• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Savannah: o gato mais caro do mundo. Saiba como ter um

Publicado em 23/05/2023 às 08h01
Horus também é da quarta geração F4

Amon Rá também é da quarta geração F4. Crédito: Divulgação

Quem gosta de felinos e anda em busca de um exemplar da raça Savannah, saiba que é possível adquiri-la no Brasil, no Gatil Reserva Lucky Stone (@luckystonecats), em Valinhos, São Paulo, o único do país. Mas até o gatinho chegar a sua casa, é um longo caminho, por isso a coluna É o bicho conversou com seus proprietários, com uma apaixonada pela raça e uma médica-veterinária para saber o que envolve esta raça.

Tudo começou em 1986, quando a gatinha doméstica da americana Judee Frank deu à luz a um gato híbrido, resultado do cruzamento com um Serval Africano. A fêmea recebeu o nome de Savannah e, alguns anos depois, deu à luz três filhotes. Mas só em 2012 que a raça Savannah passou a ser reconhecida oficialmente pelo TICA (The International Cat Association).

É por essas singularidades, explica a criadora de gatos e escritora Anna Julia Dannala, filha dos proprietários do Gatil Reserva Lucky Stone, que a raça Savannah é considerada uma das mais raras e caras do mundo.

“Na verdade, os Savannahs F1 chegam a custar R$ 140 mil, já os F5, por exemplo, chegam a custar R$ 30 mil, ambos sem incluir preço de transporte e impostos de importação”, explica.

Segundo ela, há muitos motivos por trás do preço dos Savannahs.“Os exemplares são caros e o criador precisa fornecer um alojamento adequado para seus gatos, estrutura, grades, jaulas, gramados, baias, lagos, enriquecimento ambiental simulando o seu habitat natural, bem como uma alimentação adequada. Os machos não castrados marcam território e brigam uns com os outros. Por isso, precisam de seus próprios espaços, e essas construções têm um custo alto. Além disso, são estéreis até a terceira geração. Na quarta, muito raramente são férteis. Já na quinta, quase todos são férteis e da sexta pra lá, todos são férteis”.

Anna Julia ressalta que outro motivo que torna os gatos Savannah tão caros é o custo para alimentá-los. “Servais e Savannahs da primeira geração comem exclusivamente carne e ossos e presas inteiras como pintinhos e ratos, e os das gerações posteriores, além de precisarem de uma ração da mais alta qualidade sem grãos e sem transgênicos, necessitam também de carne e ossos”.

Outra questão importante, que explica o valor da raça, é que obter filhotes da primeira geração pode levar anos. “E ainda existe um grande risco de o Serval nunca se aproximar de uma gata para acasalar, podendo até tentar matá-las”.

A criadora de gatos informa, ainda, que um gato doméstico tem o tempo gestacional muito menor do que um serval, isso faz com que nasçam muitos filhotes prematuros, mesmo nas gerações mais distantes de Savannah. “Os criadores precisam ficar com os gatinhos 100% do tempo, manuseando-os desde recém-nascidos e alimentado-os com mamadeira para garantir que sejam dóceis e amáveis com os humanos. Se os deixarmos com a mãe Savannah podem se tornar muito ariscos”.

Por isso, a partir do momento que se escolhe essa profissão de "criador de híbridos", Anna Julia garante que não se pode mais viver como humano. “Se torna uma ‘vida de gato’, não temos horário pra dormir, às vezes dormimos duas horas por noite, às vezes não dormimos, às vezes passamos à noite de hora em hora dando mamadeira para os filhotes, não podemos sair de casa por muitas horas, nem passear, nem viajar. Eles não aceitam outras pessoas, somente a família, os criadores”, garante.

E para completar, ela ressalta também a necessidade de considerar os gastos com suplementos, vitaminas, médico-veterinário, vacinas, federação, registros, entre outras coisas. “Por isso, o valor de um Savannah é bem alto”.

Geração de Savannahs

Os Savannahs são divididos por F, que significa fundação ou filial (geração), e os números determinam a distância que o Savannah está de seu ancestral selvagem, o Serval.

“O Savannah conforme vai se distanciando do serval vai ficando mais doméstico, tanto em aparência quanto em temperamento e tamanho. É assim: o F1 é filho de serval; o F2 é neto; o F3 é bisneto, e assim por diante, até chegar a oitava geração (F8), que consideramos a última da raça. De uma geração para outra muda tamanho, comportamento, temperamento, aparência, alimentação, criação, requisitos, raridade e preço”, ressalta Anna Julia.

Ela explica, ainda, que os gatos da raça, em todas as gerações, são altos e magros com belas marcações pintadas e exóticos. “Mas embora os gatos Savannah das gerações próximas F1-F3 sejam muito maiores do que os gatos comuns, não significa que os Savannahs das gerações F4-F8 são pequenos. Assim como acontece nos humanos, onde tamanho é individual, alguns Savannahs podem ser maiores ou menores em cada geração”, alerta.

A criadora de gatos lembra, também, que os Savannahs podem pesar de 4 até 18 quilos. Sendo este último para os da geração F1 e o segundo geralmente para os F5-F8.

Os machos às vezes são mais pesados que as fêmeas, mas existem fêmeas pesadas. Além disso, os Savannahs devem ser mais altos do que pesados, portanto, mesmo uma Savannah de peso mais leve parecerá maior que um gato comum devido às suas orelhas altas, corpo, pescoço e pernas longas.

Quanto mais próximo ao seu ancestral Serval estiverem mais enérgico o gato será, explica Anna Julia. “O vínculo que o F1 e o F2 (e às vezes, o F3) cria com sua família é incrivelmente forte, o que pode ser muito gratificante e também desafiador. Mas é bom lembrar que eles não aceitam mudanças e, portanto, visitas ao médico-veterinário e férias, por exemplo, nem sempre são um momento agradável para eles, se não forem ensinados a passear com frequência. Os sons e movimentos que um Savannah de primeira geração faz são exclusivos da raça. Eles podem miar como um pássaro, fazer vários miados como um gato, são muito fortes fisicamente e seu silvo é como de uma cobra. No geral, eles podem ser um animal de estimação maravilhoso para aqueles que estão preparados e comprometidos. Os Savannahs F1, F2 e F3 são os mais caros devido aos desafios que os criadores enfrentam ao tentar produzi-los”.

Alguns exemplares, segundo ela, se dão bem com crianças pequenas, outros não. Savannahs F1 a F3 costumam odiar colo, mas são muito carinhosos no chão. Amam passear de peitoral, coleira e guia e adoram brincar com água, sabem nadar. Os Savannahs das gerações intermediárias (F4 e F5) e posteriores (F6, F7 e F8) são mais fáceis de se encaixar ao estilo de vida doméstico e têm preços mais razoáveis.

"Nos referimos a essas últimas gerações como sendo de temperamento 'canino'. Gostam de conhecer várias pessoas ou de se envolver nos eventos de suas famílias. São mais facilmente treinados e também gostam de passear de peitoral, coleira e guia e brincar com água. São menos fortes fisicamente, portanto, mais indicados para crianças pequenas e adoram colo"

"Nos referimos a essas últimas gerações como sendo de temperamento 'canino'. Gostam de conhecer várias pessoas ou de se envolver nos eventos de suas famílias. São mais facilmente treinados e também gostam de passear de peitoral, coleira e guia e brincar com água. São menos fortes fisicamente, portanto, mais indicados para crianças pequenas e adoram colo"

Anna Julia Dannala

Para finalizar, Anna Júlia lembra que a expectativa de vida de um Savannah é de 20 anos para as gerações mais distantes e 25 anos para as mais próximas.

Cinco Savannahs na mesma casa

A analista de sistemas Claudia Caroline Souza da Costa, que mora em Lages, Santa Catarina, adquiriu seu primeiro Savannah em 2018, proveniente do gatil de Anna Julia. “Na época eu procurava por algo que mais se aproximasse do felino selvagem, até que cheguei a essa raça, mas não encontrava lugar para adquiri-la. Para mim, o que existia era a cor tradicional, da onça-pintada. Até que achei o gatil em Valinhos e descobri que existem Savannahs de outras colorações. E como queria algo bem exótico, escolhi um de olhos azuis, o Ganesha (F4). Como era filhote, foram quatro meses de espera, mas quando ele chegou conquistou todos nós, pois era muito doce. E ele adorava passear comigo pelas ruas e com isso, infelizmente, pegou uma doença (PIF) e acabou falecendo, embora tenhamos lutado muito por sua vida. Foi muito triste”, conta.

Mas Claudia Caroline explica que já tinha comprado também a Kali (F4). “Só que fiquei tão abalada com a morte de Ganesha, que em um primeiro momento quis desistir de trazê-la. Até que me acalmei, e resolvi ficar com ela, que veio com uma outra personalidade, mais forte, e escolheu minha filha mais velha como sua tutora”, conta.

Depois de Kali, a analista de sistemas acabou vendo duas fêmeas nas redes sociais do gatil e acabou entrando em contato e adquirindo a Nefertiti (F4). 

"É uma gata muito territorialista, tudo é dela, ela manda, come primeiro, é briguenta, mas é bem querida quando quer. E ela escolheu a minha filha Maria Luiza para ser companheira dela. Na verdade, nos dois casos, isso foi induzido, porque cada uma queria o seu, e a gente tinha combinado assim"

"É uma gata muito territorialista, tudo é dela, ela manda, come primeiro, é briguenta, mas é bem querida quando quer. E ela escolheu a minha filha Maria Luiza para ser companheira dela. Na verdade, nos dois casos, isso foi induzido, porque cada uma queria o seu, e a gente tinha combinado assim"

Claudia Caroline

Só que como Claudia Caroline e a família amam os Savannahs, ela procurou de novo o gatil. “Eu sempre quis um macho. E eles tinham um na cor tradicional e foi assim que adquiri o Amon Rá (F4), que é extremamente doce, querido, carinhoso, fofo, atencioso. E ele tinha que me escolher, então as meninas ficaram um pouco afastadas e o contato dele para tudo era comigo. Dito e feito, ele me escolheu como a humana dele. Finalmente estávamos cada uma com o seu, mas a raça é muito viciante, e assim veio também o Hórus (F4)”, conta.

Mas como Claudia Caroline queria muito um de gerações mais próximas, resolveu adquirir o Akenathon (F2), totalmente branco. “Eu o conheci sem que ele tivesse aberto os olhos. É importante ressaltar que o F4 é mais doméstico, é a quarta geração, é mais doce, fácil, tranquilo de adaptação chegando com cinco ou seis meses. Já o F2 precisa chegar ao lar com no máximo 60 dias, porque o sangue selvagem dele é muito maior, é neto de serval. Ele precisa chegar nesse tempo para reconhecer a família e quem é a mãe. Então, o isolei de todo mundo, fiquei muito perto dele, e fui fazendo a sua alimentação, basicamente carne e ração. Mas depois ele não aceitou mais a ração. Por isso, é o único que recebe alimentação diferenciada, 50% da porção diária precisa ser cartilagem, codorna moída ou pescoço de frango, e o restante é dividido em três partes, um terço de coração de boi, outro de vísceras, como o fígado, e o outro de carne vermelha, frango, suíno e peixe. Ele é um animal muito forte, tem nove meses, por isso dorme separado, mas é extremamente ciumento comigo e as brincadeiras às vezes são mais estabanadas. Sou muito feliz convivendo com minha família humana e de savannahs”, conclui.

Cuidados básicos

A médica-veterinária, especializada em medicina felina e oncologia felina, Erica Baffa, explica que por ser uma raça mais recente e rara, ela ainda está sendo estudada em relação às particularidades e às predisposições a doenças genéticas ou congênitas. “Segundo estudos, não há nada específico em relação à predisposição a doenças. Por exemplo, alguns gatos de raças como Persa têm predisposição a doenças renais, a Maine Coon a doenças cardíacas, e assim por diante. O Savannah ainda não sabemos, isso vai levar tempo de avaliação e estudo”.

Mas, segundo ela, por herdarem muitas características físicas do serval, um gato selvagem, é importante que o tutor garanta um espaço com todos os recursos naturais que necessitam para que possam desenvolver suas atividades diárias e viver com qualidade de vida. 

"Tendo isso, os Savannahs conseguem realizar tarefas que desenvolvam suas aptidões, instinto caçador, inteligência e condicionamento físico. É uma raça que possui energia, porte físico resistente e interesse em atividades que exigem muita interação"

"Tendo isso, os Savannahs conseguem realizar tarefas que desenvolvam suas aptidões, instinto caçador, inteligência e condicionamento físico. É uma raça que possui energia, porte físico resistente e interesse em atividades que exigem muita interação"

Erica Baffa

Erica Baffa explica, ainda, que embora os gatos Savannah possam ser mais resistentes, não estão imunes à desenvolver doenças como todos os felinos, renais, oncológicas , cardíacas, Leucemia felina (FELV) ou vírus da imunodeficiência felina (FIV), complexo respiratório, micoplasmose, enfim precisam também de cuidados preventivos com médicos- veterinários, preferencialmente especializados em felinos”, conclui.

Confira os cuidados necessários para ter um Savannah

  • É uma raça de baixa queda de pelo, por isso requer menos cuidados do que a maioria. Não precisam ser escovados, mas gostam. As unhas devem ser aparadas. Verifique suas orelhas com certa frequência, para evitar otites. 

  • Necessitam de bastante exercício e brincadeiras para desestressar, não ficarem entediados e não se tornarem destrutivos

  • São saudáveis e devem receber as mesmas visitas e tratamentos preventivos monitorados pelo médico-veterinário, assim como os outros gatos domésticos.

  • O fator mais importante para manter a saúde de um Savannah é a alimentação, que precisa ser rica em proteínas, minerais e o mais natural possível.

  • Os Savannahs F1 podem viver em apartamentos grandes desde sejam levados para passear de coleira com frequência, pelo menos duas vezes por semana, para que não fiquem estressados ou entediados e destruam a casa. Precisam ver coisas novas e viver aventuras. É mais trabalhoso, mas é possível.

  • Os Savannahs da terceira geração para lá são bem melhores para viverem em apartamentos, mesmo que os passeios não sejam tão frequentes, são mais caseiros e tranquilos. 

Cinco curiosidades sobre a raça

  • Amam água, adoram brincar com ela e sabem nadar e pescar.

  • Tem personalidade de cachorro. Companheiro, busca objetos, gosta de passear de coleira.

  • São extremamente inteligentes, podem aprender truques, comandos, como abrir portas, armários e torneiras.

  • São ótimos saltadores. Podem pular até 3 metros de altura.

  • São sociáveis com outras espécies de animais, mas são conhecidos por escolher uma pessoa só da família para terem um vínculo mais estreito e carinhoso.

Conheça o gatil

  • Único do Brasil a criar todas as gerações de Savannah, desde 2012.

  • Possui 1,2 mil metros quadrados de área construída com tudo o que é necessário para o bem-estar dos Savannahs.

  • As negociações podem ser virtuais. Durante o processo, o tutor pode acompanhar o crescimento do filhote até o momento da entrega através de vídeos e fotos. Os filhotes são enviados por avião, carga viva, para o mundo todo, o frete é por conta do comprador. Também há possibilidade de entrega através de carro ou quem preferir pode vir retirá-lo no gatil.

  • O primeiro Savannah do gatil, o Leo, chegou em 2012. É o principal padreador. Ele veio do gatil A1 Savannahs. Também foram compradas matrizes/fêmeas de vários países dos melhores gatis, começando das gerações mais distantes até as fêmeas da primeira geração.

  • Em 2022, o gatil iniciou a especialização na criação de Savannahs F1, quando adquiriram o primeiro Serval, o Faraó Tutankamon, dando início à criação de Savannahs F1. 

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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