Publicado em 3 de outubro de 2024 às 06:37
Maj-Gen Hossein Salami, comandante-chefe do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), estava em frente a um grande cartaz em uma sala de guerra enquanto usava um telefone para ordenar o lançamento de cerca de 200 mísseis balísticos contra Israel na noite desta terça-feira (1/10), de acordo com um vídeo publicado pela mídia iraniana.>
O cartaz mostrava fotos de três homens cujas mortes o Irã buscava vingar com o ataque: o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, que foi morto em Teerã em julho em um ataque que o Irã atribuiu a Israel; o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah; e o comandante das operações da Força Quds do IRGC, Brig-Gen Abbas Nilforoushan. >
Nasrallah e Nilforoushan foram mortos na semana passada, em um ataque aéreo israelense em Beirute. >
O IRGC afirmou que mísseis hipersônicos levaram 12 minutos para chegar a Israel e atingiram com sucesso alvos, incluindo três bases aéreas israelenses e a sede da agência de espionagem Mossad.>
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No entanto, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que a maioria dos mísseis foi “interceptada por Israel e uma coalizão defensiva liderada pelos Estados Unidos”, e que houve um “pequeno número de acertos” no centro e sul de Israel.>
Logo após o ataque, um grande cartaz foi erguido na Praça Palestina, em Teerã, apresentando mísseis voando em direção a edifícios em forma de Estrela de Davi e as palavras "O começo do fim do Sionismo".>
O Irã parecia demonstrar contenção após o assassinato de Haniyeh, o líder político do Hamas. No entanto, a inércia se tornou uma fonte de humilhação quando Israel desferiu uma série de golpes devastadores contra o Hezbollah, aliado regional mais próximo e antigo do Irã, que culminou no ataque aéreo de sexta-feira (28/9) que matou Nasrallah e Nilforoushan.>
Armas, treinamento e financiamento iranianos foram fundamentais para a transformação do Hezbollah na força armada e ator político mais poderoso do Líbano, desde que o IRGC ajudou a estabelecer o grupo na década de 1980.>
Os líderes iranianos esperavam que uma guerra de atrito com o Hezbollah ajudasse a desgastar o exército israelense, que ainda luta contra o Hamas em Gaza.>
Eles também confiavam no Hezbollah com seu enorme arsenal de foguetes e mísseis para servir como dissuasor contra ataques diretos de Israel às instalações nucleares e de mísseis do país.>
O presidente Masoud Pezeshkian, eleito em julho, acusou Israel de tentar provocar o Irã em uma guerra regional que também envolveria os EUA.>
"Também queremos segurança e paz. Foi Israel que assassinou Haniyeh em Teerã", disse durante uma visita ao Catar.>
"Os europeus e os EUA disseram que, se não agíssemos, haveria paz em Gaza em uma semana. Esperávamos que eles trouxessem paz, mas as matanças aumentaram.">
Muitos conservadores linha-dura no Irã estavam desconfortáveis com a falta de ação do país contra Israel.>
Vários comentaristas na TV estatal – que é controlada pelo Líder Supremo, aiatolá Ali Khamenei, e pelo IRGC – argumentaram que a decisão de não buscar vingança pelo assassinato de Haniyeh havia encorajado o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a atacar os interesses e aliados do Irã no Líbano.>
Após o ataque com mísseis de terça-feira, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, Maj Gen Mohammad Baqeri, afirmou que o tempo de "paciência e contenção" havia acabado.>
"Atacamos locais militares e de inteligência em Israel e deliberadamente nos abstivemos de atingir locais econômicos e industriais", disse ele. "No entanto, se Israel retaliar, nossa resposta será mais contundente.">
O ataque com mísseis reflete uma preocupação crescente entre os líderes iranianos de que permanecer em silêncio após os ataques de Israel os retrataria como fracos e vulneráveis, tanto domesticamente quanto aos olhos de seus aliados regionais no chamado "Eixo da Resistência", que inclui o Hezbollah e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.>
Irã e Israel têm travado uma guerra nas sombras por décadas, aderindo a uma política de “sem guerra, sem paz”. No entanto, agora parece que esse status quo está terminando.>
Israel prometeu responder severamente, com Netanyahu alertando que “o Irã cometeu um grande erro e pagará por isso”.>
Também há indícios de uma mudança de tom e estratégia por parte dos EUA.>
Em abril, o presidente Joe Biden pediu contenção após as forças israelenses e lideradas pelos EUA terem abatido a maioria dos 300 drones e mísseis que o Irã lançou contra Israel em retaliação a um ataque aéreo ao consulado iraniano na Síria, que matou vários comandantes importantes do IRGC. >
Israel atendeu ao pedido dos EUA e respondeu lançando um míssil que atingiu uma bateria de defesa aérea iraniana no centro do Irã.>
Mas desta vez o conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, alertou que haveria "consequências graves" para o ataque iraniano e que os EUA "trabalharão com Israel para garantir que isso aconteça".>
A mídia israelense afrimou que Israel estava se preparando para ataques retaliatórios contra o Irã "dentro de dias" e que eles teriam como alvo "locais estratégicos", incluindo as instalações vitais de petróleo do país.>
As autoridades também alertaram que as instalações nucleares do Irã seriam atingidas se o país concretizasse sua ameaça de retaliar contra Israel.>
Altos funcionários iranianos afirmaram que consideram sua retaliação pelo assassinato de Haniyeh, Nasrallah e Nilforoushan encerrada, a menos que sejam provocados ainda mais.>
O ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, também disse que havia transmitido uma mensagem aos EUA através da embaixada suíça em Teerã alertando para “não intervir”.>
Ele advertiu: "Qualquer terceiro país que ajudar Israel ou permitir que seu espaço aéreo seja usado contra o Irã será considerado um alvo legítimo".>
Os EUA têm cerca de 40 mil soldados estacionados no Oriente Médio, muitos deles implantados no Iraque e na Síria. Essas tropas podem ser ameaçadas por milícias xiitas apoiadas pelo Irã em ambos os países.>
O Irã agora deve se preparar para a resposta israelense e esperar que sua aposta produza os resultados esperados.>
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