Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 11:22
Os democratas iniciaram o processo de impeachment do presidente republicano Donald Trump na esperança de que chegariam a um desfecho semelhante ao do pedido de afastamento do ex-presidente republicano Richard Nixon, em 1974.>
Pressionado por revelações devastadoras do famoso caso Watergate, sobre operação de espionagem contra os democratas, Nixon acabou renunciando antes mesmo de as acusações de obstrução de justiça e abuso de poder serem julgadas.>
No entanto, existe o risco de os democratas acabarem com um resultado bem mais parecido com o do processo do ex-presidente democrata Bill Clinton, em 1998.>
Na época, a Câmara, liderada pelos republicanos aprovou o impeachment de Clinton, acusado de perjúrio e obstrução de justiça ao mentir sobre seu caso com a estagiária Monica Lewinsky.>
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No entanto, na guerra da opinião pública, Clinton conseguiu convencer os eleitores de que era alvo de uma perseguição injusta. O Senado votou contra o afastamento, e o impeachment acabou saindo pela culatra, com republicanos punidos nas urnas nas eleições legislativas e o líder republicano na Câmara, Newt Gingrich, renunciando. Clinton terminou o mandato com aprovação de 70%.>
Para grande parte dos observadores, há uma enorme chance de prevalecer a narrativa de Donald Trump -de que o impeachment é um golpe de Estado contra ele e de que os democratas passam os dias tentando arrumar alguma coisa que anule o resultado da eleição de 2016.>
Se a história colar, o risco é que parcela do eleitorado se irrite e acabe não votando em democratas (ou não saindo de casa para votar) na eleição presidencial de 2020.>
Justamente por isso, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, resistiu tanto a iniciar o processo.>
Desde que Trump assumiu, em 2017, integrantes das alas mais à esquerda do partido pediam que fosse iniciado um processo, seja pela interferência da Rússia na eleição e suposta conivência da campanha de Trump, seja por obstrução do Congresso nas investigações do caso, seja pelo uso do cargo para obter benefícios pessoais e receber presentes, no uso dos hotéis Trump por governos estrangeiros.>
Pelosi só iniciou o processo quando chegou à conclusão de que era inevitável, que a tentativa de pressionar o governo ucraniano a investigar o democrata Joe Biden era absolutamente inadmissível e clara o suficiente para que os americanos entendessem.>
A esperança dos democratas era que as audiências na Câmara seguissem o script do impeachment de Nixon, que renunciou antes de ser afastado, pois as revelações nas audiências levaram a perda de apoio até de republicanos.>
No caso de Trump, os democratas sabiam que não conseguiriam nunca os votos necessários no Senado para aprovar o afastamento.>
Mas apostavam que haveria revelações tão revoltantes durante as audiências que Trump perderia um número considerável de votos na eleição de 2020. Esse resultado ainda está em aberto.>
É fato que os testemunhos corroboram a denúncia do "whistleblower" e a possível obstrução de justiça. Mas, em um impeachment, fatos contam muito menos do que o contexto político.>
Não basta provar que se trata de crime passível de impeachment. É preciso ser horrível o suficiente para fazer seus apoiadores mudarem de lado. E, por enquanto, não houve revelação bombástica a ponto de fazer deputados republicanos mudarem de voto, que dizer de senadores ou eleitores.>
Após algumas semanas de processo na Câmara, ninguém parece ter mudado de posição, mostra pesquisa do jornal Washington Post de 15 de dezembro -85% dos democratas apoiam o impeachment e 86% dos republicanos são contra. Os independentes, supostamente persuasíveis, estão completamente divididos: 47% querem impeachment e afastamento, 46% são contra.>
Com o país mais polarizado do que nunca, é baixa a chance de as pessoas mudarem de ideia.>
Portanto, caso a economia continue saudável e com pleno emprego, Trump entra com vantagem para a corrida eleitoral de 2020.>
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