Publicado em 5 de junho de 2020 às 10:55
A violência policial que detonou os protestos nos Estados Unidos pode ser a face mais visível do racismo no país, mas as relações entre brancos e negros são marcadas também por uma profunda desigualdade social. >
No início da pandemia do novo coronavírus, chamou a atenção no país o fato de a taxa de mortalidade entre negros ser quase o dobro em relação à dos brancos.>
Afastadas as especulações médicas iniciais, uma das principais conclusões é que parcela desproporcional de trabalhadores negros teve que continuar trabalhando em entregas, fábricas de alimentos, supermercados e demais setores essenciais que pagam salários mais baixos.>
Essa exposição maior ao vírus teria contribuído para que cerca de 23% dos óbitos pela Covid-19 fossem de negros, embora eles representem menos de 13% da população.>
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Como agravante, a proporção de negros sem acesso a planos de saúde é próxima a 10%, quase o dobro da registrada entre brancos não asiáticos ou latinos.>
Pesquisa do Pew Research Center revela que 44% das famílias negras tiveram perda de empregos ou salários durante a atual pandemia. Entre os brancos, essa taxa foi de 38%. Mesmo antes do coronavírus, o desemprego entre negros já era o dobro em relação aos brancos.>
Trabalhando em atividades mais mal remuneradas, as famílias americanas negras obtêm renda anual que não chega a dois terços daquela das brancas: US$ 41 mil (R$ 205 mil) ante US$ 71 mil (R$ 355 mil), respectivamente.>
Segundo o Economic Policy Institute, a diferença salarial entre brancos e negros acentua-se desde os anos 2000, mesmo entre pessoas com nível educacional semelhante.>
Ano após ano, essa disparidade fez com que, em termos de riqueza acumulada (imóveis e investimentos), os brancos tenham dez vezes mais patrimônio do que os negros.>
Parte disso também é reflexo da dificuldade maior que os negros têm em obter financiamentos para imóveis, empréstimos para novos negócios ou refinanciar dívidas.>
A proporção de famílias negras com riqueza zero ou negativa (com dívidas maiores que o patrimônio) subiu de 8,5% para 37% entre 1980 e 2016. Já a fatia de famílias latinas com patrimônio líquido zero ou negativo diminuiu 19%.>
No período, 40% mais latinos puderam comprar casas próprias; e 45% de suas famílias têm hoje uma residência. Entre os negros só 44% têm casa própria, proporção que aumenta para 72% entre os brancos, segundo o relatório Racial Wealth.>
Os últimos 40 anos também coincidem com uma forte estagnação da renda dos mais pobres nos EUA e de um brutal aumento dos rendimentos dos 10% e do 1% mais ricos, majoritariamente brancos.>
Em 2018, por exemplo, apenas quatro negros e dez latinos apareceram listados como executivos da Fortune 500.>
Também em nenhum outro país do mundo houve uma inversão tão intensa da distribuição de renda como nos EUA das últimas décadas, levando a uma estagnação ou perda de renda proporcionalmente maior para os negros.>
De 1980 para cá, o valor médio dos rendimentos brutos dos 50% mais pobres cresceu meros US$ 200 (R$ 1.000), para US$ 16,6 mil ao ano.>
Ao mesmo tempo, a renda média anual bruta dos 10% mais ricos dobrou (para US$ 311 mil); e a do 1% no topo triplicou (US$ 1,3 milhão).>
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