• Sirleide Stinguel

    Sirleide Stinguel é especialista em sexualidade humana, pós graduada em terapia sexual na saúde e educação. Graduanda em Psicologia.

Precisamos falar sobre a sexualidade da mulher na menopausa

Publicado em 19/10/2023 às 21h00
Precisamos falar sobre a sexualidade da mulher na menopausa

Precisamos falar sobre a sexualidade da mulher na menopausa. Crédito: Shutterstock

A sexualidade da mulher é complexa e multifatorial. Enquanto funcionamos como um painel de controle de um avião - com inúmeros botões e ignições, todos respondendo a uma torre de comando que precisa ter ordens compreendidas e interpretadas -, a sexualidade dos homens é mais ou menos como um painel de um fusca: ligou, funcionou....

Não à toa que muitas mulheres enfrentam dificuldades nesta área da vida, principalmente durante o climatério e após a menopausa. Pensando nisso, convidei a Dra. Mayumi Noda, ginecologista especializada em hormônios na menopausa, cirurgia e estética íntima, para um "papo-calcinha" sobre "Menopausa e Sexualidade". Entre os assuntos, um se sobressai: como passar por essa fase tão temida pelo universo feminino.

Adianto que o primeiro passo é desmistificar esse bicho-papão criado como limitador da feminilidade e da sexualidade da mulher. Conheço mulheres que estão bem mais felizes sexualmente na menopausa do que antes. O que faz a diferença nesse processo é como olhamos para ele.

Tem a rotina, a sobrecarga de obrigações, as relações sociais e as questões emocionais que influenciam na libido feminina. De forma hormonal, a chegada no climatério vem como uma "montanha-russa", também as afetando sexualmente.

Dra. Mayumi salienta que chamamos de menopausa a última menstruação da mulher. O diagnóstico é feito de forma retroativa, ou seja, a mulher precisa estar há 12 meses sem menstruar para considerar a data da menopausa. Porém, segundo a especialista, a experiência que ela terá nesse novo momento começa bem antes, com o início do climatério.

A idade média para a chegada da menopausa nas mulheres brasileiras é de 50 anos. Pode ser que esse dado mude em censos futuros, visto que mulheres têm entrado cada vez mais cedo nesse processo. Isso significa que esses sinais começam a aparecer entre os 40 e 45 anos.

SINTOMAS

É importante destacar que o poder de interferência na libido feminina não é a menopausa, mas sim os sintomas gerados nessa fase primária, como os famosos fogachos (ondas de calor), enxaquecas, alterações de humor, sintomas depressivos que se agravam, alterações corporais - mesmo em pacientes ativas -, dificuldade de concentração, alterações de sono e dores pelo corpo, entre outros pontos. 

Mayumi também ressalta que a queda de níveis hormonais provoca alterações estruturais, como ressecamento da pele, perda de cabelo e alterações na área genital, como ressecamento, flacidez e dores durante a relação sexual. O clitóris pode ficar menos exposto, menos sensível e menos responsivo, fazendo o caminho para o orgasmo ficar difícil. Mas não é o fim da sexualidade feminina. Tem várias opções para restaurar esses episódios e até melhorar a resposta sexual.

Para esses casos, a reposição hormonal é uma forte aliada na redescoberta do prazer. Quando feita dentro do que chamamos janela de oportunidade - entre 5 a 10 anos após a menopausa -, ajuda a paciente no alívio de todos os sintomas. E, claro, manter os gatilhos de desejo psicológicos aflorados será um bom diferencial.

Para muitas mulheres essa é uma fase de descoberta e um momento de autoconhecimento corporal e novas sensações. Descobrir novas zonas erógenas, conversar de forma aberta com o (a) parceiro (a) sobre o que está sentindo e, claro, buscar auxílio multidisciplinar para tratar os fatores que podem influenciar nesta dinâmica: psicólogos, terapeutas sexuais e psiquiatras.

Vale destacar: se uma mulher antes da menopausa sente pouco ou nenhuma libido, problemas de relação com a parceria, dores no ato sexual ou outros sintomas, não é a reposição hormonal que resolverá o problema sozinha.

Com esse cuidado e atenção, é possível apostar em tratamentos como exercícios íntimos (pompoarismo, kegel e fisioterapia), laser e radiofrequência - que auxiliam no rejuvenescimento vaginal -, Botox, que pode ajudar em casos de vaginismo, e reposição de outros hormônios, como a ocitocina.

A menopausa não é um atestado de óbito da sexualidade feminina. É um período de redescobrir quem somos e como podemos sentir prazer nessa nova fase da vida. 

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