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PT se aproxima do PSOL, mas frente de esquerda para 2020 ainda patina

PT se aproxima do PSOL, mas frente de esquerda para 2020 ainda patina

Os partidos de esquerda se preparam para tentar evitar uma segunda onda conservadora

Publicado em 16 de setembro de 2019 às 07:39

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Deputado Marcelo Freixo. (Valter Campanato/Agência Brasil)

A um ano da eleição municipal, as legendas de esquerda se preparam para tentar evitar uma segunda onda conservadora do tamanho da que surpreendeu o mundo político em 2018.

Tradicionalmente acusado de não abrir mão de sua hegemonia no campo progressista, o PT promete que desta vez vai ceder espaço a nomes de outros partidos em cidades importantes. Mas os potenciais aliados se mostram céticos.

Curiosamente, a aproximação mais intensa ocorre com o PSOL, uma dissidência petista. Em ao menos três capitais, psolistas devem liderar coligações com apoio do PT: Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo, Belém, com Edmilson Rodrigues, e Florianópolis, com Elson Pereira.

"A gente surgiu como oposição ao governo Lula, mas isso já faz 15 anos. Agora somos todos oposição a Bolsonaro", diz Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL. O apoio petista pode se repetir em outras cidades importantes, como Santo André (SP) e Sorocaba (SP).

"Temos uma relação boa com o PSOL, até porque muitos deles nos conhecem, são ex-petistas", afirma a ex-senadora Ideli Salvatti.

Responsável pela articulação política no governo Dilma Rousseff, ela faz parte de um conselho que o PT montou para auxiliar a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, a elaborar a estratégia eleitoral, fazer diagnósticos e mapear aliados.

Compõem também a instância as ex-ministras Miriam Belchior (Planejamento) e Márcia Lopes (Desenvolvimento Social), o deputado federal José Guimarães (CE) e o ex-assessor da Casa Civil Vicente Trevas, além de ex-prefeitos em diversos estados.

"No momento existe uma forte tendência a buscar construir frentes. Em alguns lugares, isso está relativamente avançado. Mas ainda estamos na fase de ouvir os aliados", afirma Ideli.

Outra capital importante em que o PT pode apoiar um aliado é Porto Alegre, onde Manuela D'Ávila deve ser candidata pelo PC do B.

Em São Paulo, um cenário de união da esquerda parece mais distante. O PT não tem candidato forte, uma vez que o ex-prefeito Fernando Haddad descarta concorrer.

À reportagem Haddad disse que até 2022 quer se dedicar a fortalecer a Fundação Perseu Abramo, centro de discussão partidária, e transformá-lo numa espécie de think tank. "Pretendo chamar economistas, sociólogos, educadores e especialistas de diversas áreas para criar uma antessala de discussão programática para o partido", diz.

Mesmo com o ex-prefeito fora do páreo, o PT insiste em encabeçar chapa numa cidade que já governou três vezes.

José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e preferido de Lula, também resiste a disputar, deixando o campo aberto para possíveis candidaturas vistas como menos competitivas, como as dos deputados Carlos Zarattini e Paulo Teixeira, do ex-deputado Jilmar Tatto e do vereador Eduardo Suplicy.

O PSB lançará o ex-governador Márcio França, o PC do B apresentou o deputado federal Orlando Silva, e o PSOL pode lançar a deputada Sâmia Bomfim.

"A eleição será muito pautada pela polarização nacional, sobretudo nos grandes centros. Temos que construir um campo democrático de diálogo, até maior que a esquerda. Unir a esquerda é pouco", diz Orlando Silva.

Ele defende, contudo, que uma aliança da esquerda em São Paulo ocorra no segundo turno e aponta as novas regras eleitorais como um estímulo para que seu partido lance o maior número possível de candidatos a prefeito.

Uma regra aprovada em 2017 e que vale a partir de 2020 veda a celebração de coligações nas eleições proporcionais ao Legislativo.

Historicamente, o PC do B elegeu vereadores em chapas com o PT, possibilidade que agora não existe mais, obrigando a legenda a caminhar pelas próprias pernas. Por isso, diz Silva, ter candidato próprio para prefeito passa a ser questão de sobrevivência.

No PSB, a possibilidade de aliança com outros partidos de esquerda é vista como algo pontual, não como uma regra geral.

"Pode acontecer em alguns lugares, mas não vejo como isso poderia ser uma coisa orgânica", diz o deputado federal Julio Delgado (MG), que almeja disputar a Prefeitura de Belo Horizonte. Ele diz não ter muita esperança de contar com o apoio de PT e PSOL.

Além da dificuldade de uma frente em São Paulo, o PSB também deve lançar nome próprio no Rio de Janeiro, o deputado federal Alessandro Molon, e assim não aderir à aliança em torno de Freixo.

A ameaça representada por Bolsonaro, segundo Delgado, ainda existirá, mas sem a mesma força de antes. "Nossa avaliação é que Bolsonaro não chegará no ano que vem com a força de 2018. Mas ele ainda tem um terço do eleitorado, é muita coisa", afirma.

No caso do PDT, as conversas com o PT ainda são contaminadas pelo mal-estar entre os partidos deixado pela eleição presidencial, quando Ciro Gomes deu apenas apoio protocolar a Fernando Haddad no segundo turno.

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"Creio que as alianças com o PT serão pontuais", diz o líder pedetista na Câmara, André Figueiredo (CE). Um gesto positivo para uma aliança entre as legendas seria o PT dar apoio à legenda em Fortaleza, cidade que o PDT administra. Mas os petistas devem lançar candidatura própria.

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