Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 09:44
A economia brasileira deu novos sinais de desaceleração, com aumento de 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano, frente ao segundo trimestre, segundo novos dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (4/12).>
Em relação ao mesmo trimestre de 2024, o PIB avançou 1,8%, com crescimento puxado pela agropecuária (alta de 10,1%), indústria (1,7%) e serviços (1,3%). No acumulado de 2025, o PIB cresceu 2,4% em relação ao mesmo período de 2024.>
O dado do último trimestre — crescimento de 0,1% — indica que a maior parte do crescimento da economia brasileira neste ano aconteceu no primeiro semestre. No momento atual, a economia está em ritmo mais lento.>
Essa desaceleração do Brasil fica mais acentuada se comparada com outros países em desenvolvimento.>
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A China cresceu a um ritmo anualizado de 4,8% neste ano; a Índia está crescendo a 8,2%.>
O crescimento do PIB — que significa que um país está produzindo mais bens e serviços — geralmente está associado a uma economia mais saudável e produtiva, com elevação do bem-estar geral da população.>
Quando o PIB cresce, normalmente há mais empregos e melhores salários para todos.>
Mas esse não é exatamente o cenário vivido no Brasil atualmente. Apesar de haver mais empregos e melhores salários, muitos economistas estão preocupados que o crescimento econômico acelerado possa causar mais problemas do que benefícios ao país no longo prazo.>
Economistas ouvidos pela BBC News Brasil vêem a recente desaceleração como uma boa notícia, que pode ajudar a ajustar outros problemas econômicos atuais, como a expectativa de inflação alta e os juros altos.>
"Daqui para frente é muito melhor a gente crescer consistentemente a 2% ou 2,5% ao ano de uma forma sustentável, mas com juro baixo", afirma Mansueto Almeida, economista-chefe do banco BTG Pactual.>
A economia brasileira vem crescendo em ritmo acelerado desde o fim da pandemia de covid. Em 2021, o crescimento foi de 4,8% — em um momento em que o país se recuperava da forte contração registrada logo no começo da pandemia.>
Mas nos anos seguintes, o crescimento seguiu robusto — a um ritmo de 3% ou superior desde 2022.>
Por que o crescimento econômico era bom naquela época, mas é considerado perigoso agora por alguns economistas?>
A resposta está no desemprego, explica Almeida.>
"Quando estávamos na pandemia, a taxa de desemprego era de 14%. Então tinha muita gente desempregada que precisava ser trazida para o mercado de trabalho. Agora não. Agora o desemprego está em 5,4%", diz.>
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Esse índice de desemprego é o que alguns economistas chamam de "pleno emprego" — uma situação em que praticamente todo mundo que quer trabalhar consegue.>
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, a taxa baixa de desemprego no Brasil é uma "excelente notícia".>
Mas é justamente em momentos de pleno emprego que o crescimento econômico acelerado pode ser prejudicial.>
O aquecimento da economia faz com que as empresas precisem contratar mais empregados para suprir o aumento do consumo. Mas a oferta de mão-de-obra já atingiu o seu limite — não há mais de onde tirar trabalhadores. Com maior concorrência por trabalhadores, os salários sobem, e isso provoca um aumento geral de custos e preços. E a oferta de bens e serviços na economia não consegue acompanhar o aumento do consumo.>
Esse aumento generalizado de preços na economia é a inflação — que pode desfazer todos os ganhos vividos pela população no momento de crescimento, explica Vitória.>
"As famílias têm um bem-estar no curto prazo, mas no médio e longo prazo, a inflação tira de volta essa melhora no poder de compra que as famílias ganharam", afirma.>
Para tentar controlar todas essas variáveis, há dois grandes agentes econômicos que trabalham de forma independente entre si — o Banco Central e o governo federal.>
O Banco Central pode acelerar ou desacelerar o ritmo da economia através da taxa de juros (a política monetária) — quanto maior o índice, mais lento o crescimento. Já o governo federal pode influenciar na economia com o orçamento e gastos públicos (a política fiscal).>
Desde 2024, o Banco Central vem tentando desacelerar o crescimento econômico brasileiro com "doses cavalares" de juro alto, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).>
"A economia não desacelerou em 2024. Ela demorou muito mais para desacelerar. O Banco Central disse no final do ano que iria subir os juros mais três vezes. Isso é altíssimo em termos de série histórica e mais alto do que qualquer outro lugar no mundo", afirma.>
A desaceleração atual do PIB é um sinal de que essa política de juro alto está tendo o efeito desejado pelo Banco Central, que precisa manter a inflação abaixo de 4,5%, o teto da meta. As expectativas de inflação estão finalmente caindo e existe a esperança de que em 2026 os juros também comecem a cair no Brasil.>
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Rafaela Vitória, do Banco Inter, afirma que a economia brasileira demorou para se desacelerar porque as políticas monetária e fiscal estão indo em sentidos contrários.>
Enquanto o governo federal dava um impulso fiscal na economia, a política monetária do Banco Central tentava conter a aceleração com juros altos.>
Mansueto Almeida faz uma analogia: é como se, ao dirigir um carro, o governo estivesse apertando o acelerador, enquanto o Banco Central aperta o freio ao mesmo tempo.>
"Vimos um aumento de gasto generalizado. O governo aprovou a PEC da Transição, com cerca de R$ 200 bilhões de gastos adicionais no ano de 2023, principalmente com o Bolsa Família, que tem um orçamento por volta de R$ 70 bilhões", afirma Vitória.>
"Houve a volta da política de crescimento real do salário mínimo, que hoje não é compatível com a nossa capacidade de oferta infelizmente. Esse crescimento real do salário mínimo impacta os benefícios da previdência, principalmente pensões e aposentadoria.">
"Estamos vendo um gasto médio crescendo 5% acima da inflação, bem acima daquele teto teórico do Arcabouço Fiscal, que era de 2,5%. E isso tem turbinado a economia até mais do que a nossa capacidade. Por isso o efeito inflacionário preocupa", diz Vitória.>
Ela afirma que o impulso fiscal do governo ajudou muito no consumo das famílias e permitiu um crescimento robusto do mercado de trabalho, com queda forte no desemprego.>
Houve também melhora em alguns indicadores sociais e econômicos.>
Dados divulgados pelo IBGE esta semana mostram que a população em situação de pobreza no Brasil é a menor dos últimos 12 anos. Em um ano, entre 2023 e 2024, cerca de 8,6 milhões de brasileiros abandonaram as linhas de pobreza.>
O que acontece então a partir de agora?>
Os economistas ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que o Brasil está chegando a um momento de "pouso suave" da economia — em que a desaceleração é gradual e permite a queda dos juros.>
Essa queda de juros é fundamental tanto para melhorar o ambiente de investimentos no Brasil (empresas têm capacidade de tomar empréstimos mais baratos e investir no aumento da produtividade) como no da dívida pública (o governo federal paga menos juro na sua dívida, melhorando as contas públicas).>
Os dados de PIB — como os que foram divulgados nesta quinta-feira — são fundamentais para determinar se esse pouso vai continuar sendo suave ou não.>
Se em futuras divulgações o PIB surpreender com crescimento acelerado, isso seria um sinal de que a "dose cavalar" de juro alto, citada por Matos, não está funcionando. Espera-se então que o Banco Central adie o movimento de corte de juros hoje aguardado por todos.>
Em 2026, os economistas esperam que haverá ainda um impulso fiscal adicional para a economia brasileira, com as novas faixas de isenção de Imposto de Renda que entrarão em vigor, e com aumentos de gastos típicos de anos de eleição.>
Mas para o ano seguinte, em 2027, os três economistas ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que haverá discussões sobre novos ajustes fiscais a serem feitos pelo governo do candidato que ganhar a eleição de 2026.>
"Eu tenho um otimismo com cautela. Eu acho que com a economia crescendo e a atual situação no mercado de trabalho são pontos muito positivos para se comemorar. É possível a gente corrigir o rumo sem gerar uma crise econômica, como aquela que vimos em 2015 e 2016, com desemprego e recessão muito grandes", disse Rafaela Vitória, do Banco Inter.>
"É um copo meio cheio. Eu estou otimista com a atual situação. Mas se não corrigirmos o rumo fiscal, podemos ter uma crise em breve.">
Mansueto Almeida, do BTG Pactual, também vê com bons olhos o patamar atual de crescimento, mas alerta para os desafios.>
"Se o Brasil ficar com o crescimento do PIB de 2,5% ao ano de forma consistente, com inflação na meta e juro baixo, isso é um cenário muito bom, porque 2,5% de crescimento do PIB significa um PIB per capita que cresce a 2% ao ano. Mas o grande desafio é desacelerar o crescimento do gasto, trazer a inflação para baixo e ter um cenário de crescimento com juro baixo.">
Gráficos por Laís Alegretti e Caroline Souza, da equipe de jornalismo visual da BBC News Brasil>
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