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Polícia soluciona 141 assassinatos ocorridos na greve da PM

Polícia soluciona 141 assassinatos ocorridos na greve da PM

No mês da paralisação, foram abertos 224 inquéritos de homicídios

Publicado em 19 de janeiro de 2019 às 03:07

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Cena de homicídio na Rodovia do Sol, em Vila Velha, ocorrido durante a greve da PM. (Bernardo Coutinho)

As investigações que apuram os responsáveis pelas mortes ocorridas na greve da Polícia Militar no Estado, em fevereiro de 2017, avançam. Segundo a Polícia Civil, 141 dos 224 inquéritos abertos no Espírito Santo durante todo aquele mês já foram concluídos com indicação de autoria, ou seja, indicando quem matou. Na Grande Vitória, foram 128 investigações abertas, sendo que 68 já foram concluídas, 53% do total. Dentre os apontados como autores dos assassinatos, 38 foram presos.

Somente nos 22 dias de greve, foram 219 mortes, de acordo com levantamento de A GAZETA. Além de homicídios dolosos, os crimes incluem latrocínios (roubo seguido de morte, 6 casos) e as lesões corporais que resultam em morte (3). Os dados são dos inquéritos da Polícia Civil obtido pela reportagem com exclusividade.

Polícia soluciona 141 assassinatos ocorridos na greve da PM

“Foram 135 assassinatos só na Grande Vitória. Foi um mês muito atípico porque, normalmente, em fevereiro, temos entre 20 e 30 homicídios”, afirma o delegado José Lopes, chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

DENÚNCIAS

 

Segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), até o momento, 75 denúncias foram apresentadas à Justiça. Outros 11 procedimentos foram arquivados. Há ainda 99 processos em tramitação no órgão.

Durante a paralisação da PM, o Espírito Santo ficou sitiado e os capixabas ficaram reféns da insegurança. Sem policiamento nas ruas, o massacre teve início. No dia 4 de fevereiro, um sábado que foi o primeiro dia da greve, nove pessoas foram assassinadas. A segunda-feira que se seguiu, dia 6, foi o dia mais sangrento, com registro de 41 mortes.

“Foram os dias em que eu mais trabalhei na minha vida”, afirma o delegado. Segundo ele, como não havia presença da Polícia Militar, era preciso que os agentes do DHPP se deslocassem em comboio para buscar os corpos por conta dos saques e dos demais crimes que estavam acontecendo. “Acabamos fazendo várias prisões pelo caminho, a medida que passávamos e víamos os crimes”, lembra.

No entanto, ao chegar nos locais indicados, os peritos e investigadores se deparavam com outro problema: a cena do homicídio havia praticamente desaparecido. “Os locais não foram preservados e a perícia foi prejudicada. Além disso, não havia testemunha. A gente chegava no local e estava só o corpo no chão, não tinha ninguém em volta”, relata.

Havia ainda os casos em que a vítima tinha sido socorrida para algum hospital, onde acabou morrendo. O local de origem do crime ninguém sabia. “Nesses casos não houve perícia”, afirma o delegado.

O chefe do DHPP conta que, para elucidar os casos, apesar das condições adversas, a estratégia foi criar o perfil das vítimas para tentar descobrir quem tinha interesse em matá-las. “Partimos do pressuposto que ninguém mata ninguém à toa. Morte por bala perdida é 1% do total. Além disso, dentre as pessoas que morreram, muitas tinham envolvimento com o crime, então tínhamos de onde partir”, diz.

No entanto, no contato com familiares, muitos tinham medo de falar e preferiam as denúncias anônimas. Com auxílio dos setores de inteligência, o delegado afirma que conseguiu provas contra os autores. “Não é porque (a vítima) tinha envolvimento com o crime que tinha que morrer. É ser humano. Se pensar assim, vamos virar barbárie e matar todo mundo. Bandido bom não é bandido morto, é bandido preso pagando pelo que fez”, enfatizou.

Ainda restam 83 inquéritos em aberto, sendo 60 deles na Grande Vitória. A Polícia Civil colocou dois delegados, Carlos Tadeu Carvalho de Menezes e Eduardo Carvalho Khaddour, para auxiliar nas apurações do DHPP. Eles auxiliarão na elucidação dos casos da Grande Vitória. Os casos que ocorreram nos demais municípios continuarão nas mãos dos delegados locais. “Eu não vou arquivar nenhum. A lei diz que eu tenho 20 anos para investigar antes que prescreva”. afirmou José Lopes.

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