Publicado em 15 de abril de 2021 às 15:58
- Atualizado há 5 anos
O governo do presidente Joe Biden anunciou nesta quinta-feira (15) a expulsão de dez diplomatas russos dos EUA e a imposição de novas sanções econômicas contra Moscou, em resposta à interferência de Kremlin nas eleições americanas e às operações de hackers de países em agências governamentais e empresas privadas. >
Segundo o anúncio da Casa Branca, os EUA impuseram sanções contra 32 entidades e indivíduos russos por campanhas de desinformação com o objetivo de interferir nas eleições presidenciais de 2020, em que Biden foi eleito ao derrotar o republicano Donald Trump.>
O governo americano também se juntou a União Europeia, Reino Unido, Austrália e Canadá e anunciou medidas contra oito pessoas e entidades associadas à ocupação russa na Crimeia, exigindo que o país de Vladimir Putin "cesse imediatamente seu acúmulo militar e retórica inflamada".>
A região anexada pela Rússia em 2014 tem sido palco de movimentações militares recentes que acentuaram os sinais de uma crise diplomática envolvendo Moscou, Washington, Kiev e a Otan (a aliança militar liderada pela Casa Branca).>
>
"O governo Biden deixou claro que os Estados Unidos desejam um relacionamento estável e previsível com a Rússia. Não achamos que precisamos continuar em uma trajetória negativa", diz o comunicado divulgado pela Casa Branca. "No entanto, também deixamos claro pública e privadamente que defenderemos nossos interesses nacionais e imporemos custos para as ações do governo russo que buscam nos prejudicar.">
Além das acusações de interferência nas eleições, os EUA acusam a Rússia de se envolver em "atividades cibernéticas maliciosas", usar a "corrupção transnacional" para inflluenciar outros governos, agir contra dissidentes e jornalistas, minar a segurança países e regiões aliadas dos americanos e "violar princípios consagrados do direito internacional".>
Biden também assinou um decreto em que instrui o Tesouro americano a proibir instituições financeiras dos EUA de participarem de negociações envolvendo novos títulos públicos que sejam emitidos pela Rússia a partir de 14 de junho.>
Os títulos públicos são um mecanismo usados por governos em todo o mundo para se financiarem. Assim, a medida anunciada por Washington tem como objetivo declarado asfixiar economicamente a Rússia, algo que as sanções já impostas anteriormente foram incapazes de conseguir.>
A ordem executiva ainda designa como alvos seis empresas russas que teriam dado suporte a ataques cibernéticos orquestrados pelo serviço de inteligência de Putin. Esta foi a primeira vez em que o governo americano acusou formalmente o Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR) pelo ataque, no passado, à empresa de software SolarWinds.>
Considerada uma das ações de espionagem cibernética mais audaciosas de que se tem notícia, a inserção de vírus em aplicativos da SolarWinds permitiu que hackers se infiltrassem em órgãos do governo americano e empresas do porte da Microsoft, o que pode levar ao roubo de informações secretas por um longo período.>
O conjunto de sanções também é apontado pelo governo Biden como uma resposta aos relatórios da inteligência americana que acusam a Rússia de ter oferecido recompensas ao Taleban para matar tropas da coalizão liderada pelos EUA no Afeganistão. Nesta quarta-feira (14), Biden divulgou um plano para a retirada de soldados americanos e da Otan do país e "acabar com esta guerra eterna".>
Antes mesmo do anúncio, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantou que Moscou consideraria ilegais as sanções impostas pelos EUA e que reagiria com base no princípio da reciprocidade, respondendo na mesma moeda.>
Após tomar conhecimento das novas medidas, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse que as sanções contradizem o desejo declarado de Biden de normalizar os laços com Moscou.>
"Advertimos repetidamente os Estados Unidos sobre as consequências de seus passos hostis, que aumentam perigosamente a temperatura do confronto entre nossos dois países", disse Zakharova, durante entrevista coletiva.>
Esse comportamento agressivo sem dúvida receberá uma rejeição decisiva. Precisamos reconhecer que alguém precisa pagar pela degradação em nossas relações bilaterais. A responsabilidade pelo que está acontecendo é inteiramente dos Estados Unidos.>
A porta-voz disse ainda que o embaixador dos EUA em Moscou, John Sullivan, já havia sido convocado para consultas no Ministério das Relações Exteriores. "Eu dificilmente teria dito isso antes, mas posso dizer agora: não será um encontro agradável para ele", afirmou.>
Na última terça-feira (13), Biden e Putin conversaram por telefone para, segundo o Kremlin e a Casa Branca, tratarem piora da crise envolvendo as atividades militares em torno da Ucrânia. Na ocasião, o americano alertou que os EUA agiriam para proteger seus interesses, mas também levantou a perspectiva de uma reunião de cúpula entre os dois líderes.>
Ainda não está claro quando ou se essa reunião vai acontecer, mas o anúncio das novas sanções se estabelece como um obstáculo nas relações entre os dois presidentes, que já vinham protagonizando altercações desde que Biden tomou posse, em janeiro.>
No mês passado, durante entrevista à emissora ABC, Biden prometeu que Putin sofreria as consequências das ações contra os EUA e, ao ser questionado se considerava o líder russo um assassino, assentiu e disse que sim.>
Putin, por sua vez, reagiu com ironia. "Sempre observamos nos outros nossas próprias qualidades e pensamos que eles são iguais a nós", disse, antes de propor um debate ao vivo com seu homólogo americano algo que parece longe de acontecer.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta