Publicado em 28 de setembro de 2024 às 12:26
É hora de parar de falar sobre o Oriente Médio estar à beira de uma guerra muito mais séria. Após o devastador ataque israelense que matou o líder do Hezbollah Hassan Nasrallah, parece que a região já foi arrastada para esse cenário. >
A série de explosões que atingiram Beirute na noite de sexta-feira (27) e na manhã deste sábado (28) foi uma das mais poderosas ouvidas em qualquer uma das guerras do Líbano, me relatou uma amiga que está na cidade.>
A morte de Nasrallah foi confirmada pelo Hezbollah em um comunicado, no qual o grupo também prometeu "continuar sua luta" contra Israel e seu apoio contínuo a Gaza e Palestina, defendendo "o Líbano e seu povo firme e honrado".>
Segundo os militares israelenses, outros comandantes do Hezbollah também foram mortos durante o que foi descrito como um “ataque direcionado” à sede do grupo em Dahieh, um subúrbio da capital libanesa.>
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Mas esse não foi o último bombardeio de Israel na sexta (27). Os militares israelenses anunciaram que continuariam atacando alvos do Hezbollah e as explosões continuaram na manhã deste sábado, com registros de fumaça no céu de Beirute. >
Durante a sexta-feira, antes dos ataques, havia esperanças, embora tênues, de que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estivesse pelo menos considerando discutir uma proposta de cessar-fogo de 21 dias. Ela veio dos EUA e da França e foi apoiada pelos aliados ocidentais mais significativos de Israel.>
Mas em um discurso tipicamente desafiador e por vezes agressivo na Assembleia Geral da ONU em Nova York, Netanyahu não falou sobre diplomacia.>
Ele disse que Israel não tinha escolha a não ser lutar contra inimigos selvagens que buscavam sua aniquilação. O Hezbollah seria derrotado — e haveria vitória total sobre o Hamas em Gaza, o que garantiria o retorno dos reféns israelenses, afirmou.>
Longe de serem "cordeiros levados ao abate" — uma frase às vezes usada em Israel para se referir ao Holocausto nazista — Israel estava vencendo, disse ainda Netanyahu. >
O enorme ataque em Beirute registrado pouco depois de ele terminar seu discurso foi um sinal ainda mais enfático de que uma trégua no Líbano não está na agenda de Israel.>
Seria viável que o ataque tivesse sido programado para dar sequência às ameaças de Netanyahu de que Israel poderia, e iria, atingir seus inimigos, onde quer que estivessem.>
O Pentágono, o departamento de defesa dos EUA, disse que não recebeu nenhum aviso prévio de Israel sobre o ataque.>
Uma foto divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro em Jerusalém mostrou Netanyahu cercado por equipamentos de comunicação no que parecia ser seu hotel na cidade de Nova York. Segundo a legenda da imagem, trata-se do momento em que ele autorizou o ataque a Beirute. >
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, defendeu as soluções para o Oriente Médio nas quais vem trabalhando por meses. Ele disse que ainda havia espaço para negociação - uma afirmação que parece vazia.>
Os americanos têm poucas vantagens para usar contra qualquer um dos lados dessa disputa. >
Eles não podem, por lei, falar com o Hezbollah e o Hamas, pois classificam os grupos como organizações terroristas estrangeiras. Com as eleições nos EUA a apenas algumas semanas de distância, a Casa Branca está ainda menos propensa a pressionar Israel do que no ano passado.>
Vozes poderosas no governo e no Exército de Israel já queriam ter atacado o Hezbollah nos dias após os ataques do Hamas em outubro de 2023. Eles argumentaram que poderiam dar um golpe decisivo em seus inimigos no Líbano. >
Os americanos os persuadiram a não seguir esse caminho naquele momento, argumentando que os problemas que tal ação poderia causar na região compensavam qualquer benefício potencial de segurança para Israel.>
Mas, no decorrer do último ano, Netanyahu adquiriu o hábito de desafiar os desejos do presidente Joe Biden sobre a maneira como Israel deve atuar no conflito. >
Apesar de fornecer a Israel as aeronaves e bombas usadas no ataque a Beirute, o presidente Biden e sua equipe foram meros espectadores de tudo que aconteceu. >
A política do líder americano no último ano, como um apoiador vitalício de Israel, foi tentar influenciar Netanyahu mostrando solidariedade e apoio, entregando armas e proteção diplomática.>
Biden acreditava que poderia persuadir Netanyahu não apenas a mudar a maneira como Israel estava agindo — o presidente americano disse repetidas vezes que o país estava impondo muito sofrimento e matando muitos civis palestinos — mas a aceitar um plano americano para o futuro que se baseava na criação de um Estado palestino independente ao lado de Israel.>
Netanyahu rejeitou a ideia de imediato e ignorou o conselho de Joe Biden.>
Após o ataque a Beirute, Blinken repetiu seu argumento de que uma combinação entre dissuasão e diplomacia havia evitado uma guerra mais ampla no Oriente Médio. Mas, à medida que os eventos fogem do controle dos EUA, ele está cada vez menos convincente.>
Grandes decisões estão por vir. Primeiro, com ou sem Nasrallah, o Hezbollah terá que decidir como usar seu arsenal de armas restante. Eles tentarão organizar um ataque muito mais pesado contra Israel? O grupo pode entender que, se não usar seus foguetes e mísseis que ainda estão armazenados, Israel vai causar ainda mais destruição do seu lado da fronteira. >
Os israelenses também devem tomar decisões com consequências importantes. Já se fala sobre uma operação terrestre contra o Líbano e, embora ainda não tenha mobilizado todas as reservas de que pode precisar, uma invasão está na agenda de Israel. >
E alguns no Líbano acreditam que, no caso de uma guerra terrestre, o Hezbollah poderia anular algumas das forças militares de Israel.>
Diplomatas ocidentais, entre eles os aliados mais fiéis de Israel, esperavam acalmar as coisas, instando Israel a aceitar uma solução diplomática. >
Eles agora observarão os eventos com consternação e também com uma sensação de impotência.>
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