Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 18:45
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (19/12) uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que é parte do ajuste fiscal proposto pelo governo federal. O texto agora segue para o Senado.>
A PEC aprovada estabelece medidas para conter o gasto com supersalários, reduz repasses ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), e limita o reajuste do abono salarial, repasse previdenciário concedido anualmente a trabalhadores com renda mensal de até dois salários mínimos.>
O texto final, no entanto, limitou as economias esperadas com as mudanças no Fundeb e com o controle dos supersalários.>
A PEC foi aprovada em segunda votação com 348 votos favoráveis e 146 votos contrários. Eram necessários 308 votos a favor para a aprovação.>
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A Câmara vota ainda hoje projeto de lei que trata de mudanças no reajuste do salário mínimo e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), benefício pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.>
Na quarta-feira, já havia sido aprovado um projeto de lei que estabelece limites para gastos com pessoal e incentivos tributários, quando houver déficit nas contas públicas. O texto aprovado também possibilita congelar uma parcela das emendas parlamentares não impositivas.>
Além do pacote fiscal em votação no Congresso, o governo anunciou, em paralelo, uma reforma na tabela do imposto de renda, mas essa proposta só será encaminhada ao Parlamento em 2025.>
O objetivo das mudanças nas despesas públicas, segundo o ministro da Fazenda Fernando Haddad, é cumprir o arcabouço fiscal — regra que limita o crescimento dos gastos.>
O governo tem apresentado sucessivos anos de contas no vermelho, ou seja, está gastando mais do que arrecada, o que têm aumenta a dívida pública.>
Críticos dizem que isso aumenta a desconfiança dos investidores na solidez fiscal do governo e alimenta a alta do dólar, o que deve impactar a inflação no país. A moeda americana atingiu novo recorde na quarta-feira (18/12), quando fechou a R$ 6,26.>
Nesta quinta-feira, a moeda americana perdeu força, fechando a R$ 6,12, após intervenção do Banco Central e diante da aprovação do pacote fiscal.>
Confira as principais medidas já aprovadas do pacote fiscal e o que ficou para 2025.>
O abono salarial é um benefício de até um salário mínimo pago a trabalhadores que atendem certos requisitos.>
Um dos critérios em vigor limita o pagamento a abono pessoas que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.824).>
A proposta do governo, aprovada na Câmara, fixa uma renda de até R$ 2.640 para ter direito ao abono salarial e institui uma cláusula para que o valor seja corrigido anualmente pela inflação até chegar em 1,5 salário mínimo.>
A projeção, segundo o governo, é que isso aconteça em 2035.>
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) é um fundo que redistribui recursos para a educação básica pública.>
A proposta original enviada pelo Executivo, previa que 20% do que a União transfere aos Estados, Distrito Federal e municípios para o Fundeb deveria ser investido na educação em tempo integral. Atualmente, o recurso pode ser aplicado em outras políticas educacionais.>
O relator reduziu o montante obrigatório que deverá ser aplicada na educação em tempo integral para 10% em 2025. Com a mudança, a economia gerada deverá ser menor do que a originalmente estimada.>
A partir de 2026, Estados e municípios terão de destinar 4% de aportes próprios ao Fundeb para o ensino integral. >
Com isso, o governo federal repassa aos governos locais a responsabilidade pelo programa aos governos locais, economizando recursos.>
O pacote do governo inclui limites para os supersalários no serviço público, que ocorre quando servidores e autoridades conseguem driblar o limite constitucional, hoje em R$ 44 mil.>
Isso geralmente é feito como pagamento de benefícios enquadrados como "indenizações", que ficam de fora do teto remuneratório, algo especialmente comum no Poder Judiciário.>
Uma proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada na Câmara prevê que somente poderão ser pagos valores acima do limite quando forem indenizações previstas em lei ordinária, aplicadas nacionalmente a todos os Poderes.>
Isso visa impedir decisões administrativas, criadas por cada órgão ou instituição, criando benefícios para suas categorias.>
O texto aprovado, no entanto, teve uma mudança em relação à versão enviada inicialmente pelo governo.>
A proposta inicial falava em lei complementar em vez de lei ordinária. A diferença é que a lei complementar é mais difícil de ser aprovada. >
Além disso, permite que eventuais benefícios já previstos em leis ordinárias hoje sejam mantidos.>
As mudanças atenderam à pressão de categorias afetadas e foram criticadas por parlamentares que entenderam que elas enfraquecem a possibilidade de limitar os supersalários do funcionalismo público.>
"Com a aprovação da proposta de emenda com o texto atual, todas as resoluções do CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e do CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público] que garantem salários ilegais, inconstitucionais, com impacto de mais de R$ 12 bilhões ao ano no bolso do trabalhador mais pobre, vão ser mantidas", disse o deputado Kim Kataguiri (União-SP).>
Dentro do pacote fiscal, a Câmara aprovou na quarta-feira um projeto de lei para estabelecer travas para o crescimento de despesas com pessoal e para incentivos tributários.>
Essas travas serão acionadas se for registrado déficit primário – quando o governo gasta mais do que arrecada, considerando receitas e despesas não financeiras.>
O texto aprovado também permite o congelamento de até 15% do valor destinado a emendas parlamentares não impositivas (que não são de liberação obrigatória).>
A proposta do governo autorizava congelar até 15% de todas as emendas, mas os deputados, que controlam a destinação desses recursos, reduziram o impacto dessa medida.>
Além disso, o texto autoriza o uso de superávit de cinco fundos nacionais para pagar a dívida pública por seis anos (2025 a 2030).>
A proposta original previa oito fundos, mas foram excluídos no Congresso o Fundo da Marinha Mercante, o Fundo Nacional Antidrogas e o Fundo Nacional de Aviação Civil.>
Para o governo conseguir aprovar esse projeto de lei, houve um acordo para derrubar o Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT), antigo DPVAT, que tinha sido recriado em maio.>
Segundo a proposta do governo, alguns benefícios serão extintos, como a transferência de pensão e a morte ficta, que permite que parentes de militares desligados continuem a receber pensão, como se o militar estivesse falecido.>
Também será fixada, em 3,5% da remuneração, a contribuição do militar para o Fundo de Saúde. Além disso, será estabelecida uma idade mínima de aposentadoria para militares, aos 55 anos.>
O impacto das medidas que afetam os militares, segundo o governo, é de cerca de R$ 2 bilhões por ano.>
No entanto, Haddad afirmou na quarta-feira (18/12) que o Congresso não deve votar nesta semana o projeto de lei que altera a previdência dos militares.>
Assim, expectativa agora é de que a discussão da mudança fique para 2025, já que o recesso legislativo começa em 23 de dezembro.>
Em paralelo ao corte de gastos, o governo anunciou mudanças na tabela do Imposto de Renda a partir de 2026. Essas propostas ainda serão enviadas ao Congresso em 2025.>
Uma delas é a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Atualmente, o limite de isenção é de R$ 2.824 (dois salários mínimos).>
Além disso, aqueles que ganham de R$ 5 mil até R$ 7,5 mil mensais pagarão uma alíquota menor.>
Para compensar a queda na arrecadação com a medida, que deve ter um impacto de R$ 35 bilhões, contribuintes que têm uma renda superior a R$ 50 mil por mês vão passar a pagar um pouco mais. Será estipulada uma alíquota mínima de 10%.>
Além disso, a isenção do imposto de renda por razões de saúde será limitada àqueles que ganham até R$ 20 mil por mês.>
Não haverá mudanças nas deduções de gastos com saúde no imposto de renda, que continuam sendo permitidas em todas as faixas de renda.>
Essas mudanças, segundo Haddad, garantem que a perda estimada na arrecadação de R$ 35 bilhões seja compensada.>
O ministro da Fazenda ressaltou que o objetivo da reforma do imposto de renda é manter uma neutralidade fiscal.>
"Não visa nem aumentar e nem diminuir arrecadação, mas busca justiça tributária", declarou.>
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