> >
Praça é cercada pelo tráfico de drogas em Vitória

Praça é cercada pelo tráfico de drogas em Vitória

Segundo os moradores, meninos de 10 a 13 anos circulam pelo local livremente oferecendo maconha, cocaína e crack

Publicado em 5 de maio de 2019 às 23:21

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Praça de Itararé é cercada pelo tráfico de drogas. (Ricardo Medeiros)

Em um local destinado à comunidade, moradores de Itararé, em Vitória, têm que conviver com o tráfico de drogas. No entorno da praça do bairro, na Rua das Palmeiras, meninos ofertam maconha, cocaína e crack – os moradores dizem que há cinco bocas de fumo na região. Eles se posicionam nas ruas paralelas e nas vias que dão acesso ao lugar, que funciona como um ponto de encontro e é frequentado por famílias.

Segundo moradores, os responsáveis pelo tráfico são, geralmente, meninos de 10 a 13 anos. Como se fossem moradores comuns, circulam pela praça diariamente, dividindo espaço com quem busca a praça para comer nas barraquinhas de lanche, ou vai jogar bola no campo de futebol, e com crianças que vão até lá brincar em um pula-pula.

Tudo isso acontece a poucos metros de uma unidade da Polícia Militar instalada no bairro. Moradores, que preferem não se identificar, denunciaram à reportagem a situação. Na região, além do comércio de vendedores ambulantes, há supermercados, lojas de roupa, farmácias, consultórios e postos bancários.

Uma vendedora autônoma de 59 anos contou que mora no bairro desde que nasceu. Para evitar conflito com os bandidos, ela e os colegas de profissão não denunciam os criminosos.

A moradora vende seus produtos na praça há mais de cinco anos. “Já tem tempo que aqui perto da praça funcionam cinco bocas de fumo. Para mim, são cinco ‘empresas’. A gente já sabe até o preço das drogas. Tudo isso acontece na cara da polícia. Graças a Deus, a praça tem uma base da Polícia Militar, mas nem isso intimida os traficantes. Os PMs podiam ficar mais tempo aqui na região”, sugeriu.

Uma funcionária de uma loja na Rua das Palmeiras contou que um menino traficante já se escondeu no estabelecimento em que ela trabalha para fugir de uma abordagem da Polícia Militar. “Foi assustador. O menino chegou todo afobado falando que precisava se esconder. Ficou uns 15 minutos atrás do balcão. Não sei se estava armado.”

BRINQUEDOS

Um operador de máquinas de 41 anos contou que costuma levar os filhos à praça nos fins de semana, quando está de folga do trabalho. “Os meninos do tráfico ficam por aqui, mas eles ficam no canto deles e eu no meu. Meus filhos adoram vir brincar na praça. Meu único medo é tomar um tiro nessa guerra maldita deles”, disse o morador.

O operador contou que morava em Viana e que escolheu mudar para Itararé, na Capital, por causa do preço do aluguel dos imóveis na região. “O bairro é muito bom e não é tão violento quanto pintam por aí. Tráfico tem em todo lugar, não é verdade?”.

 

POLÍCIA IDENTIFICA TRAFICANTES

Investigações do Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc) já identificaram os nomes dos traficantes que comandam as bocas de fumo em Itararé. O chefe do Denarc, delegado Fabricio Dutra, afirmou que há mandados de prisão para todos os criminosos que controlam a venda de entorpecentes na praça e em demais áreas do bairro. Por nota, a PM informou que realiza policiamento ostensivo diariamente na região. “A atuação da PM gera resultados positivos, com diversas detenções e apreensões de drogas e armas diariamente na região. Porém, não cabe à PM a determinação de manter os suspeitos presos ou não.”

ANÁLISE

"Jovens buscam se inserir"

 

Maria Angela Rosa Soares, socióloga e professora

“O índice cada vez maior de jovens envolvidos em atos infracionais, como esses que traficam no entorno da praça, é sintoma de uma sociedade adoecida pela forma de vida que os tempos modernos exigem. Invisíveis, em um mundo regido pelo mercado e o consumo, os jovens buscam se inserir das mais variadas formas, inclusive pela transgressão. O jovem armado ganha visibilidade, é percebido e, em tempos de ‘sociedade do espetáculo’, em que a aparência vale mais do que a essência, em que ser visto é o que ressignifica os seres humanos, perde a dimensão das consequências e se expõe de todas as formas para obter o reconhecimento que lhe é negado. Para entrar na história, destrói e é destruído. Nesse vazio de valores agregadores, as atividades ilícitas oferecem o que ele não encontra no meio em que vive.”

 

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais