Publicado em 25 de julho de 2017 às 02:16
Um inquérito civil aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) apura descumprimento do contrato de concessão da BR 101 no Estado. A investigação quer identificar as irregularidades que levaram a não duplicação de nenhum quilômetro da rodovia no Estado, até o momento. Uma análise que pode resultar em uma ação civil pública.>
O quadro investigado se agravou no último final de semana, com o anúncio da concessionária Eco101 de que não mais fará a duplicação da rodovia, conforme está previsto no contrato por ela assinado em 2013.>
As irregularidades começaram a ser apuradas em dezembro do ano passado, a partir de denúncias enviadas ao MPF, mas o inquérito foi iniciado, oficialmente, em março deste ano. A ele foram anexadas as informações repassadas pela Comissão Externa na Câmara dos Deputados que também fiscaliza o contrato. Também estão sendo consideradas as investigações realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que já havia identificado irregularidades.>
No processo destaca-se o fato de que o que é apontado como descumprimento de contrato faz parte do conjunto de justificativas apresentadas pela concessionária para não executá-lo. Dentre elas está a demora no licenciamento ambiental, uma responsabilidade, prevista no próprio contrato, de atribuição da Eco101.>
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Segundo documento enviado pelos parlamentares da comissão, decorridos três anos da assinatura do contrato, apenas em fevereiro deste ano foi protocolado o pedido de licenciamento para o trecho Norte (Viana a Mucuri/BA). Uma demora, destaca os parlamentares, que certamente terá repercussões na obra.>
O mesmo documento acrescenta que em 2015 o órgão ambiental liberou a licença para 19 quilômetros de duplicação em João Neiva, Ibiraçu, Anchieta e Itapemirim o que não ocorreu, destaca o documento.>
A investigação também apura a demora nas desapropriações e desocupações da faixa de domínio, outra atribuição da concessionária que deveria estar concluída nos cinco primeiros anos da concessão e que tem barrado várias obras.>
Há ainda pendências de engenharia para algumas travessias urbanas, como é o caso de Sooretama, que corta uma reserva biológica, ou os novos contornos que não estavam incluídos no contrato.>
Outro ponto de destaque é o fato das metas de duplicação não terem sido cumpridas após quatro anos de contrato, uma vez que nenhum quilômetro duplicado foi entregue até o momento. E a previsão para 2019 era de termos metade da BR 101 duplicada.>
Procuradores querem estudo feito por Eco101>
Já foi solicitado para a Eco101, pelo Ministério Público Federal (MPF) uma cópia do estudo realizado pela concessionária e que aposta em um novo conjunto de obras em substituição à duplicação da rodovia.>
Apesar da concessionária afirmar que a propostas apresentada à agência reguladora é apenas uma repactuação no cronograma de investimentos, a Procuradoria reitera que qualquer alteração relevante nas bases do contrato tem que ser muito bem justificada.>
O MPF destacou que a licitação foi feita tendo a duplicação como premissa, ou seja, ela foi a principal justificativa para a concessão da rodovia. Em decorrência disso, o MPF no Estado entende como sendo difícil fundamentar alteração substancial, ainda mais com sérias dúvidas sobre o atendimento ao interesse público, disse, por nota.>
PEDÁGIO>
As mudanças propostas em substituição à duplicação não vão afetar o valor do pedágio cobrado nas sete praças da BR 101 no Estado. Nada muda. Nossa proposta é manter o mesmo valor, nem subindo nem baixando, explica Roberto Paulo Hanke, diretor superintendente da Eco101. Se percorrer toda a rodovia, o usuário paga R$ 30,80.>
Prejuízo e mais mortes>
Sem a BR 101 duplicada, ou com o tempo esticado para finalmente vir a ser, é privação para todo lado: a economia perde competitividade, por ter vias precárias para escoamento de produtos, e, a pior de todas, as rodovias ficam mais violentas por causa da possibilidade óbvia de mais acidentes.>
A engenheira de transportes Gesiane Silveira confirma. As nossas rodovias são extremamente ruins, com apenas duas faixas em pista simples. E as condições da pista e a sinalização dela são muito ruins. Por ser pista simples, a ultrapassagem é na contramão. Olha que horror, instiga a engenheira.>
Ela cita o exemplo de rodovias alemãs, que têm até quatro faixas em cada sentido. Algumas não possuem nem limite de velocidade de tão seguras, cita a engenheira.>
E quais são os efeitos do atraso da duplicação na economia do Estado? A economista Arilda Teixeira explica: O Estado vai continuar a ter dificuldades no transporte, na entrega de produtos. E isso significa encarecimento e ineficiência, Afeta a produção, a renda, o emprego e a competitividade.>
Ela lembra que o Estado está no corredor de escoamento de produção, por causa principalmente do Porto de Vitória. Mais de 50% do PIB do Estado é gerado com comércio exterior. Se o transporte é mais lento, a produção fica mais cara e a economia, menos competitiva.>
MEIO AMBIENTE? >
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, questionou a argumentação da concessionária, que apontou os atrasos na liberação de licenciamentos ambientais para a demora em execução das obras.>
O argumento deles de colocar a culpa nos licenciamentos ambientais não pode ser usado como justificativa para um projeto que o povo capixaba já estava contando, disse o presidente da Findes.>
As questões ambientais vão existir em qualquer lugar do Brasil. Se quando as indústrias têm problemas com licenciamento, elas buscam um caminho para resolver, porque a concessionária não pode?, questionou Guerra.>
Ele chamou atenção também para o fato de que todas as obras federais importantes para o Espírito Santo enfrentam dificuldades. E citou os problemas com a ampliação do Aeroporto de Vitória e com a dragagem do Porto da Capital. Será que vamos ter que suportar agora o mesmo problema com a BR 101?>
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