• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Anna Paes põe sua voz na obra de Guinga em "Você Você"

Publicado em 27/09/2022 às 09h28
Capa da edição em CD do álbum 'Você você – Anna Paes canta Guinga'

Capa da edição em CD do álbum 'Você você – Anna Paes canta Guinga' . Crédito: Renato Mangolin

Hoje trataremos de um álbum que, por reunir a cantora Anna Paes e Guinga, ganha extrema importância. Por quê? Ora, porque o CD "Você Você – Anna Paes Canta Guinga" (Kuarup) é imprescindível para quem, assim como eu, considera Guinga o maior compositor brasileiro vivo. E nessa gravação ele toca violão em onze músicas (uma inédita), interpretadas pela ótima cantora Anna Paes. Apenas os dois, e pra quê mais?

Desde sempre sou um fã ardoroso de Guinga. Vejam no próximo parágrafo o que escrevi sobre ele ao comentar "Roendopinho", o seu primeiro disco (lançado em 2014), no qual suas composições são tocadas apenas por ele ao violão.

“Guinga é um encantador de ouvidos. Música é o motor que o leva à frente. Para ele, um compositor de obras-primas, não basta criar belas frases musicais, há que fazê-las soar como nunca se ouviu igual; assim ele compõe. Para Guinga, o violonista, não basta inverter belos acordes e dar-lhes ar de modernidade, há que recriá-los com sonoridade compatível com o saber de seu criador; e assim ele toca. Guinga não busca o novo, ele é o novo”.

Antes desse álbum com Guinga, o seu segundo trabalho, Anna estreou com "Miragem de Inaê" (2016), em parceria com Iara Ferreira. Sobre ele, registrei: “Um belo álbum autoral de duas mulheres que se entendem e se fazem ouvir através da música que tão bem compõem”. Desde então, passei a acompanhá-la.

Neste seu novo disco, agora cantando músicas de Guinga, Anna Paes vai bem tanto nas notas graves quanto nas agudas; não teme as dificuldades que pontuam os inesperados intervalos entre as notas das melodias – “saltos” que ocorrem da capacidade criadora de Guinga. Sua afinação é precisa; a respiração, bem colocada; as divisões rítmicas, bem construídas... Enfim, tudo o que uma boa intérprete precisa para dar a Guinga a confiança necessária para que, notem bem o requinte, ele se dispusesse a contribuir com o CD, endossando-o ao tocar violão em todas as faixas.

Enumero agora algumas músicas do repertório do álbum: “Sonhadora” (Guinga e Paulo Cesar Pinheiro), a inédita do disco; “Neblina e Flâmula” (Guinga, com versos certeiros de Aldir Blanc): “E a gentileza em nós nos faz heróis covardes/ Dois bichos desejando/ Em jaulas diferentes/ Num cio infinito atrás de grades/ E a possibilidade de gozo e de saudade floresce sem dar fruto/ E o luto sem saída da hora não vivida/ É bem pior pro coração que a despedida”; além de “Avenida Atlântica” (Guinga e Thiago Amud); “Canção Necessária” (Guinga e José Miguel Wisnik) e “Você Você”, que titula o CD da Anna, até hoje a única parceria de Guinga com Chico Buarque (torço por outras).

Finalizando, destaco a autoconfiança de Anna Paes, que se dispôs a encarar o desafio de se dar às músicas de Guinga e não se intimidou com as inevitáveis comparações com outras grandes cantoras que também dedicaram CDs à obra do craque.

"Você Você – Anna Paes Canta Guinga" é um álbum de referência para quem ama ter boa música à mão.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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