Publicado em 8 de março de 2018 às 01:36
Em um Estado onde o setor de rochas tem peso significativo para a economia, um paradoxo: o transporte dessa carga tem se mostrado um perigo nas estradas capixabas, colocando em risco a vida de quem trafega pelas rodovias e causando outros danos, inclusive econômicos. Nesta quarta-feira (7), mais um acidente foi registrado na BR 101, em Ibiraçu, envolvendo uma carreta que transportava um bloco de granito. O veículo tombou na pista no início da manhã mas, pelo menos desta vez, não houve vítimas. A rodovia, porém, ficou interditada e a liberação total só aconteceu no final da tarde.>
Passageiro do ônibus que seguia atrás da carreta, Natal Aguiar conta que o motorista precisou se virar para evitar a batida, ou mesmo uma nova tragédia como os dois acidentes de 2017, envolvendo transporte de rochas, quando morreram 30 pessoas.>
O setor emprega, precisa movimentar a economia, mas não pode fazer isso a qualquer preço. Tenho receio que outros acidentes graves voltem a acontecer, avalia a promotora de Justiça Paula Pazolini, que atua desde 2014 na Serra combatendo o excesso de peso no transporte de cargas.>
No município, a atuação da promotoria é voltada tanto para quem transporta, quanto para quem embarca e compra a carga acima do peso. Paula Pazolini aponta que, depois de reiteradas ações, as ocorrências têm diminuído. Com fiscalização nas rodovias, os caminhoneiros desviavam as carretas por trechos que não suportavam a carga, se arriscavam, colocavam as pessoas em risco com o único intuito de entregar a carga. Muitas empresas foram reincidentes e hoje colaboram, mas outras insistem na prática delituosa e vêm buscando meios de burlar. Nosso trabalho continua, junto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), mas infelizmente só tenho atribuição na Serra, observa.>
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Para a promotora, é preciso um trabalho integrado para ajudar na fiscalização. Episódios como o do bloqueio na BR 259, entre João Neiva e Colatina, que foi furado por 13 caminhoneiros que passaram em alta velocidade e, por pouco, não atropelaram um dos trabalhadores na rodovia, representam, segundo ela, a certeza da impunidade.>
Na opinião de Mario Natali, superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas (Transcares), o transporte de rocha ornamental é uma atividade complexa e não cabe amadorismo. Não se pode entregar esse trabalho a pessoas incapacitadas.>
Outro ponto que defende é que a fiscalização seja iniciada antes mesmo da carga ser embarcada, na mina de extração. Tem muita gente que extrai de forma irregular, faz o manejo irregular e transporta de maneira irregular. Não podemos admitir.>
Natali lembra ainda que as transportadoras têm responsabilidade solidária, quando acontece algum acidente, mesmo que tenha terceirizado o serviço.>
PROPOSTA DE BLOQUEIO DAS ROTAS DE FUGA>
Após os dois acidentes de 2017, quando morreram 30 pessoas, um grupo de trabalho foi criado com representantes do setor de rochas, de transportes, de órgãos de fiscalização e do governo, sob a coordenação do Ministério Público Estadual. Propostas como a suspensão do transporte nos finais de semana e feriados, quando as irregularidades são mais frequentes, e bloqueios nas rotas de fuga são avaliadas.>
Vamos tomar medidas para minimizar os acidentes, afirma Josemar Moreira, subprocurador-geral de Justiça Judicial do MPES.>
Uma das iniciativas é do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), que já contratou um estudo para implantar o sistema de pesagem em movimento nas rodovias. Segundo o diretor do órgão, Romeu Scheibe Neto, as estradas passarão a ter um sensor para aferir o peso dos veículos de carga, assim como hoje existe o de velocidade.>
Quanto à fiscalização, a Polícia Rodoviária Federal e a Secretaria de Estado da Fazenda informam que o trabalho é permanente. O Sindirochas diz que tem realizado ações para divulgar a resolução que regulamenta o transporte de rochas.>
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