PrEP e PEP: entenda como funciona a prevenção combinada no combate ao HIV

Infectologistas explicam como a combinação de diferentes estratégias ao uso do preservativo pode prevenir o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)

Prep: prevenção combinada no combate ao HIV

A PrEP é o uso diário de antirretrovirais para prevenir e reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV. Crédito: Shutterstock

Dia 1º de dezembro é o Dia Mundial de Combate a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). No mês, acontece a campanha Dezembro Vermelho, que tem como objetivo fortalecer as medidas de prevenção, além de alertar a população sobre a doença, sua prevenção e a importância do diagnóstico precoce.

Hoje, 38 milhões de pessoas vivem com HIV/Aids no mundo. Em 2021, 650 mil pessoas morreram em decorrência da doença, sendo 13 mil delas no Brasil. Segundo o Relatório Anual do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), divulgado em julho, com o título “Em perigo”, o risco de novas infecções pela doença dobrou nos últimos 20 anos. Apesar dos tratamentos eficazes e das ferramentas para prevenir a doença, detectar e tratar infecções oportunistas também é importante.

Ainda não existe uma vacina capaz de prevenir a infecção pelo HIV nem a cura para a Aids. Por outro lado, graças a inúmeros avanços nos últimos anos, existem medicamentos e terapias altamente eficazes para serem utilizadas antes ou depois do contato da pessoa com o vírus, que impedem a infecção, o desenvolvimento da Aids ou a transmissão da doença. A prevenção combinada no combate ao HIV e a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) é uma realidade. 

PREP

O tratamento preventivo para HIV chamado de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicado para pessoas que não vivem com o HIV, é uma das estratégias. "A PrEP consiste em mais uma estratégia de profilaxia ao vírus do HIV, com uso diário de antirretrovirais para prevenir e reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV, em populações com maior exposição ao vírus", explica a infectologista Marina Dias, da Rede Meridional/Kora Saúde.

O tratamento é feito com o uso diário e contínuo de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina, em um único comprimido), que apresentam composição similar aos utilizados no tratamento do vírus. Estudos mostram que sua eficácia na prevenção ao HIV é alta. A droga é fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

É necessário que o paciente faça acompanhamento regular com consultas mensais no início do tratamento e, após, consultas semestrais. "A PrEP consiste no uso de dois antirretrovirais e, como qualquer medicação, pode ter efeitos colaterais. Na maioria das vezes, eles são leves, como náusea e diarreia, no início do uso e com boa tolerância. Mas, em menor número de pessoas, pode ter efeitos colaterais com toxicidade renal e hepática", explica Marina Dias. O medicamento começa a fazer efeito entre 7 e 20 dias de uso.

A médica explica que, antes de iniciar o tratamento, o paciente deve passar por uma consulta médica detalhada, onde é avaliado, por exemplo, o quadro de meningite, de pneumonia ou de infecções oportunistas. "Caso isso aconteça, deve ser tratado antes de ser iniciado o tratamento. Também deve ser trabalhada a adesão, como o paciente se comporta e se ele tem estrutura para manter o tratamento contínuo e tomar a medicação regularmente. Avaliar se ele faz uso de outras medicações, para fazer a melhor escolha do tratamento em vista de possíveis comorbidades", diz Marina Dias.

O comprimido auxilia na prevenção do HIV, mas não tem efeito para prevenir outras ISTs, por isso ele não substitui o uso da camisinha durante a relação sexual. "A camisinha é uma das formas mais seguras e simples para prevenção de ISTs, do ponto de vista médico não existe documentação de problemas envolvendo uso de preservativo", ressalta a médica. 

A infectologista reforça a importância para que as estratégias de prevenção as ISTs sejam utilizadas de forma combinada. "As estratégias devem ser combinadas, pois nenhuma é 100% segura. A PrEP é apenas para o vírus HIV, não previne outras ISTs como a gonorreia, a sífilis e a cancro mole, por exemplo. A gente tem que combinar a estratégia, principalmente com vacinação – hoje há vacina para hepatite A e hepatite B – e a vigilância, recomendando sempre a sorologia", conta Marina Dias. Os estudos sobre a PrEP são contínuos. Após a comprovação da eficácia, cientistas buscam o desenvolvimento de novas formas de prevenção ao HIV.

PEP

A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é um recurso emergencial para pessoas que possam ter sido expostas à infecção, seja por situações como relações desprotegidas, rompimento da camisinha, violência sexual, entre outras. "Ela funciona através do uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir o HIV em situação em que exista o risco de contágio", diz a infectologista Martina Zanotti, do Vitória Apart Hospital.

Qualquer pessoa pode usar essa medicação que também é disponibilizada gratuitamente pelo SUS. "Em qualquer situação em que exista o risco de contágio, como violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com sangue), é recomendado a utilização da PEP", diz Martina Zanotti.

A médica explica que o medicamento deve ser tomado o mais rápido possível, de preferência nas primeiras duas horas após a exposição de risco e no máximo em até 72 horas. "Após esse período, não está estabelecido o benefício do PEP e seu uso não deve ser feito", alerta. São utilizados comprimidos que fazem parte do tratamento comum do HIV: tenofovir + lamivudina e dolutegravir durante 28 dias. 

A PEP também não substitui o uso de camisinha na relação sexual. "Pois não é capaz de combater outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis", diz a infectologista Martina Zanotti. Também é importante que as pessoas façam o teste do HIV, já que a grande maioria das pessoas não apresentam os sintomas no início do quadro. "O diagnóstico precoce e o tratamento oportuno são ferramentas fundamentais para controle das doenças", finaliza Martina Zanotti.

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