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Por que os discos de vinil estão fazendo tanto sucesso entre os jovens?

Para a geração pós-anos 2000, a agulha caminhando sobre as ranhuras dos discos é tão comum quanto dar play no Spotify

Sara Ohnesorge (estagiária)

Residente em Jornalismo / [email protected]

Publicado em 29 de novembro de 2025 às 07:00

HZ explica o hype dos vinis entre aqueles que só viam os discos nas prateleiras dos pais e avós

Com a proposta de aprimorar a qualidade sonora de canções, os discos de vinil chegaram ao mercado em 1948 conquistando todos os amantes de música. Também chamados de Long Play, ou LP, os vinis fizeram artistas investirem em horas de estúdio para que os fãs pudessem se sentir mergulhados nos instrumentos de suas produções - quase como se estivessem junto com eles na hora das gravações.

Quase oito décadas separam o começo dos LP’s dos dias de hoje. Do CD até o Spotify, a ação de ouvir música pelos discos ficou adormecida, porém com o tempo contado. Os jovens da nova geração cavaram a fundo e resgataram a memória de algo que eles não haviam vivido, mas que agora determinam quem eles são e qual seu estilo de vida.

Como explicar o hype dos vinis entre adolescentes e os jovens adultos, aqueles que só viam os discos nas prateleiras dos pais e avós?

Nostalgia que tem nome

A sensação de querer voltar no tempo e reviver aquela viagem, aquela rotina pós escola ou assistir os desenhos da infância é chamada de nostalgia, uma saudade de sensações boas atreladas a memórias afetivas.

Quando essa “saudade” é misturada com admiração por uma série de objetos, artistas e músicas que não é contemporâneo a quem sente, o sentimento muda de nome: anemoia.

Sentir que pertence a uma época diferente ou de viver no tempo errado fortalece a emoção da busca por se conectar. Na busca de construção de identidade, o jovem incorpora tudo que ele acredita que faz sentido com seus valores e com o que ele busca ser - isso inclui músicas e costumes de uma época que ele não viveu.

Desapegados, mas ao mesmo tempo apegados

Beto Tiussi, dono da loja Vinilmania em Vitória
Beto Tiussi, dono da loja Vinilmania em Vitória Crédito: Fernando Madeira

Beto Tiussi é comerciante de vinis desde a década de 80. Ele já foi dono da famosa loja Tarkus, em Campo Grande, Cariacica, e agora é um dos sócios da Vinilmania, no Centro de Vitória. 

Veterano no mundo dos LP's, ele observa que o aumento de adolescentes e jovens procurando discos tem uma relação bem curiosa: ainda que essa nova geração seja taxada como desapegada do mundo, eles agora procuram algo para cuidar, como os vinis.  

Vinil está fazendo sucesso entre os mais jovens
Vinil está fazendo sucesso entre os mais jovens Crédito: Fernando Madeira

Pertencionismo e digitalidade

Na consolidação da própria identidade, os jovens pegam valores do passado que consideram relevantes e significativos e os incorporam à sua vivência atual.

Existe algo que envolve todo esse processo de uma forma sutil, mas poderosa: a música. A psicóloga Adriana Müller explica que ela ajuda nessa construção, na medida que reforça os valores de determinada época, fazendo parte de uma memória coletiva que o jovem acessa e atualiza.

“A geração atual precisa se sentir pertencente a um grupo de pessoas que gostam das mesmas coisas que eles. Então, normalmente, é um grupo de pessoas que compreende a realidade de uma forma muito similar, que tem valores que os jovens querem incorporar nessa identidade”, complementa.

Além disso, a sensação de ter o produto consumido em mãos (literalmente) torna a experiência cultural mais proveitosa e real. Em uma geração que cresceu e se acostumou com o que é virtual - que apenas se vê - , é até difícil se lembrar de quais músicas ouviu nas plataformas. A geração Z está preferindo sentir as páginas dos livros e ter em mãos a capa do seu álbum preferido enquanto escuta a discografia do artista.

Para a geração pós-anos 2000, a agulha caminhando sobre as ranhuras dos discos é tão comum quanto dar play no Spotify

O vinil também é resgate afetivo em jovens adultos

Para a geração pós-anos 2000, a agulha caminhando sobre as ranhuras dos discos é tão comum quanto dar play no Spotify

‘O bom não morre’

Oldair Christ, dono de banca de vinil
Oldair Christ, dono de banca de vinil Crédito: Acervo Pessoal

Oldair Christ comercializa e coleciona vinis desde 2013, quando os LP’s começaram a voltar a fazer sucesso. Ele é dono de uma banca em Jardim da Penha, Vitória, e vende apenas discos usados, a partir de R$10. Além do seu próprio negócio, o colecionador também trabalha em ações que comercializam vinis, como a Feira de Antiguidades, na Rua da Lama.

Assim como Beto, Oldair também percebeu um aumento no número de jovens procurando objetos analógicos. De câmeras fotográficas até brinquedos antigos, ele nota que a busca por um grupo com interesses comuns levam a nova geração a investir em discos.

Além dos LP’s, os jovens também estão apostando em gêneros musicais que foram febre nos anos 70 e 80, como o rock clássico, soul, punk rock e o MPB no Brasil.

Eu acho que o bom não morre, né? Apesar de existirem sons que já não batem com a questão digital e eletrônica, os jovens curtem esses sons e bandas antigas

E com a volta do disco, esses artistas novos ajudam a nova geração a se curtir e ter um bem daquele artista que eles tanto gostam”, completou Oldair.

Dicas para quem quer começar nesse mundo

A regra é clara: um bom disco precisa de um bom aparelho.

Para começar a colecionar vinil, a principal dica é verificar bem o estado dos discos usados e, se possível, pedir garantia ao vendedor. Já os toca-discos novos disponíveis na internet, apesar do visual retrô, costumam ter baixa qualidade e podem danificar o vinil, especialmente por não permitir regular o peso da agulha.

A recomendação de especialistas é investir em aparelhos antigos de boa marca , como Gradiente, Polyvox e Sony, que oferecem som superior, apesar da idade e do preço mais alto. Caixas de som antigas também podem ser restauradas com facilidade.

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