Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 09:44
"É como se um interruptor fosse ligado e você instantaneamente começasse a sentir fome.">
Tanya Hall tentou parar de tomar medicamentos para emagrecer várias vezes. Mas toda vez que ela interrompe as injeções, o desejo incontrolável por comida volta. Alto e forte.>
As injeções para emagrecer, ou GLP-1, fizeram por muitos o que as dietas jamais conseguiram. Aquele zumbido constante, que os incentivava a comer mesmo quando estavam satisfeitos, foi desligado.>
Os medicamentos deram àqueles que nunca pensaram que poderiam emagrecer uma nova forma corporal, uma nova perspectiva e, em muitos casos, uma vida completamente diferente.>
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Mas você não pode continuar tomando-os para sempre, pode? Ou pode? Bem, essa é uma das perguntas que ainda precisam ser respondidas, e que ninguém sabe ao certo a resposta.>
Conhecidas por marcas como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, esses medicamentos são novos, e os potenciais efeitos colaterais do seu uso a longo prazo estão apenas começando a aparecer.>
As canetas injetáveis imitam um hormônio liberado após a alimentação, chamado GLP-1, que ajuda a controlar o apetite e prolonga a sensação de saciedade. O Mounjaro (tizerpatida) ainda atua em outro hormônio, o GIP.>
No Brasil, uma caneta de 4 doses de Mounjaro de 2,5 mg, a dose mais baixa, está à venda nas farmácias por cerca de R$ 1.400. Ou seja, continuar o tratamento por um longo período não é barato. Então, o que acontece quando você tenta parar? >
Duas mulheres britânicas, com histórias muito diferentes, mas com o mesmo objetivo — perder peso e manter a forma — contaram à BBC como tem sido a experiência delas.>
"Foi como se algo se abrisse na minha mente e dissesse: 'Coma tudo, vá em frente, você merece porque não come nada há muito tempo'.">
Tanya, gerente de vendas de uma grande empresa de fitness, começou a tomar Wegovy (semaglutida, o mesmo princípio ativo do Ozempic) para provar um ponto. Ela estava acima do peso, se sentia uma "impostora" e achava que sua opinião não era valorizada em seu setor por causa do seu tamanho.>
Será que ela seria levada mais a sério se fosse mais magra?>
No fim, ela diz que suas suspeitas se provaram corretas. Depois que começou a usar as injeções, as pessoas vinham até ela e a parabenizavam pela perda de peso. Ela sentiu que era tratada com mais respeito.>
No entanto, durante os primeiros meses de tratamento, Tanya teve dificuldades para dormir, sentia-se enjoada o tempo todo, tinha dores de cabeça e até começou a perder cabelo. Os sintomas podem não ter sido causados diretamente pela droga, mas eles estão entre os possíveis efeitos colaterais da rápida perda de peso.>
"Meu cabelo estava caindo em tufos", ela lembra. Mas em termos de peso, ela estava obtendo os resultados que esperava. "Eu tinha perdido cerca de 22 quilos.">
Agora, mais de 18 meses depois, o que começou como uma espécie de experimento se transformou em uma mudança completa de vida. Ela perdeu 38 quilos e tentou parar de tomar Wegovy várias vezes.>
Mas, em cada tentativa, em poucos dias, ela diz que come tanto que fica "completamente horrorizada".>
Ela deveria continuar com a medicação e conviver com todos os efeitos colaterais que a acompanham, ou se aventurar no desconhecido?>
A fabricante do Wegovy, Novo Nordisk, afirma que as decisões sobre o tratamento devem ser tomadas em conjunto com um profissional de saúde e que "os efeitos colaterais devem ser levados em consideração como parte desse processo".>
Interromper o uso de medicamentos para emagrecer pode ser como "pular de um penhasco", observa o clínico geral especializado em estilo de vida, Hussain Al-Zubaidi.>
"Frequentemente, vejo pacientes que interrompem o tratamento quando estão na dose máxima, porque atingiram seu objetivo e simplesmente param.">
De acordo com o Dr. Al-Zubaidi, o efeito pode ser semelhante a ser atingido por uma "avalanche ou um tsunami". A vontade de comer volta já no dia seguinte.>
Ele afirma que as evidências até o momento sugerem que, entre um e três anos após a interrupção da medicação, as pessoas recuperam uma "proporção significativa do peso perdido".>
"Algo entre 60% e 80% do peso perdido retorna.">
Ellen Ogley está determinada a não deixar isso acontecer. Ela decidiu começar a tomar medicamentos para emagrecer porque havia chegado a um "momento crucial" em sua vida. Ela estava tão acima do peso que teve que assinar um termo de responsabilidade dizendo que poderia não sobreviver a uma cirurgia vital.>
Começar no Mounjaro foi sua "última chance de acertar", diz ela. "Eu comia compulsivamente por motivos emocionais", conta. >
"Se eu estivesse feliz, comia compulsivamente. Se eu estivesse triste, comia compulsivamente. Não importava, eu não tinha filtro nenhum.">
Mas quando ela começou a usar as injeções, "tudo isso desapareceu".>
A vida sem o food noise (barulho da comida) deu a Ellen o espaço para redesenhar sua relação com a alimentação. Ela começou a pesquisar sobre nutrição e a criar uma dieta saudável que a ajudasse a nutrir seu corpo.>
Ela tomou a medicação por 16 semanas antes de começar a reduzir a dose gradualmente, diminuindo ao longo de seis semanas. Ela perdeu 22 kg.>
À medida que perdia mais peso, ela descobriu que conseguia se exercitar mais e, quando se sentia "para baixo", em vez de "ir até o armário e me entupir de comida", ela saía para correr.>
Mas quando Ellen parou de tomar Mounjaro, ela começou a ver seu peso aumentar, o que, segundo ela, "me deixou um pouco confusa".>
É por isso que o apoio adequado é crucial, diz o Dr. Al-Zubaidi. O órgão regulador de medicamentos do Reino Unido, NICE, recomendou que os pacientes recebam pelo menos um ano de aconselhamento contínuo e planos de ação personalizados após interromperem o tratamento, ajudando-os a fazer mudanças práticas em suas vidas para que possam manter o peso e, o mais importante, permanecer saudáveis.>
Mas para quem paga pelos medicamentos de forma particular, como Tanya e Ellen, esse tipo de apoio nem sempre é garantido.>
Nos últimos meses, o peso de Tanya permaneceu o mesmo e ela sente que a medicação está tendo pouco efeito. Mas ela não vai parar de tomá-la, diz.>
Ela finalmente chegou a um peso com o qual se sente confortável e, cada vez que tenta parar, o medo de recuperar o peso rapidamente se torna muito grande e ela encontra uma razão para voltar a tomar a medicação.>
"Durante os primeiros 38 anos da minha vida, eu estive acima do peso - agora estou 38 kg mais magra", diz Tanya.>
"Portanto, há uma parte de mim que sente que existe um vício que me faz continuar porque me faz sentir do jeito que me sinto, me faz sentir no controle.">
Ela para por um segundo. Talvez seja o contrário, reflete, talvez seja a droga que a controla.>
"Tudo se resume a ter uma estratégia de saída", explica o Dr. Al-Zubaidi. "A questão é: quais são as experiências dessas pessoas depois que param de usar a injeção?">
Ele está preocupado que, sem apoio adicional para as pessoas que fazem a transição, a relação pouco saudável da sociedade com a comida signifique que pouca coisa mudará.>
"O ambiente em que as pessoas vivem precisa ser um que promova a saúde, não o ganho de peso.">
"A obesidade não é uma deficiência de GLP-1", diz ele.>
De certa forma, muitas pessoas entram em uma espécie de roleta russa da perda de peso quando se trata de interromper o uso de medicamentos para emagrecer. >
Fatores como estilo de vida, apoio, mentalidade e momento certo influenciam como o futuro pós-GLP-1 se desenrola.>
Tanya continua tomando a medicação e está plenamente ciente dos prós e contras dessa decisão.>
Ellen sente que esse capítulo agora está encerrado. Ela já perdeu mais de 51 kg.>
"Quero que as pessoas saibam que a vida após o Mounjaro também pode ser sustentável", diz ela.>
A Eli Lilly, empresa que fabrica o Mounjaro, afirma que "a segurança do paciente é a principal prioridade da Lilly" e que "se envolve ativamente" no monitoramento, avaliação e divulgação de informações aos órgãos reguladores e prescritores.>
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