Publicado em 29 de julho de 2024 às 13:24
Num voo de Houston, no Texas, para San Diego, na Califórnia, no começo desta semana, uma comissária de bordo perguntou pelo microfone se algum passageiro tinha como destino a Comic Con. Uma turma tímida, mas significativa, chacoalhou as mãos no ar em meio a gritinhos, confirmando.>
A suposição não foi um tiro no escuro. A San Diego Comic Con é, afinal, um dos eventos mais importantes do calendário cultural americano, responsável por atrair 150 mil pessoas ao Centro de Convenções de San Diego e de movimentar US$ 160 milhões, cerca de R$ 902 milhões, para a economia local.>
É mais do que o Super Bowl, que oferece catarse anual semelhante, trocando os nerds pelos fãs de esporte, e mais do que aCCXP, a versão brasileira que movimentou R$ 516 milhões em São Paulo há dois anos. Os dados são do relatório mais recente publicado pelo Observatório de Turismo e Eventos, em parceria com a secretaria de Turismo da capital paulista.>
Com seus 287 mil visitantes no ano passado, porém, a CCXP foi recentemente coroada como a maior feira de cultura pop do mundo. Mas San Diego segue como a meca dos nerds, e é o destino preferido de plataformas como Amazon Prime Video e estúdios como a Disney para seus principais anúncios e lançamentos do ano.>
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A proximidade com Los Angeles, que fica a cerca de 200 quilômetros, ajuda. O painel dedicado à série "The Boys", na sexta, por exemplo, contou com 13 membros do elenco fixo, mais o criador Eric Kripke. São Paulo, há dois anos, recebeu apenas metade disso numa viagem para divulgar uma das temporadas.>
Em San Diego, também, a ênfase em quadrinistas, que são a alma do evento, é maior. Foi com eles, afinal, que a Comic Con nasceu, em 1970. Só depois a feira expandiria sua programação para abarcar qualquer coisa relacionada a cultura pop.>
A mais importante diferença entre São Paulo e San Diego, porém, é a forma como as feiras se integram à cidade. Na capital paulista, a conversa entre a programação do São Paulo Expo, já isolado pela extensa rodovia dos Imigrantes, é quase nula. Na cidade californiana de 1,4 milhão de habitantes, por cinco dias no ano, tudo funciona em prol do evento.>
Cosplayers são vistos aos montes jantando nos restaurantes da cidade, enquanto festas e karaokês servem de "after party" para aqueles com mais energia ou para quem está lá essencialmente para fazer negócios.>
Meia-dúzia de linhas de ônibus circulam especialmente para atender aqueles com credencial, e ruas e avenidas são fechadas para privilegiar os pedestres. Prédios e postes são decorados com o logo da feira, e bares e galpões na marinha da cidade se transformam em ativações dedicadas a séries e filmes.>
Com essas ativações fora da SDCC, ao contrário do que acontece em São Paulo, os corredores do Centro de Convenções ficam mais vazios, e as filas para entrar, sair e comprar, bem menores. É uma experiência muito mais agradável do que aquela que a CCXP se tornou, conforme crescia.>
Esses corredores, na versão americana, acabam por virar campo de batalha por produtos exclusivos e itens colecionáveis, que chegam na casa dos milhares de dólares. É um antro do consumismo, algo que se vê na capital paulista, mas num grau infinitamente menor.>
Produtos se esgotam e são repostos diariamente nos estandes mais populares, como foi o caso daquele dedicado ao Snoopy, que tinha que ser visitado logo pela manhã se a intenção fosse comprar uma camiseta ou boneco de pelúcia.>
Assim, sacolas anêmicas, ocupadas majoritariamente por brindes inúteis, nas mãos dos brasileiros viram caixas enormes, carregadas aos montes, nas mãos americanas.>
São Paulo pode até ser hiperbólica com sua CCXP, mas San Diego respira nerdice, deixando suas ruas se colorirem pelo vai e vem de bebês, crianças, adultos e idosos em fantasias.>
O repórter viajou a convite do Amazon Prime Video>
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