Publicado em 9 de setembro de 2022 às 10:04
Terminada a final do Mundial de surfe de 2021, o campeão Gabriel Medina colou o rosto no do vice-campeão Filipe Toledo e avisou: "Sua hora vai chegar". Chegou.>
Toledo, 27, é o novo campeão do mundo. O brasileiro voltou à decisão neste ano e confirmou o domínio estabelecido ao longo de toda a temporada. As baterias decisivas foram disputadas contra o também brasileiro Italo Ferreira, 28, em formato melhor de três, nas ondas de Lower Trestles, em San Clemente, nos Estados Unidos.>
Morador de San Clemente, o paulista de Ubatuba mostrou bom conhecimento do mar californiano. Na primeira perna da disputa, conseguiu boas ondas para a direita, entre elas uma de nota 7,50 e outra de nota 7,63, com um total de 15,13. Italo respondeu com um 8,00 e achou que tivesse conseguido a virada no final, mas levou um 6,97, totalizou 14,97 e socou a água em frustração.>
Na segunda disputa de 35 minutos, Filipe manteve seu bom fluxo para a direita, com manobras fortes e bem controladas, conseguindo um 8,67 e um 7,83, totalizando 16,50. Ferreira tentou responder com seu ótimo jogo aéreo, conseguindo um 8,60 para a esquerda. Sua segunda alta mais nota foi um 6,33, com total de 14,93.>
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"Eu não sei, eu não sei", disse o novo campeão, que caiu no choro dentro da água, tentando explicar seu sentimento. "É algo que eu nunca senti antes, obviamente. Acho que é alívio. Foram nove anos sacrificando muita coisa, é difícil deixar os filhos para trás. O título mundial era um das metas mais importantes, mas ver o trabalho de Deus por meio da minha família é o melhor.">
Quarto brasileiro a levar o título, Filipe se junta ao tricampeão Medina (2014, 2018 e 2021), a Adriano de Souza (2015) e ao próprio Italo (2019), também campeão olímpico em 2021. E dá sequência ao domínio estabelecido por seu país no surfe masculino, um movimento batizado de "Brazilian Storm".>
De 2014 para cá, a "tempestade brasileira" só não fez o campeão no biênio 2016/2017, com triunfo do havaiano John John Florence - em 2020, o campeonato foi cancelado por causa da pandemia de Covid-19. Agora, chegou a vez de Toledo, que teve uma trajetória acidentada até encontrar a paz consigo mesmo e o troféu que tanto buscava.>
Filho do surfista Ricardo Toledo, que marcou sua presença na elite do esporte entre os anos 80 e 90, Filipe logo se mostrou bastante talentoso e esteve na briga pelo título mundial pela primeira vez em 2015. Depois disso, teve momentos de fúria com juízes - o que chegou a lhe render uma suspensão - e enfrentou um quadro de depressão, algo sobre o que fala abertamente.>
"Passei por momentos realmente difíceis, 2019 foi um ano bem complicado para mim, psicologicamente, emocionalmente. E percebi que falar sobre a situação com alguém, um profissional, é fundamental. Foi o que me ajudou e hoje me ajuda a identificar que posso estar voltando para um comportamento ruim, triste, depressivo. Hoje, sei manobrar isso e passar por cima dessa situação", afirmou, em entrevista à Folha de São Paulo, em julho.>
Àquela altura, ele já havia estabelecido larga vantagem na classificação de 2022 e acabara de vencer a etapa do Rio de Janeiro pela quarta vez. "Tranquilo", como definiu repetidamente, disse estar no "melhor momento" de sua vida, dando muito crédito à mulher, Ananda, 28: "Se não fosse ela, não sei o que aconteceria".>
Próximo aos filhos - Mahina, 5, e Koa, 4 - sempre que possível, minimizou um dos gatilhos da depressão, a distância da família nas viagens que exige o circuito. E observou uma relação direta entre o próprio sorriso e as notas dadas pelos juízes, aqueles mesmos para os quais destinara sua fúria.>
"A gente vê pelos resultados. Eu reparei que é quando estou confortável que os resultados aparecem. É estar bem comigo mesmo, antes de mais nada", explicou. "Tenho estado tranquilo e bem confortável.">
Confortável, em casa, pertinho de toda a família, Filipe chegou à etapa final da liga mundial em primeiro lugar -e com o pai, a mulher e os filhos na praia. Isso lhe permitiu aguardar na final enquanto Kanoa Igarashi, Italo Ferreira, Ethan Ewing e Jack Robinson disputassem o direito de desafiá-lo pelo título.>
Italo, que estava em quarto no ranking, derrubou inicialmente Igarashi, em reedição da final olímpica de Tóquio. Em seguida, passou por Ewing e Robinson. Mas não resistiu àquele que havia construído a melhor campanha ao longo da temporada.>
No ano passado, era Medina quem estava nessa posição, na liderança, confirmada no triunfo sobre Toledo. Ausente de boa parte do Mundial de 2022 justamente para dar atenção à sua saúde mental, Gabriel elogiou o talento do então vice-campeão, apostou nele no Finals desta temporada e declarou sua torcida sem pudor. Então, Filipe cumpriu a profecia do amigo.>
TATIANA CAI NA ESTREIA, E GILMORE É OCTOCAMPEÃ>
Terceira colocada no ranking, a brasileira Tatiana Weston-Webb, 26, estreou contra a quinta, a australiana Stephanie Gilmore, 34, que havia batido a quarta, a costa-riquenha Brisa Hennessy, 22. Conseguiu boas ondas, mas acabou perdendo por 15,30 a 14,87 na soma das duas melhores notas.>
No finalzinho da bateria, a gaúcha precisava de um 7,30 para deixar a rival para trás. Encontrou uma onda alta para a direita, executou três manobras sólidas, manteve o equilíbrio e comemorou o que via como sua passagem para a semifinal. Ganhou um 6,87.>
"Estou muito feliz em relação a como surfei. Tinha a certeza de que tinha conseguido a nota. Era uma onda volumosa, fiz manobras grandes, e os juízes não acharam o que eu achei, o que acontece a toda hora no nosso esporte. Mas ninguém vai tirar de mim o que fiz", afirmou.>
A experiente Gilmore foi adiante e derrubou também a segunda da classificação, a francesa Johanne Defay, 28. Na final em melhor de três com a líder do ranking, a pentacampeã Carissa Moore, 30, do Havaí, venceu por 2 a 0.>
Foi o oitavo título da australiana. Ela deixou para trás a australiana Layne Beachley, hepta entre 1998 e 2006, tornando-se a mulher mais vencedora da história do surfe.>
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