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Mapa do crime: um furto ou roubo a cada 20 minutos no Espírito Santo

Mapa do crime: um furto ou roubo a cada 20 minutos no Espírito Santo

Maioria dos ocorrências foi no meio da rua, contra pessoas

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 18:38

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O Espírito Santo registrou um furto ou roubo a cada 20 minutos nos seis primeiros meses deste ano. No total, foram 14.159 ocorrências desse tipo em todo o Estado.

Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Gazeta Online por meio da Lei de Acesso à Informação e contabilizam registros de furto e roubo à pessoa em via pública, à casas e condomínios, comércios, e transportes coletivos. O levantamento não inclui os furtos e roubos de veículos.

A maioria dos crimes foi cometido contra pessoas, no meio da rua. São roubos ou furtos de carteiras, celulares, dinheiro ou joias, por exemplo. Foram 8.118 crimes dessa natureza no período.

Uma das vítimas foi o estudante Gabriel Correia Motta, de 21 anos. Ele foi alvo de um assaltante quando estava parado em um ponto de ônibus, em um domingo de manhã. “Eu ia almoçar na casa de um amigo. Um homem em uma bicicleta passou e anunciou o assalto, mostrando uma arma e pedindo que eu entregasse o que tinha nos bolsos”, lembra.

O caso aconteceu no bairro Ilha de Monte Belo, em Vitória, próximo à sede do INSS, na avenida Beira-Mar. Ele conta que ficou nervoso na hora e se recusou a entregar a carteira e o celular. “Na hora eu disse ‘não’ e ele aproximou ainda mais a arma do meu rosto. Eu não sabia se era verdadeira ou falsa, então eu entreguei o celular”, conta.

Segundo ele, depois do incidente, toda a família ficou com medo. “Meu pai está assustado até hoje. Eu fui assaltado em pleno dia em um domingo. Hoje, eu não sei se posso ir na esquina porque fico com medo do que pode acontecer”, afirma.

O universitário Gabriel Motta, 21, ficou sob a mira de uma arma em plena luz do dia em uma das avenidas mais movimentadas da Capital. (Vitor Jubini)

GRANDE VITÓRIA

As cidades da Grande Vitória registraram 53,4% das ocorrências do Estado. Vila Velha liderou em números absolutos com 2.042 furtos ou roubos em seis meses.

No município houveram 443 casos de crimes contra comércios. Já na Capital, 478 estabelecimentos foram alvo de bandidos. No início deste mês, três criminosos invadiram uma farmácia, na Reta da Penha. Foram levados desodorantes, fraldas, sandálias e dinheiro do caixa. No mesmo dia, uma academia foi arrombada na Enseada do Suá.

 

PERIGO EM CASA

O furto e roubo em residências também preocupa moradores de todo o Estado. Na Serra, no primeiro semestre de 2018, 305 imóveis foram alvo de bandidos. Em Vila Velha foram 235 casos registrados.

A fisioterapeuta Bianca Abdala, de 31 anos, teve que se mudar da casa onde morava com o marido e os dois filhos pequenos e passou a pagar aluguel depois que a residência da família, que fica em Setiba, Guarapari, foi arrombada. “Estávamos voltando de Vila Velha e, ao chegarmos em casa, vimos que as luzes estavam acesas e as portas estavam abertas”, conta.

Segundo ela, foram levados notebooks, aparelhos de televisão e videogame além de algumas roupas dela e até panelas da cozinha. “A gente acha que eles saíram pouco antes de a gente chegar, porque muita coisa estava revirada pela metade. Parece que saíram as pressas”, diz.

O notebook, que tinha fotos do casamento do casal e boa parte dos registros dos filhos, nunca foi encontrado. Uma semana após o incidente, a família se mudou para um condomínio fechado. “Não conseguia mais dormir, ficava com muito medo. Tinha medo de roubarem o carro quando saísse do portão. A nossa casa era própria, agora a gente paga aluguel em um local que parece mais seguro”, afirma.

Mesmo após a mudança, a sensação de insegurança permanece. “Sempre que chego em casa fico com medo, esperando o portão abrir. Os meninos ficaram muito assustados desde o arrombamento”, diz.

Tanto a família da Bianca quanto o Gabriel afirmam que registraram boletim de ocorrência na delegacia após os fatos. No entanto, em nenhum dos casos os pertences recuperados. ”Nunca tive nenhum retorno", conta Gabriel.

CIDADES DO INTERIOR LIDERAM OCORRÊNCIAS 

O número de ocorrências de furtos e roubos no Estado assusta: foram mais de 14 mil de janeiro a junho deste ano. Apesar de a Grande Vitória concentrar mais da metade delas, quando os números são dimensionados ao tamanho da população, os municípios do interior aparecem com altas taxas de crimes dessa natureza. Piúma, no litoral sul do Estado, está no topo do ranking com 83,32 crimes a cada 10 mil habitantes (Veja mapa na página seguinte).

Outras cidades litorâneas aparecem entre as com maior taxa de furtos e roubos: Guarapari tem 50,1 e Marataízes 49,6.

Para fazer o cálculo foram utilizados os dados de furtos e roubos de pessoas em via pública, residências, comércios e coletivos relativos ao primeiro semestre de 2018. Eles foram combinados à estimativa populacional de cada cidade do Estado, para criar uma taxa com base em 10 mil habitantes.

Segundo especialistas, os balneários concentram crimes ao patrimônio pois são destino de férias de muitos capixabas e até de turistas de outros Estados. Os bandidos veem essas pessoas como vítimas potenciais. “Nesses locais existem ainda muitas casas de veraneio, que ficam fechadas e vazias boa parte do ano e, por isso, são alvo fácil para criminosos”, explica o professor do mestrado de Segurança Pública da UVV, Pablo Lira.

NORTE

Também se destacam no ranking algumas cidades da região Norte e Noroeste do Estado. Água Doce do Norte, por exemplo, teve 59,29 ocorrências de furtos e roubos para cada 10 mil habitantes no primeiro semestre deste ano. Nova Venécia teve 51,8, a mesma taxa de Águia Branca.

Vitória e Cariacica aparecem com a mesma taxa de furto e roubo com 48 crimes por 10 mil habitantes, em oitavo e nono lugar no ranking, respectivamente.

Para o especialista, os crimes contra o patrimônio, como são classificados esses furtos e roubos, podem ter diversas motivações e propósitos. “Ao roubar algo de valor, o criminoso pode estar querendo pagar uma dívida de droga, comprar mais drogas - não se pode ignorar o fator do crack - ou ainda, no caso de grupos especializados, levantar recursos para comprar armas ou entorpecentes para o tráfico”, explica.

O professor avalia ainda que, ainda que não sejam crimes “letais”, os furtos e roubos contribuem para a sensação de insegurança da população. “Além do dano material tem o trauma psicológico que impacta muitas pessoas, principalmente se o crime foi praticando com uso de arma de fogo. EM alguns casos as pessoas precisam até de acompanhamento psicológico”, diz Pablo Lira.

O especialista afirma que a população pode ajudar a reduzir esses crimes tomando alguns cuidados como evitar de andar em locais muito isolados, principalmente a noite, 

evitar de ostentar objetos de valor e caso seja vítima, registrar o boletim de ocorrência. “Através das denúncias e boletins registrados as polícias planejam suas ações para tentar prevenir outros crimes”, afirma.

Ele ressalta ainda que as leis, consideradas muitas brandas, dão aos bandidos a impressão de impunidade. “A pessoa comete um furto ou roubo, é detido mas não fica preso. Ele reincide e acontece a mesma coisa. A lei precisa dissuadir ou inibir o cometimento de crimes. ”, diz.

GOVERNO DIZ QUE CRIMINALIDADE DIMINUIU

Ainda que os números de crimes contra o patrimônio sejam altos, o secretário de Segurança Pública, Nylton Rodrigues, afirma que eles vêm diminuindo, tanto na Grande Vitória quanto no interior do Estado.

“O número absoluto é alto e estamos tomando providências para reduzi-lo. Mas tivemos quedas se compararmos com o ano passado. O roubo a comércios, por exemplo, caiu 43% no Estado de 2017 para 2018 e na Grande Vitória a redução foi de 39%”, afirma. Entre as ações que estão sendo realizadas, o secretário citou a delegacia especializada em roubos e furtos de estabelecimentos comerciais, anunciada pelo governo na última quinta-feira (18).

Quanto ao roubo à pessoas na rua e nos coletivos, ele afirma que os números apresentaram redução de 30 e 37% respectivamente. “A Polícia Militar está focada na questão do assalto em ônibus fazendo operações de blitz. Em seus planejamentos, a PM vem colocando também o foco nos pontos de ônibus, principalmente nos horários de mais movimento”, esclarece.

Quanto à alta taxa de furtos e roubos nas cidades do litoral do Estado, o secretário explica que ela se deve ao aumento significativo da população na época de férias de verão e de feriados. “Esses indicadores acabam aumentando por conta do recebimento de turistas. Em algumas cidades, a população aumenta quatro ou cinco vezes”, diz.

Para tentar minimizar os crimes nesses locais o secretário afirma que realiza a Operação Verão, deslocando maior número de policiais para os municípios considerados polos de turismo.

Já sobre a taxa mais alta em algumas cidades da região Norte e Noroeste, o coronel Nylton Rodrigues afirma que é causada pelas colheitas. “Essas cidades recebem muita mão-de-obra de fora e o crime contra o patrimônio também aumenta”, diz.

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Segundo ele, é importante que os municípios façam cadastro dos trabalhadores que vêm de outros locais para trabalhar durante os períodos da colheita. As informações, de acordo com o secretário, ajudam a controlar esse tipo de crime.

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