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Publicado em 29 de abril de 2021 às 02:00
Dos 176 requerimentos de informação protocolados até a noite desta quarta-feira (28) por membros da CPI da Covid no Senado, pelo menos seis são referentes à aplicação de recursos do governo federal para combate à pandemia nos Estados e municípios. Eles foram propostos por senadores bolsonaristas que fazem parte da ala governista da comissão. >
Embora sejam minoria, esses requerimentos pedem um volume grande de informações a todos os entes federados, incluindo o Espírito Santo. São pedidos que vão desde cópias de investigações abertas por tribunais de Contas para apurar desvio ou mau uso de verba, até notas fiscais das despesas para enfrentamento à Covid-19.>
Na opinião de especialistas, a análise de todos esses documentos, em tão pouco tempo – a CPI deve durar 90 dias –, é inviável, mas serve para tirar o foco das apurações contra o governo federal. >
“Existe uma ala governista na comissão que tem como objetivo claro desviar o foco da CPI. Nesse sentido, apresentar o máximo de requerimentos, com pedidos de informações a Estados e municípios, é uma estratégia”, afirma a professora de Direito Constitucional da PUC-SP Gabriela Zancaner.>
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Aliado de primeira hora do governo, o senador Ciro Nogueira (PP), por exemplo, quer que os 26 estados e o Distrito Federal, além dos municípios com mais de 200 mil habitantes, enviem cópias de documentos financeiros, como notas de empenho, ordens bancárias e notas fiscais, além de processos administrativos de despesas que foram feitas com os recursos federais destinados ao combate ao coronavírus.>
Em um outro requerimento, ele solicita que os órgãos fiscalizadores encaminhem cópias de todas as investigações relativas à verba repassada pela União. >
“Por mais que o prazo da CPI seja prorrogado, é inviável contemplar uma investigação em todos os Estados e municípios. Casos muito gritantes, com indícios de irregularidades, como no Estado do Amazonas, do Rio de Janeiro, provavelmente vão ser priorizados, porque há chances reais de se encontrar algo para sustentar a narrativa do governo federal”, avalia o cientista político e professor da UNB Ricardo Caldas.>
Até o momento, os requerimentos protocolados para obter informações dos recursos aplicados pelos Estados e municípios foram dos senadores Ciro Nogueira (PP), Marcos Rogério (DEM) e Eduardo Girão (Podemos). Todos eles são aliados de Bolsonaro no Senado.>
A CPI da Covid foi criada inicialmente para apurar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia. Mas o uso dos recursos federais repassados aos Estados e municípios foi incorporado na investigação após pressão da ala bolsonarista no Senado.>
No entanto, dentro da comissão, apenas quatro dos 11 integrantes são governistas ou próximos ao Palácio do Planalto, o que deve contribuir para que o objetivo inicial da investigação seja preservado.>
“Nem todos os requerimentos protocolados vão ser aprovados. A Comissão vai analisar o que é pertinente e estabelecer prioridades. Acho pouco provável que o foco não seja as ações do governo federal, até porque é onde se tem indícios de ilicitude", destaca a doutora em Ciência Política pela UFMG, Luciana Santana. >
São membros da CPI os senadores: Omar Aziz (PSD-AM), escolhido como presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como vice, Renan Calheiros (MDB-AM) como relator, Humberto Costa (PT-PE), Otto Alencar (PSD-BA), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO).>
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