Publicado em 10 de agosto de 2020 às 17:14
A explosão que ocorreu em Beirute, no Líbano, no último dia 4, foi documentada em vários ângulos. Em alguns dos vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver, em poucos segundos, uma gigante bola de fogo tomar os céus para, em seguida, eclodir em uma enorme explosão. >
O impacto percorreu quilômetros da capital libanesa e destruiu casas, prédios e as imediações da zona portuária. Milhares de pessoas ficaram feridas, com queimaduras, fraturas e sangramentos decorrentes da explosão. Outras tantas podem também ter sequelas pulmonares.>
Além dos estilhaços de vidros das janelas e os escombros dos edifícios demolidos, uma poeira de partículas da explosão ainda deve pairar no ar vários dias após o incidente.>
Essa nuvem contém compostos de fibra de vidro, cimento, tijolos e tintas, entre outros, muitas vezes em partículas suficientemente pequenas para serem inaladas por pessoas próximas à explosão.>
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A uma distância menor, o gás liberado pela combustão das 2.750 toneladas de nitrato de amônio -origem do incidente-, composto altamente tóxico, também é inalado. Com isso, podem surgir diversas complicações nos pulmões daqueles diretamente atingidos ou próximos ao local da explosão.>
Em um primeiro momento, a inalação dos gases tóxicos e as altas temperaturas provocam queimaduras da mucosa nasal e da garganta. Dependendo da distância que a vítima estava da explosão no momento do evento, as queimaduras podem ser severas e provocar edemas -inchaços- também nesses órgãos.>
Em seguida, os gases e a poeira inalados provocam desidratação extrema. "É como a sensação de andar em uma estrada de terra muito seca, inalando poeira liberada no ar, multiplicada por mil, 10 mil. Essa é a secura causada pela explosão", explica o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.>
Também professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), ele compara os efeitos pulmonares da explosão àqueles descritos nos bombeiros e sobreviventes do atentado de 11 de Setembro de 2001, quando as duas torres do World Trade Center, em Nova York, foram atingidas por aviões e destruídas.>
Na ocasião, as autoridades locais recomendaram atenção à saúde pulmonar de todas as pessoas em um raio de até 5 km do incidente. "No caso da explosão de Beirute, o estrago é maior, porque o nitrato de amônio libera um gás extremamente tóxico.">
A poeira inalada pode se acumular nos alvéolos pulmonares, causando broncoespasmo -o fechamento dos brônquios. A condição pode gerar falta de ar e, se for muito grave, morte por asfixia, explica Fiss.>
"Além disso, a inflamação causada por esses gases e pelo acúmulo de poeira nos pulmões podem levar a edemas pulmonares que nós chamamos de não cardiogênicos, isto é, quando não tem relação a uma condição pré-existente. Podem deixar sequelas por toda a vida.">
Diversos estudos foram feitos para avaliar os danos no trato respiratório dos sobreviventes e de bombeiros do World Trade Center, e muitos problemas só foram informados anos após o ocorrido. Dentre os mais graves, fibrose pulmonar -endurecimento dos pulmões-, edemas e até câncer de pulmão.>
A atual pandemia de coronavírus pode agravar ainda mais as sequelas causadas pela explosão de Beirute. Em capacidade máxima, os hospitais trabalham para atender os feridos com queimaduras na pele e fraturas, casos já graves que necessitam de internação, além dos pacientes de Covid-19.>
Mas os danos nos pulmões também podem precisar de internação, e, embora alguns dos efeitos sejam notados nas primeiras horas ou dias após a explosão, outros podem surgir até semanas ou anos depois.>
Fiss recomenda atenção especial nos hospitais aos pacientes com relatos de falta de ar nas próximas semanas, pois pode ser decorrente dessa inalação de gases e de poeira. "O paciente vai precisar de tratamento extensivo, até mesmo com corticoides [anti-inflamatórios] e balão de oxigênio, se for o caso.">
Dentre os sintomas que podem surgir nas primeiras horas até os primeiros dias estão tosse e falta de ar.>
O médico ressalta a diferença no diagnóstico desse quadro para o de Covid-19: "A Covid-19 é um quadro infeccioso. Pode vir acompanhado de febre, dor no corpo, infecção generalizada. Os sintomas associados à inalação de gases tóxicos são mais agudos, de queimaduras e inflamação imediata das vias aéreas, além de broncoespasmos. As autoridades de saúde precisam ficar em alerta", finaliza.>
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