidentais respaldaram a versão de que os israelenses instalaram explosivos nos aparelhos antes que eles fossem entregues ao Hezbollah.>
Especialistas calculam que este complexo ataque parece ter sido planejado meticulosamente ao longo de meses. E, na quinta-feira, ainda não estava claro se a série de ataques já havia terminado.>
O que já se sabe é que Israel está "abrindo uma nova fase na guerra", concentrada na fronteira norte do país, como confirmou, em comunicado, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.>
"O centro de gravidade está sendo deslocado para o norte, com o deslocamento de forças e recursos", acrescentou o ministro nas declarações fornecidas na base aérea Ramat David, no norte de Israel.>
Paralelamente, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram o deslocamento da sua 98ª Divisão, considerada uma unidade de elite, no norte do país.>
Esta divisão fez parte da ofensiva israelense na cidade de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, entre o início de dezembro do ano passado e abril deste ano. Seus paraquedistas e a divisão de comandos irão se associar à 36ª Divisão sob o Comando Norte, em meio às crescentes tensões entre Israel e o Hezbollah.>
Especialistas indicam que isso aumentará significativamente a capacidade ofensiva de Israel na sua fronteira norte, enquanto outras duas divisões continuarão centralizadas em Gaza.>
Israel e o Hezbollah trocam ataques quase diariamente desde outubro do ano passado, quando Israel declarou guerra ao Hamas após a incursão deste grupo palestino no seu território.>
Os ataques obrigaram a evacuação de civis nos dois lados da fronteira — o norte de Israel e o sul do Líbano, sede do poder do Hezbollah.>
O correspondente da BBC em Jerusalém, Daniel de Simone, informou que os ataques de foguetes e drones lançados pelo Hezbollah causaram o deslocamento de cerca de 60 mil israelenses.>
"No início desta semana, o governo de Israel transformou o regresso dos deslocados às suas casas em um objetivo fundamental da guerra", destacou De Simone. "E Gallant deixou claro que a ação militar será a única opção, se a diplomacia fracassar.">
As palavras de Gallant não deram lugar a dúvidas sobre a posição do seu governo. "Precisaremos de consistência ao longo do tempo. Esta guerra exige muita coragem, determinação e perseverança.">
O ministro da Defesa de Israel também destacou que os objetivos da guerra israelense na sua fronteira norte são "claros e simples: devolver os moradores das cidades do norte aos seus lares, sãos e salvos".>
Estas não são as únicas declarações que indicam uma escalada que, segundo os especialistas, poderia resultar em uma guerra total contra o Hezbollah.>
Em uma breve declaração depois da segunda rodada de explosões, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou: "Eu disse que devolveríamos os moradores do norte [de Israel] sãos e salvos aos seus lares e é exatamente isso que iremos fazer".>
De sua parte, o chefe das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, alertou com retórica similar que o seu país detém "capacidade muito maior" que ainda não havia sido utilizada na luta contra o Hezbollah.>
"Estamos muito decididos a criar as condições de segurança que permitam que os moradores [do norte de Israel] regressem aos seus lares, às cidades, com alto nível de segurança", declarou ele, "e estamos dispostos a fazer o que for necessário para conseguir", indicou Halevi em um vídeo publicado pelas FDI.>
Israel não costuma comentar sobre suas operações de inteligência no exterior e não reivindicou nem negou sua relação com as explosões de pagers e walkie-talkies no Líbano. Mas diversas fontes afirmam que a agência de espionagem israelense, o Mossad, está por trás desta nova ofensiva.>
O episódio foi amplamente condenado por diversos líderes mundiais, incluindo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.>
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, qualificou os ataques como "grave violação da soberania libanesa e crime, sob todos os aspectos".>
Já o Alto Representante da União Europeia (UE) para Assuntos Exteriores, Josep Borrell, detalhou em um comunicado ter discutido a situação com o ministro de Assuntos Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib.>
"Embora os ataques pareçam ter sido seletivos, eles provocaram inúmeros e indiscriminados danos colaterais entre a população civil", destacou Borrell. "Entre as vítimas, existem diversas crianças.">
O funcionário da UE acrescentou que os recentes ataques poderiam "colocar em risco a segurança e a estabilidade do Líbano e aumentar o risco de escalada na região".>
"A União Europeia convoca todas as partes interessadas a evitar uma guerra total, que teria graves consequências para toda a região e além", concluiu ele.>
Embora o governo israelense mantenha seu habitual silêncio após os ataques aos aparelhos móveis no Líbano, comentaristas aproveitaram a oportunidade para manifestar suas hipóteses, segundo o analista de segurança da BBC, Paul Adams.>
Os jornais israelenses estão repletos de análises sobre como ficará o conflito latente entre Israel e o Hezbollah e o que poderia acontecer em seguida.>
O veterano analista sobre assuntos árabes Ehud Yaari afirma que os ataques criaram uma "oportunidade única" para que Israel atue decisivamente contra o Hezbollah e seus amplos arsenais de mísseis.>
No momento, os sistemas de comunicação do grupo estão fora de serviço e muitos comandantes de campo estão feridos, alguns em estado grave.>
"A situação atual não irá se repetir no futuro próximo", assegurou Yaari no website de notícias israelense N12. "Em poucas palavras, o Hezbollah encontra-se atualmente na sua pior situação desde o final da Segunda Guerra do Líbano, em 2006.">
Adams confirmou a declaração do governo israelense sobre o deslocamento do seu foco militar para o norte.>
"Mas a guerra em Gaza continua e não se sabe como Israel pretende explorar este que é considerado um raro momento, repleto de oportunidades", concluiu o analista da BBC.>
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