Publicado em 23 de julho de 2019 às 10:13
As ondas fortes que atingiram o litoral do Estado nos últimos dias, em razão da ressaca do mar, levaram embora parte de um muro de contenção e do calçamento de uma rua em Meaípe, Guarapari, a faixa de areia na Curva da Jurema, em Vitória, e até trecho da rodovia ES 060. Junto, a ressaca carregou também o dinheiro público: pelo menos R$ 5,7 milhões foram gastos nos últimos oito anos para manter de pé estruturas à beira-mar.>
No caso mais emblemático, um carro caiu no buraco aberto no acostamento da ES 060, na região de Meaípe, nesta segunda (22). O motorista se salvou por pouco (veja entrevista). Outro veículo ficou pendurado.>
A erosão é um problema antigo no local, há registros de mais de 20 anos atrás. Nesta mesma área da pista, em 2016, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER) realizou obras de contenção e correção de erosões provocadas pelas ondas entre Anchieta e Guarapari. Na época, o órgão afirmou que a intervenção, que consistiu em colocar rochas de maneira compacta (conhecido como enrocamento) e refazer o pavimento, custou R$ 3 milhões.>
Em 2018, reportagem de A GAZETA que percorreu o litoral do Estado mostrando estragos provocados pela erosão marítima apontou que já havia problemas nessa mesma região. Parte da ciclovia, que passava ao lado do acostamento, já tinha rachaduras e estava isolada.>
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No trecho, que é próximo a falésias, as ondas batem diretamente nas pedras colocadas pelo DER. No ano passado, especialistas já diziam que a solução era paliativa. Os oceanógrafos ouvidos ontem pela reportagem afirmam que a única solução definitiva para o problema seria mudar a rodovia de lugar.>
TRECHO DA ES 060 TEM PROBLEMAS HÁ MAIS DE 20 ANOS>
O trecho da Rodovia ES 060 que foi palco de um acidente que poderia ter terminado em tragédia, ontem, já tem um longo histórico de problemas. Há pelo menos 22 anos, A GAZETA já publicava imagens e reportagens sobre os estragos causados pelo fenômeno.>
Em 22 de agosto de 1997, foi publicada no jornal uma nota dizendo que parte da pista da do quilômetro 61,5 da ES 060, em Meaípe, corria o risco de desabar devido à erosão no barranco. Questionado sobre qual é o quilômetro exato em que houve destruição da mesma rodovia nesta semana, o Departamento de Estradas e Rodagem do Espírito Santo (DER-ES), responsável pelo trecho, não soube precisar.>
O trecho é sensível à ação dos ventos, das chuvas e do mar (...). A erosão já oferece perigo para os veículos, diz reportagem da época.>
Na ocasião, o órgão foi comunicado pela Secretaria Municipal de Transportes para que providenciasse a recuperação do trecho da rodovia em erosão que, inclusive, tinha deixado exposta uma tubulação de água.>
VITÓRIA>
Outro ponto que sofreu com a ressaca do mar no final de semana foi a Curva da Jurema, em Vitória. A última grande obra feita no local foi em 2011 e custou R$ 2 milhões. Segundo a prefeitura, a cada ano depois disso, o mar tomou, em média, 2,6 metros da faixa de areia.>
Desde então, são feitas manutenções paliativas para tentar reduzir o impacto da erosão aos banhistas e donos de quiosques da praia. No último verão, caminhões da prefeitura fizeram o remanejamento da areia da parte norte da praia da Curva da Jurema, onde se formam bancos de areia naturalmente, para a parte sul, que sofre com as erosões.>
O município não soube informar quanto é gasto com essas ações de manutenção, pois afirma que elas estão incluídas no orçamento de custeio da pasta de Meio Ambiente. A nova obra de engordamento deve custar cerca de R$ 3 milhões.>
Em junho deste ano, houve a abertura de um edital de licitação para uma nova obra de engordamento artificial da praia. O objetivo será aumentar a faixa de areia até que ela fique com 40 metros de largura. Serão retirados 50 mil metros cúbicos de areia de jazidas marinhas, que serão colocados na Curva da Jurema. A promessa é que seja entregue pronta até o verão.>
MEAÍPE>
Um muro de arrimo construído há menos de dois anos na Praia de Meaípe foi outra vítima da ressaca. Parte dele ficou destruído por conta da força das ondas.>
Segundo a Prefeitura de Guarapari, as obras do primeiro e segundo trecho do muro custaram, juntas, R$ 726 mil e foram finalizada no fim do ano passado. A terceira parte do muro, que vai custar R$ 465 mil, já teve a ordem de serviço assinada, mas as obras ainda não começaram.>
Em um dos locais mais afetados, uma parte do muro de contenção da calçada caiu, um enorme buraco foi formado e invadiu parte da rua. Moradores e comerciantes afirmam que, a cada nova tempestade, os estragos ficam piores.>
Já em Vila Velha, a ressaca dos últimos dias resultou em imagens impressionantes na praia de Ponta da Fruta. As ondas bateram nas paredes das casas. O município diz que a Defesa Civil não recebeu nenhum acionamento da região.>
A prefeitura informou, ainda, que desde 2018 fez várias intervenções no local, entre limpezas e obras pontuais. A Prefeitura de Vila Velha, no entanto, não disse quanto custaram as intervenções.>
QUEIXA DE ABANDONO EM PONTA DA FRUTA>
A região de Ponta da Fruta, em Vila Velha, sofre com o avanço do mar há anos, algo que tem piorado com a ressaca do mar. A força da água tem destruído tudo que está pela frente, são vidros quebrados, portas e telhados. As paredes de algumas casas e comércios desabaram e há rachaduras por toda parte.>
O problema já persiste há 10 anos e moradores e comerciantes se sentem abandonados pelo poder público. O corretor de seguros Enéas Rosalvo, de 54 anos, diz que desta vez a água está atingindo as casas desde sexta-feira (19).>
A prefeitura está fazendo ações paliativas, como corte de árvores e limpeza, mas os problemas estão longe de serem resolvidos dessa forma. Precisamos de uma solução, é impossível dormir tranquilo sabendo que a água pode invadir a minha casa a qualquer hora, desabafa.>
Teve gente que já até mudou de uma casa para outra. O pescador Joselias Viana, de 61 anos, conta que a casa anterior foi quase toda destruída e, atualmente, vive em um barraco. Na nova casa, sacos de areia foram colocados na tentativa de conter a força do mar, mas não teve jeito.>
No ano passado coloquei um monte de sacos de areia, mas não conteve como deveria o avanço da água. Inclusive, a cobertura desta casa desabou, lamenta o pescador, que vive sozinho na região.>
PREJUÍZO>
Essa não é a primeira vez que os comerciantes têm prejuízo pelo avanço do mar. Roque Bravim, de 62 anos, possui um restaurante e uma pousada que ficam de frente para o mar. Ele disse que somente neste ano gastou R$ 20 mil com a reconstrução da área externa.>
Há cerca de 10 anos estamos tendo problema, já gastei muito dinheiro para manter o restaurante aberto, da última vez precisei reconstruir a varanda. A água avança, quebra um monte de coisas e o problema nunca é resolvido pelo poder público. Até quando vamos ter que viver dessa forma?, enfatizou.>
Ele acrescentou que o turismo reduziu na região com os problemas de erosão. Eles estão se afastando, a região está destruída. Antes, as pessoas fechavam pacote nos apartamentos, hoje o turista não tem procurado nem uma diária, acrescentou.>
PREFEITURA>
A Prefeitura de Vila Velha, por meio de nota, informou que está monitorando e acompanhando toda a orla do município. Quando a maré recuar, após a ressaca, e não houver perigo para operações no local, equipes das secretarias de Obras (Semob) e de Serviços Urbanos (Semsu) irão desenvolver ações que já foram desenvolvidas no ano passado.>
A Prefeitura de Vila Velha realizou em 2018 diversas ações de limpeza e de infraestrutura em Ponta da Fruta, local de maior incidência do processo de erosão no litoral do município. Em outubro, a rampa utilizada por pescadores e moradores da Praia Rasa foi restaurada pela Secretaria de Obras da Prefeitura, disse.>
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