Publicado em 21 de outubro de 2024 às 07:51
Aviso: esta reportagem contém detalhes de abuso que alguns leitores podem achar perturbadores.>
Um homem que levou chutes e socos, foi obrigado a dormir no chão e impedido, pela ex-namorada abusiva, de usar o banheiro, diz que quer contar sua história para ajudar outras vítimas.>
Gareth Jones, de 41 anos, revela que precisou de mais de um ano de terapia para começar a se recuperar dos meses de abuso emocional e físico que sofreu por parte de uma mulher que conheceu online em julho de 2021.>
A Mankind Initiative, instituição beneficente que ajudou Jones, afirma que o abuso doméstico masculino não é tão raro quanto algumas pessoas podem pensar — e um em cada seis ou sete homens será vítima ao longo da vida.>
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No início deste ano, Sarah Rigby, de 41 anos, foi condenada a 20 meses de prisão, com suspensão condicional da pena por dois anos, após se declarar culpada de comportamento coercitivo e controlador.>
A detetive Sophie Ward, da Polícia de Cheshire, na Inglaterra, afirmou que Rigby tinha "domínio absoluto" sobre a vítima.>
"Muita gente pensa que apenas as mulheres podem ser vítimas de comportamento controlador e coercitivo, mas como este caso mostra, nem sempre é o caso", acrescentou.>
Jones, que é gerente do NHS (sistema público de saúde britânico) contou ter sido isolado de amigos e familiares durante o relacionamento de nove meses, perdendo o controle de suas finanças e cerca de £40 mil (aproximadamente R$ 295 mil).>
Ele era submetido a abusos verbais e humilhações diárias, não podendo usar o banheiro da casa nem tomar banho sem a permissão de Rigby.>
Controles rígidos sobre sua alimentação fizeram com que ele perdesse 28 kg em dois meses, enquanto Rigby ameaçava repetidamente dizer à polícia que havia sido agredida por ele, se ele falasse com alguém sobre o abuso.>
Cinco meses após a sentença judicial, ele contou à BBC que, no início, o relacionamento parecia "normal" — embora, fazendo uma retrospectiva, ele pudesse ver que ela era "excessivamente afetuosa".>
"Acho que chamam isso de love bombing (algo como 'bombardeio de amor')", ele disse.>
"Eu pensava: Como esta pessoa pode ser tão amorosa?">
"Te surpreende... você acha que pode ser realmente a pessoa certa, e que pode dar certo.">
"Foi muito poderoso.">
Ele entregou seu apartamento, e se mudou para a casa de Rigby apenas quatro meses depois de se conhecerem. Foi então que o abuso se intensificou.>
Rigby o fez pagar por todo o tempo que havia passado na casa anteriormente.>
Ele também pagava £700 (cerca de R$ 5 mil) por mês de aluguel, além de todas as contas, mas não tinha direito a uma chave — e só podia entrar no imóvel quando ela estava em casa.>
Ela também impôs restrições ao uso do banheiro e ao que ele podia e não podia comer.>
"Ela me fazia dormir no chão, sem cobertor, se as coisas não estivessem indo do jeito dela, como punição", ele disse.>
"Eu não tinha permissão para tomar banho, fazer a barba ou usar o banheiro. Tinha que segurar (a vontade) e tentar chegar ao supermercado local, um pub ou restaurante.">
"Se ela quisesse sair, eu tinha que sair, mesmo que estivesse tentando trabalhar.">
Rigby verificava seu telefone, e dizia a ele para não se relacionar com a família e os amigos, afirmando: "Você está comigo agora".>
Todas as mensagens de texto que enviava à mãe, ele apagava imediatamente para evitar qualquer repercussão.>
Houve abuso físico, incluindo mordidas, chutes, arranhões e unhadas.>
Ele descreveu uma ocasião em Londres, durante um fim de semana prolongado, na qual Rigby exigiu que ele comprasse uma bolsa de grife para ela.>
"Estávamos na Harrods (loja de departamentos de luxo), e ela disse: 'Não vamos embora até que você me compre algo caro'", ele recorda.>
"Ela me deu uma unhada pelo suéter, meu braço estava sangrando, até me obrigar a comprar algo caro para ela.">
Cinco meses depois de ter ido morar com Rigby, as coisas chegaram a um ponto crítico, quando ele se encontrou com a mãe em segredo para tomar um café.>
"Ela desabou na minha frente", ele disse.>
"Pensei: 'Não posso mais fazer minha família passar por isso'... eles estavam implorando para que eu fosse embora.">
Nesta época, Jones telefonou para a Mankind Initiative.>
Eles confirmaram que ele estava sofrendo violência doméstica — e ouvir isso de alguém neutro o ajudou a entender que precisava sair do relacionamento.>
A mãe de Jones, Diane Debens, disse que a família estava "orgulhosa" dele por ter dado este passo de compartilhar o que aconteceu. >
"Você passa por uma série de emoções.">
"Há frustração. Você quer sacudir a pessoa e dizer: 'Sai dessa'.">
"Você sabe que ele está sofrendo. É seu filho, não importa a idade. E você se sente realmente impotente.">
Debens contou que eles viam Jones com hematomas, que ele escondia — e, em uma ocasião, com um corte no nariz.>
"Eu não conseguia acreditar que um ser humano pudesse tratar outro ser humano desta maneira", acrescentou.>
O presidente da Mankind Initiative, Mark Brooks, elogiou a bravura de Jones ao compartilhar sua história — e ressaltou que não se costuma ouvir falar da experiência de homens como ele.>
"Não há muita informação sobre as vítimas masculinas de violência doméstica", afirmou.>
"Não se fala muito sobre isso.">
"Por isso, nem sempre existe essa consciência, inclusive entre os homens, de que o abuso doméstico realmente acontece, e pode acontecer com eles.">
Tanto Jones quanto sua mãe esperam que ele se sinta preparado novamente para encontrar o amor no futuro, mas ele disse que esse momento ainda não chegou.>
Quando Jones deixou sua abusadora, ficou "apenas com as roupas do corpo", e teve que começar do zero financeiramente, construir um novo lar e resgatar amizades — sem mencionar o trabalho que ele teve para se recompor.>
"Isso abalou minha confiança por muito tempo... tinha baixa autoestima por causa dos abusos constantes", ele disse.>
"Tive que fazer terapia.">
Ele acrescentou que havia um estigma em torno dos homens que falavam sobre ter sido vítima de abusos — e queria contar sua história para tentar mudar isso.>
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