Publicado em 4 de maio de 2019 às 22:14
Longe dos holofotes desde que tomou posse como deputado federal na Câmara, Aécio Neves assumiu posição de destaque neste sábado (4) na convenção estadual do PSDB em Minas Gerais e definiu as gestões de Jair Bolsonaro (PSL) e de Romeu Zema (Novo) como "governos de principiantes". >
"São governos que estão aprendendo com a roda girando. Isso não é demérito para ninguém", afirmou Aécio, que criticou principalmente a política externa do presidente da República e foi incisivo na defesa de independência do PSDB em Minas em relação ao governador Zema.>
O tucano passou a ser alvo de críticas de caciques do partido pelo país especialmente após ser gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, em maio de 2017, pedindo R$ 2 milhões. Investigado na Lava Jato, perdeu protagonismo e teve sua expulsão da sigla cogitada por correligionários. >
Neste sábado, no evento do PSDB mineiro, saiu do papel de vidraça -e ensaiou críticas mais incisivas ao governo federal. >
>
O ex-senador e atual deputado disse estar travando "um embate forte contra uma política externa equivocada" de Bolsonaro. O tucano vai assumir a presidência de uma subcomissão na Câmara dos Deputados para discutir a participação do Brasil em organismos internacionais. >
Entre os temas estão o acordo da base de Alcântara com os Estados Unidos e a troca de um lugar na OMC (Organização Mundial do Comércio) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Sobre esse último, Aécio afirmou foi "uma surpresa", depois da viagem do presidente aos EUA, já que o assunto nunca foi debatido internamente. >
Na avaliação dele, o país saiu de uma política externa com viés ideológico de esquerda, que seria a responsável pelo fortalecimento do governo de Nicolás Maduro na Venezuela, mas agora vê "outra face da mesma moeda" com o atual Itamaraty.>
"Ao negar e questionar esse alinhamento, na verdade, o governo Bolsonaro busca um alinhamento à direita que também não corresponde à tradição da política externa brasileira. A nossa tradição é de pragmatismo, de equilíbrio em favor dos interesses do país", afirmou. >
Aécio não fez críticas pontuais a ações de Zema, mas foi incisivo na defesa de que o PSDB marque independência. Desde o início do governo, a liderança na Assembleia Legislativa e a secretaria de governo de Zema estão nas mãos de tucanos: o deputado Luiz Humberto Carneiro, que foi líder no governo de Antonio Anastasia, e Custódio de Mattos. Nenhum dos dois apareceu na convenção estadual. >
"[Zema] buscou esses quadros, ele não pediu autorização do partido, ele não submeteu essas escolhas ao partido. É natural que ele vá percebendo com o tempo a qualidade dos quadros do PSDB. O PSDB não se negou a ceder seus quadros ao governo, mas é muito diferente de sermos porta-vozes políticos de uma agenda que não conhecemos, não discutimos", declarou Aécio a jornalistas. >
Segundo ele, o partido não sabe o que Zema pretende fazer para a reforma do estado ou na questão das privatizações. No discurso para correligionários, Aécio defendeu de forma apaixonada a posição ideológica de social-democrata.>
"Somos social-democratas, sim. Porque acreditamos no mercado, acreditamos que é importante dar condições para que as pessoas invistam e gerem empregos, mas o nosso programa não é do ultraliberalismo. Achamos que o Estado tem papel importante nas políticas sociais e na diminuição das desigualdades", disse, aplaudido pelo público. >
Nas últimas semanas, lideranças tucanas começaram a conversar internamente com as bancadas federal e estadual sobre a mudança de posição diante do governo do estado. "Independência" virou a palavra de ordem adotada. >
O novo presidente estadual da legenda, deputado federal Paulo Abi-Ackel, do grupo de Aécio, afirmou que, a partir de agora, deputados que quiserem participar do governo o farão "de forma pessoal e individual". O partido Novo, diz ele, não é um projeto do PSDB e os tucanos não estão "inteiramente alinhados" ao projeto de Zema.>
"Os deputados estaduais do PSDB estão fazendo um papel histórico, no sentido de ajudar Minas e o governo. Nunca vocês nos encontrarão numa posição irracional. Sempre votaremos com os assuntos que sejam do interesse do estado. O que acontece é que devemos, daqui para frente, avaliar melhor nossa posição em relação ao apoio ao governo do estado", explicou Abi-Ackel. >
Candidato derrotado por Zema no segundo turno, o senador Antonio Anastasia evitou esse discurso. O atual governo tem entre seus quadros vários nomes que fizeram parte da gestão dele quando governador e o tucano têm mantido um relacionamento próximo a Zema desde o início do governo. Anastasia diz que isso se deve a sua posição de senador e que tem apenas "respeito e cordialidade no trato". >
"Eu fui o candidato derrotado das eleições, vocês conhecem meu estilo. É indelicado, é incorreto fazer avaliação. A avaliação sempre é feita no momento oportuno, pela população", respondeu sobre os primeiros quatro meses de governo.>
"Eu não quero fazer avaliação porque, primeiro, sou professor universitário, mas estou afastado da universidade. Não vou dar nota a ninguém, nem a mim, nem aos outros. Tem que respeitar isso.">
Aécio foi aplaudido e ovacionado nas duas salas da convenção, posou para fotos com quem o parava nos corredores e na mesa principal, e esperou para falar com a imprensa. Estava à vontade e sorridente.>
No discurso de cerca de 10 minutos, disse que "para quem vive as intempéries da política" não há nada mais valioso do que sentir "o abraço, o carinho, o olhar afetuoso" de quem conhece sua história. >
Na fala, afirmou que "ninguém em Minas e talvez no Brasil foi vítima de ataques, ofensas e acusações tão torpes" como aquelas direcionadas a ele.>
Para jornalistas e para o público, repetiu a frase estampada em uma camiseta que Fernando Collor de Mello usou na época de seu impeachment: o tempo é o senhor da razão. >
"Conheço meu passado, sei o que fiz e o que posso ainda fazer. O tempo, o tempo é o senhor da razão. É o tempo que vai demonstrar, de forma muito clara que os ataques dos quais hoje somos vítimas tem muito a ver com a importância que adquirimos. Nós tucanos não temos razão para nos envergonhar de absolutamente nada", disse. >
Ex-ministro do governo Michel Temer (MDB), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) participou do evento, segundo ele, a pedido do governador de São Paulo, João Doria. Atualmente, ele é chefe do escritório de governo de Doria em Brasília.>
PREFEITURA>
As lideranças tucanas falaram superficialmente sobre o que farão na disputa para a prefeitura da capital, no ano que vem. O PSDB é o partido com maior número de prefeituras em Minas Gerais. >
Segundo o novo presidente, o assunto ainda será debatido internamente, para definir se o partido terá candidato próprio ou apoiará algum aliado. O atual prefeito Alexandre Kalil já anunciou que irá deixar o PHS para se filiar ao PSD. O convite veio de Gilberto Kassab, que foi aliado dos tucanos em São Paulo. >
"Vou verificar com as bases do partido, com a militância que é grande, para ver qual é exatamente o desejo das bases. Se é ter uma candidatura própria ou apoiar companheiros nossos que estejam, eventualmente, em outros partidos", disse Abi-Ackel. >
Anastasia afirmou que a decisão depende de construções políticas futuras, mas ressaltou o nome do atual prefeito. >
"O que eu tenho dito publicamente, não escondo, é que admiro a administração do prefeito Kalil. Acho que ele é um bom prefeito, está bem avaliado, mas num momento oportuno, não só o PSDB, mas os demais partidos, vão discutir questões eleitorais".>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta