Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 08:28
O Brasil teve o desempenho no Pisa, principal exame internacional em educação, bem menos afetado pela pandemia do que o resto do mundo. No entanto, o país continua com resultados bem abaixo da média dos outros países na prova, que avalia conhecimentos em Matemática, leitura e ciências. >
Mesmo os estudantes brasileiros mais ricos tiveram desempenhos abaixo da média internacional — e muito abaixo de estudantes com o mesmo nível socioeconômico em países com o mesmo perfil do Brasil. >
O Pisa, que avalia o desempenho de estudantes de 15 e 16 anos, é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 81 países, entre membros e parceiros da organização. A avaliação mais recente deveria ter sido feita em 2021, mas foi adiada um ano (para 2022) por causa da pandemia de covid-19. Os resultados foram divulgados nesta terça (5/11). >
A média de pontos do Brasil (veja os gráficos abaixo) foi de 379 em Matemática, 93 pontos abaixo da média da OCDE (de 472 pontos). >
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Em leitura, os resultados brasileiros foram de 410 pontos, 66 pontos abaixo da média (de 476). >
O Brasil teve 82 pontos a menos do que a média (de 485) em ciências, com um resultado de 403 pontos. >
Em comparação com os resultados de 2018, a média de resultados nos países caiu 10 pontos em leitura e quase 15 pontos em Matemática. >
A tendência de queda é anterior à pandemia de covid-19, aponta o relatório, mas a pandemia contribuiu para o agravamento da tendência. >
A Alemanha, por exemplo, teve uma queda na média de 25 pontos em Matemática, enquanto os EUA tiveram uma queda de 13 pontos na área. >
Já o Brasil teve uma queda de 5 pontos em Matemática, de 3 em leitura e de 1 em ciências. >
"É uma queda bem menor do que a dos outros países. Muito pequena e considerada estatisticamente irrelevante pela OCDE", diz Olavo Nogueira Filho, diretor executivo da ONG Todos Pela Educação. "É um resultado bem melhor do que esperávamos, considerando que o Brasil foi um dos países que ficou mais tempo com as escolas fechadas.">
No Brasil, 74% dos alunos relataram que o prédio da escola onde estudam ficou fechado por mais de três meses devido à covid-19. Em média, o índice foi de 51% dos estudantes relatando o mesmo cenário nos países da OCDE.>
Segundo Nogueira, tudo indica que, se não fosse a pandemia, o Brasil teria tido uma melhora nos resultados. >
Países que tiveram melhora no desempenho foram exceção. É o caso de Singapura, que teve os melhores resultados em todos os quesitos (575 em Matemática, 543 em leitura, e 561 em ciência). Em comparação com 2018, isso foi um aumento de 6 pontos na média em Matemática, uma queda de 7 em leitura e um aumento de 10 em ciência. Já o Japão teve uma melhora de 9 pontos em Matemática, 12 em leitura e 17 em ciência.>
Analisando um cenário mais amplo, diz a OCDE, é possível dizer que o Brasil tem tido um desempenho praticamente estagnado em Matemática, leitura e ciência desde 2009. >
Com a queda mais acentuada dos outros países entre 2018 e 2022, o Brasil subiu algumas posições no ranking: seis posições em Matemática (de 71º para 65º); cinco posições em leitura (de 57º para 52º) e duas posições em ciências (de 64º para 62º).>
No entanto, o país continua com um desempenho muito baixo, diz Nogueira, e em uma posição muito abaixo de outros países com características parecidas — renda per capita, investimento em educação, etc. >
"Você tem países mais desenvolvidos que estão estagnados também há muito tempo, mas em um patamar alto. Nós estamos estagnados em um patamar muito baixo", diz Nogueira. "Mesmo que a gente faça uma leitura positiva (sobre o Brasil não ter caído tanto com a pandemia), esses patamares brasileiros são inaceitáveis.">
Como em todas as outras edições da avaliação, realizada desde 2000, os resultados de 2022 mostram que o status socioeconômico dos alunos está diretamente relacionado ao desempenho no exame em Matemática. Essa área do conhecimento foi o foco da edição do ano passado. O fator socioeconômico é responsável por 15% da variação no desempenho dos alunos tanto no Brasil quanto na média da OCDE. >
No entanto, mesmo os alunos mais ricos no Brasil tiveram um desempenho em Matemática abaixo da média da OCDE. >
O perfil social, cultural e econômico do Pisa é calculado de tal forma que todos os estudantes que realizam o teste podem ser comparados com alunos do mesmo nível socioeconômico independentemente do país onde vivem.>
Os alunos brasileiros em todos os estratos sociais tiveram um desempenho em Matemática abaixo dos alunos com perfil socioeconômico parecido em países com o mesmo perfil do Brasil, como Turquia e Vietnã, diz o relatório da OCDE. >
E mesmo o desempenho dos 25% mais ricos não ficou acima da média de 472 pontos da OCDE (de alunos de todos os estratos sociais). Em comparação, os 25% mais ricos da Turquia e do Vietnã fizeram mais de 500 pontos em Matemática. >
"No Brasil, temos não só um problema na educação pública, mas também na educação privada", diz Nogueira. >
"Por exemplo, a atratividade da carreira docente, a formação inicial dos professores, a formação de diretores escolares. De modo geral, isso é muito parecido para o sistema público e o sistema privado — com exceção das escolas de ultra elite, os 1% mais ricos", afirma. >
Segundo Nogueira, esses dados — similares aos de anos anteriores — demonstram que muitos problemas educacionais brasileiros também estão presentes “no grosso das escolas particulares”. >
"É uma falácia acreditar que basta estar numa escola particular que o resultado vai superior ao da escola pública. Isso não é verdade", diz. >
O Pisa é o principal exame internacional em educação e mede, a cada três anos, o desempenho de estudantes de 15 e 16 anos — idade em que a maioria dos alunos caminha para o fim do ciclo da educação básica.>
A medição ocorre por meio de um teste computadorizado de duas horas de duração nas competências de leitura, Matemática e ciências.>
O objetivo não é medir conhecimentos específicos (por exemplo, se os alunos sabem aplicar determinada fórmula matemática), mas sim se as escolas são capazes de prepará-los para a vida adulta, de acordo com Andreas Schleicher, coordenador do Pisa. >
Na prática, o que o exame avalia é se esses estudantes são capazes de entender plenamente um texto, formular, empregar e interpretar conhecimentos matemáticos em diferentes contextos e compreender conceitos, dados e fenômenos científicos que lhes permitam engajar-se na sociedade como um "cidadão letrado".>
Na edição de 2022, cerca de 690 mil estudantes fizeram a prova no mundo todo, uma amostra que representa 29 milhões de adolescentes de 15 anos. >
No Brasil, 10.798 alunos de 599 escolas completaram a prova de Matemática. Eles representam cerca de 2,3 milhões de alunos de 15 anos (cerca de 76% da população total com esta idade).>
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