Publicado em 26 de novembro de 2020 às 15:33
Enquanto espera a chegada do democrata Joe Biden à Presidência dos EUA, a Rússia fez uma exibição de força militar numa de suas áreas de atrito com Washington: mísseis hipersônicos e sistemas de defesa contra armas intercontinentais. >
O teste mais vistoso ocorreu no mar Branco, no Ártico, na madrugada desta quinta (26). Pela segunda vez em dois meses, a fragata Almirante Gorchkov disparou um míssil hipersônico Tsirkon contra um alvo no mar, a 450 km de distância.>
Trata-se de uma das "armas invencíveis" divulgadas com fanfarra pelo presidente Vladimir Putin em 2018 que, depois do ceticismo ocidental, começaram a se materializar. Duas delas já estão em operação, o míssil ar-ar Kinjal e o planador Avangard, ambos hipersônicos e com capacidade nuclear .>
Já o Tsirkon é um modelo antinavio com ogivas convencionais, que atinge Mach 9 (11 mil km/h) e tem capacidade de manobra para desviar de defesas antimíssil.>
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Analistas militares russos dizem que ele tem capacidade nuclear, e quando foi propagandeado pela TV russa em 2019, era mostrada uma simulação na qual submarinos o disparavam contra o Pentágono e a residência presidencial de Camp David.>
Com menos detalhes, o Ministério da Defesa russo também informou nesta quinta que lançou seu mais recente modelo de míssil destinado a abater mísseis balísticos notadamente os intercontinentais que carregam ogivas nucleares.>
O teste ocorreu, também pela segunda vez desde outubro, no campo de provas de Sari-Chagan, no Cazaquistão.>
Na véspera, os russos haviam testado um míssil de cruzeiro antinavio na baía Pedro o Grande, no extremo oriente do país, um dia depois de que um destróier de Moscou quase abalroou um outro americano, expulsando-o de suas águas territoriais.>
Os testes são corriqueiros, mas também têm sua divulgação calibrada pelo ambiente político.>
Putin ainda não congratulou Biden pela vitória sobre o republicano Donald Trump, alegando que o resultado final ainda está em aberto. É um jogo de cena: o democrata é considerado mais hostil a Moscou, e o russo quer esperar para ver sua jogada de abertura uma vez que esteja instalado na Casa Branca.>
Isso acontecerá no dia 20 de janeiro, e 15 dias depois vence o Novo Start (sigla inglesa para Tratado de Redução de Armas Estratégicas), o último acordo de controle de bombas atômicas em vigor no mundo.>
Trump havia deixado dois outros tratados sobre o tema, e as negociações para estender o Novo Start fracassaram devido à insistência americana em primeiro ter a China como participante e, depois, querendo estender um congelamento de um ano em novas armas nucleares de todos os tipos.>
Considerando que os americanos jogaram sujo, dado que eles colocaram em operação uma nova bomba tática para submarinos, com menor poder de destruição e fora do escopo do Novo Start, os russos deram de ombros às exigências.>
Assim, é bastante previsível que Biden começará sua relação com Putin justamente por aí, até porque ele disse na campanha que pretendia negociar a extensão do tratado.>
Nesse contexto, os testes são um lembrete de que, embora não exista mais a paridade relativa dos tempos da Guerra Fria, posto que a União Soviética e os EUA temam a ascensão da China, a Rússia ainda está viva no jogo do ponto de vista tecnológico.>
Isso fora o fato de ter um arsenal nuclear equivalente ao americano, com os chineses bem atrás Pequim tem cinco vezes menos ogivas operacionais.>
A lista de questões em aberto entre Washington e Moscou é grande e espinhosa. Biden tenderá a fortalecer o relacionamento com a Otan, a aliança militar que se opõe ao Kremlin e foi desprezada por Trump, e tem ligações com a Ucrânia, país que vive um conflito congelado com separatistas pró-Rússia e teve a Crimeia anexada por Putin em 2014.>
O interregno de poder na Casa Branca também dá tempo a Moscou de completar o gasoduto Nord Stream 2, que aumentará sua capacidade de fornecimento de gás natural à Alemanha e outros países europeus, aumentando a dependência energética do continente.>
Trump, contrário à iniciativa, criou sanções para tentar punir os sócios do negócio. Quase todo pronto, ele seguiu apesar da pressão política na Alemanha, após o envenenamento do líder opositor Alexei Navalni, que foi internado em Berlim em setembro e sobreviveu.>
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