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Piedade é a primeira escola de Vitória a ter samba-enredo em libras

Piedade é a primeira escola de Vitória a ter samba-enredo em libras

Agremiação fez tradução para tornar a história acessível para quem não ouve

Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 01:47

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Alberto (de preto) é surdo e aprovou a ideia de ter o samba-enredo em sua própria língua. Ele garante que agora é possível entender o contexto do desfile. (Marcelo Prest)

Pela primeira vez, uma escola do Carnaval de Vitória vai traduzir o samba-enredo para a língua brasileira de sinais (libras). É a Unidos da Piedade, que neste carnaval desfila no Sambão do Povo com o tema “Felis Catus – Sagrados e Malditos”, sobre os gatos. O vídeo com o intérprete será divulgado para que os surdos já cheguem na avenida conhecendo a música.

A iniciativa partiu do folião Josué Rego, que desfila há dez anos pela escola. Ele atua, também, como tradutor e intérprete de libras do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). “A ideia partiu da minha experiência. Meus pais são surdos e eu já desfilo na ala. O surdo sente a vibração da bateria e a mensagem ser passada também na língua dele o contempla por completo”, explica.

A advogada e diretora da escola, Vanessa Brasil, afirma que há surdos que desfilam há alguns anos. Esse foi um dos motivos da ideia ter sido recebida com alegria. “Achamos a ideia interessante diante da necessidade de inclusão e acolhimento, pois a Piedade tem essa proposta. Estamos mostrando que o samba é lugar de todo mundo”, relata.

VEJA VÍDEO

O sambista e professor de libras Fabio Pitol, 37, nasceu surdo após a mãe ter rubéola na gravidez. Morador do Centro desde sempre, há cinco anos desfila pela Piedade. “Estou muito feliz com a notícia. O samba é o meu amor”, declara. Entretanto, esse carnaval tem um gostinho especial. “Quando tem na sua língua, você entende que o samba é uma construção. Que tem um enredo, uma sinopse. Você entende o significado das alas e das fantasias. Isso te contempla”, afirma. 

O também professor de libras Alberto Oliveira Leite, 41, é surdo desde os 11 meses e tem paixão pelo carnaval. Este é o quinto ano em que Alberto solta o samba na avenida. “Estou contando os dias. É perfeito quando o surdo é contemplado. Muitas vezes não temos a língua vivenciada e não nos causa interesse. Agora estamos animados”, relata.

Alberto complementa, ainda, que ter o samba na língua de sinais o faz entender realmente o contexto.

TRADUÇÃO

O intérprete ficou aproximadamente três meses estudando o samba-enredo."Precisamos entender qual é o sentido da mensagem. Não é apenas chegar e interpretar. Isso é o produto final”, diz Josué.

Josué (à frente) e Alberto ( de preto) estão ansiosos para sambar pela avenida com a Unidos da Piedade. (Marcelo Prest)

Ele explica que são duas línguas distintas. Enquanto uma é o português oral e auditivo, a de sinais trabalha com o gestual e o visual. “É pegar um som e passar para o gestual. Para alguém que não escuta. Isso envolve mais do que apenas a gramática. Trabalha o sentido”, explica.

No samba-enredo da escola há uma parte que diz que a escola vai brilhar. O intérprete destaca o trecho como um exemplo prático de como funciona a tradução. "Não traduzimos a língua, mas sim os sentidos e conceitos. O surdo vai pensar ‘A escola não brilha’. Significa que ela vai arrebentar na avenida. Vai se destacar. O sinal é feito em cima desse sentido”, explica.

Para Josué, que teve libras como a primeira lingua, é uma realização poder levar o trabalho para a avenida. “Mostra que o carnaval tem essa importância social e inclusiva”, finaliza.

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