Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 23:38
A Câmara dos Estados Unidos aprovou na noite desta quarta-feira (18) o impeachment do presidente Donald Trump. O líder americano foi considerado culpado por abuso de poder. Na votação, a maioria dos deputados votaram a favor do processo. Ele ainda pode ser considerado culpado de obstrução do Congresso em outra segunda votação. >
Apesar do resultado da votação, Trump seguirá no cargo, enquanto espera o julgamento no Senado. Essa votação, no entanto, só deve acontecer em janeiro de 2020. Com a decisão de hoje, Trump é o terceiro presidente na história dos EUA a sofrer um impeachment.>
Antes da votação dos deputados, houve um longo debate que durou mais de dez horas. Os deputados dos partidos Democrata e Republicano expuseram seus pontos de vista a favor e contra o impeachment.>
Eram necessários 216 votos para aprovar o impeachment -maioria simples dos 431 deputados em plenário- mas o resultado ainda não é suficiente para tirar Trump da Casa Branca.>
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Ao menos dois democratas votaram a favor de Trump.>
John Shimkus, deputado republicano de Illinois, não foi votar porque está visitando o filho na Tanzânia. Ele disse que avisou Trump que a viagem estava marcada desde antes da votação ser agendada na Câmara e que não apoiaria o impeachment caso estivesse na Casa.>
Ao contrário do Brasil, onde o afastamento do chefe de governo acontece imediatamente após a chancela da Câmara, o presidente dos EUA só deixa o cargo depois do aval do Senado, hoje comandado por maioria republicana.>
A partir de janeiro os 100 senadores, 53 deles republicanos, serão os jurados das acusações chanceladas pelos deputados, em sessões comandadas pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts.>
O avanço do impeachment, porém, vai além dos trâmites legais. O processo é pano de fundo da eleição do próximo ano e tem servido de estratégia aos dois lados de um polarizado tabuleiro político.>
O desfecho na Câmara, de maioria oposicionista, já era esperado em Washington, mas servirá de reforço à narrativa dos democratas de que Trump não tem mais condições de liderar o país.>
A expectativa da oposição é de que o passo concreto dado nesta quarta-feira estimule o apoio popular em torno do tema e pressione os senadores a também votar pelo impeachment.>
Mas o roteiro tem dois problemas fundamentais: o interesse dos eleitores americanos sobre o processo diminui a cada semana e o assunto parece ter se tornado apenas mais um elemento de disputa partidária.>
Além disso, os democratas sabem, o cenário é favorável a Trump no Senado. Os republicanos têm maioria na Casa e apostam nisso para enterrar de vez o processo contra o presidente.>
Ali são necessários mais de dois terços dos votos. Ou seja, no mínimo 67 dos 100 senadores precisam votar contra Trump, possibilidade remota visto que o presidente goza de expressivo apoio dentro do seu partido e poucas defecções são esperadas.>
Analistas e políticos americanos avaliam ainda que o impeachment se tornou mais um elemento da polarização em que já estão mergulhados os EUA, sem grande potencial de reflexo no voto do eleitorado em 2020.>
Quem não gosta de Trump, dizem, usará a aprovação na Câmara como argumento de que ele abusou do cargo e deve sair, enquanto quem o defende tentará capitalizar a provável decisão dos senadores de rejeitar o processo.>
Trump tem força em sua base eleitoral, energizada com a repetida retórica de que o presidente é vítima de uma caça às bruxas inventada pelos democratas e alimentada, na sua avaliação, pela imprensa americana.>
Os bons índices da economia -com taxas de desemprego baixíssimas e crescimento do PIB (Produto Interno Bruno) em 2% mesmo com a crise global- também têm ajudado o discurso do republicano.>
As pesquisas mais recentes mostram a população dividida quanto ao impeachment: cerca de 47% querem que Trump seja removido do cargo, enquanto 46% são contra o afastamento do presidente.>
As eleições nos EUA, no entanto, não se baseiam no voto popular, mas sim no sistema indireto de Colégio Eleitoral.>
Justamente com o temor de ver o impeachment parar no Senado e ter que lidar com o fracasso político às vésperas de 2020, a cúpula democrata resistiu por muito tempo em avançar com o processo no Congresso.>
No entanto, diante das informações de que Trump havia pressionado a Ucrânia a investigar Biden e o filho dele, Hunter, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, precisou mudar de postura.>
Em 24 de setembro, ela anunciou a abertura do processo de impeachment e deu início ao inquérito contra Trump.>
A partir daí o Comitê de Inteligência da Câmara conduziu interrogatórios sobre as acusações com diplomatas, funcionários de alto escalão do governo e especialistas.>
No fim de novembro, as audiências se tornaram públicas, em uma estratégia da oposição para angariar apoio popular à tese de que Trump atuou de forma irregular quando pressionou a Ucrânia.>
E as testemunhas não decepcionaram. Em depoimentos transmitidos ao vivo pela TV, confirmaram que o presidente havia condicionado ajuda militar de US$ 391 milhões ao país do leste europeu a apurações contra os Bidens.>
A contrapartida é um dos pilares cruciais da oposição para mostrar o desvio de conduta e abuso de poder de Trump em suas relações com a Ucrânia.>
Em 3 de dezembro, o Comitê de Inteligência da Câmara divulgou seu relatório sobre o processo de impeachment.>
Em seguida, foi a vez do Comitê Judiciário começar os trabalhos para deliberar se os atos do republicano se enquadravam nas definições do Artigo 2º, Seção 4 da Constituição dos EUA, que traça as regras para o impeachment.>
A Carta estabelece que o presidente "deve ser removido do cargo através do impeachment se condenado por traição, suborno e outros altos crimes.">
O deputado democrata Jerry Nadler, presidente do Comitê Judiciário e responsável por redigir as acusações contra Trump, chegou a convidar o republicano a depor, mas ele se negou a ir ao Congresso.>
Após a elaboração dos dois artigos -ou acusações- de impeachment, o processo seguiu para o plenário da Câmara, etapa concluída com a votação desta quarta-feira.>
Trump nega qualquer irregularidade em sua relação com a Ucrânia e diz que o telefone com Zelenski foi um evento corriqueiro, sem pedidos com contrapartidas.>
Na terça-feira (17), o presidente enviou uma carta de seis páginas a Pelosi dizendo que protestava de maneira "forte e poderosa contra o impeachment", o qual ele descrevia como uma "cruzada" liderada pelos democratas.>
Nos bastidores, porém, o presidente diz querer esticar ainda mais o processo -enquanto os democratas trabalharam para acelerá-lo nas últimas semanas- já que o tempo corre contra a oposição.>
Dois dos principais pré-candidatos, Bernie Sanders e Elizabeth Warren, são senadores e estarão comprometidos no julgamento do Senado ao invés de se dedicarem à campanha nos estados, por exemplo.>
Essa é a terceira vez na história americana que a Câmara aprova o impeachment de um presidente. Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, sofreram impeachment na Câmara, mas foram absolvidos pelo Senado.>
Richard Nixon renunciou antes da votação da Câmara em 1974, ao perceber que perdia apoio entre seus próprios aliados e seria removido do comando da maior potência mundial.>
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