Vera Holtz traz "Ficções" para Vitória em três sessões esgotadas

Premiado espetáculo, baseado em best-seller israelense escrito por Yuval Noah Harari, será apresentado no Teatro Universitário (Ufes) durante o fim de semana

Vera Holtz em cena do espetáculo

Vera Holtz em "Ficções": premiada peça chega ao Estado neste fim de semana. Crédito: Ale Catan

Uma das montagens mais premiadas do ano, "Ficções" finalmente chega a Vitória, com sessões no Teatro Universitário (Ufes), sexta (14), sábado (15) e domingo (16), após arrancar elogios e aplausos em sua turnê pelo país. O burburinho em torno da peça é tanto que os ingressos já estão esgotados para todos os dias de apresentação.

Parte do sucesso se dá à entrega de Vera Holtz, que acabou de levar o Prêmio Shell de Melhor Atriz (um dos vários de sua vitoriosa carreira). Em um emaranhado jogo de cena, a artista interpreta inúmeros personagens, como ela própria (dialogando com a plateia) ou mesmo um "homo sapiens fêmea", elemento que costura uma narrativa sobre a capacidade de criar e acreditar em ficções.

O texto contou com adaptação de Rodrigo Portella e teve como base o livro "Sapiens, Uma Breve História da Humanidade", do pensador israelense Yuval Noah Harari. Em jogo, a história da humanidade e suas ficções coletivas. Portella utilizou trechos do livro e os adaptou para a realidade da montagem, trazendo uma dimensão mais pessoal para as questões levantadas por Harari

No palco, há também a presença do músico Federico Puppi, com quem a atriz interage em vários momentos, fazendo com que a trilha sonora (criada por Puppi) vire um dos principais elementos da encenação. Vera, sempre valorizando o trabalho do colega, costuma dizer que se trata de um "dueto entre a música e a palavra".

Em conversa com HZ, Vera Holtz, ao ser questionada, não concordou em padronizar um "homo sapiens fêmea" como elemento de quebra de paradigma. "A mulher está quebrando paradigmas e a gente tá nessa vibe totalmente sintonizada com os tempos atuais. A peça narrada por uma mulher, mais que nunca, está alinhada aos tempos atuais", pontua, dizendo que "Ficções" é trabalhada em um formato que torna o público como um dos elementos centrais da história.

"A dramaturgia da nossa obra é dividida em duas 'geografias': o palco e o público. Por isso sempre digo que somos fisgados por eles. Tive uma preparação intensa para o espetáculo, que exige muita energia, tanto de corpo quanto de voz", enfatiza.

DIFERENÇAS

Federico Puppi, também participante do bate-papo, afirmou que "Ficções" não retrata a diferença entre verdade e não verdade, como muitos podem pensar. "O texto aborda o sistema de crenças e como elas se tornam ficções coletivas. Isso não tem a ver com a veracidade em nome de uma informação", avalia, sendo complementando por Holtz. "Explora a capacidade de criar essas narrativas e crer coletivamente. Fazemos uma reflexão sobre a estrutura do pensamento do homem e não um julgamento. Se a realidade é ficção, a ficção é a nossa realidade", destaca, complementando o tema após pensar mais um pouco.

Vera Holtz e Federico Puppi em cena na peça

Vera Holtz e Federico Puppi em cena na peça "Ficções". Crédito: Ale Catan/Divulgação

"A nossa obra discute exatamente o que é real ou ficção. Essa questão de dualidade, do tipo, o que é verdade e mentira, o que é feio e o que é mal, não são questões levantadas na peça, porque a gente não tem julgamento. Se você parte do princípio de que tudo é narrativa e toda narrativa é inventada pela humanidade, como dinheiro, leis, religiões, idiomas e todas as ideologias, tudo é inventado. Cabe a cada cultura criar os seus mitos, verdades e mentiras", filosofa.  

"Ficções" tem uma narrativa fragmentada e também pode ser pensada como um convite para a plateia construir e interpretar o texto conforme suas realidades.

"Tem algumas pontuações que a gente nem percebe. A gente também ouve muito do público informações do tipo, 'Vera, a medida que você estava apresentando e formulando as perguntas, e trazendo o público para a reflexão, eu, até um certo momento, não entendi, mas, depois, quando realmente compreendi, me alinhei com vocês, e expandi minha consciência do que realmente estava acontecendo. Trouxe para a minha realidade e consegui entender grandes questões que a peça estava nos convidando a refletir'", complementa a atriz.

FICÇÕES, com Vera Holtz e Federico Puppi
Quando: Sexta (14), sábado (15) e domingo (16)
Onde: Teatro Universitário (Ufes). Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória
Horários: 20h (dias 14, sexta, e 15, sábado) e 17h (domingo, com intérprete de libras)
Ingressos:  esgotados para os três dias de apresentações.

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