Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 03:04
Os valores arrecadados com as multas ambientais não chegam nem a 10% do total das infrações aplicadas pelo Estado nos últimos dois anos. Em Vitória, esse percentual é ainda menor, gira em torno de 2%. Trata-se do que é cobrado pelo desrespeito com o meio ambiente, seja por poluição, incluindo a sonora, seja por descarte irregular de lixo ou esgoto, e seja até por falta de licenciamento ambiental.>
O Estado aplicou 1.611 multas em 2016 e 2017, segundo nota do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), totalizando R$ 29,99 milhões. Desse montante, entraram nos cofres públicos apenas R$ 2,97 milhões.>
Já em Vitória, foram aplicadas 397 multas, que totalizam R$ 91,1 milhões, no mesmo período (2016 e 2017). Mas a cidade recebeu apenas R$ 1,94 milhão.>
Segundo o secretário de Meio Ambiente e Serviços Urbanos da Capital, Luiz Emanuel Zouaim, parte desta demora refere-se, na maioria dos casos, aos recursos feitos pelo infrator. Em muitos casos só recebemos os valores de multas aplicadas quase quatro anos depois, relata.>
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Num primeiro momento, acrescenta ele, o infrator pode fazer um recurso à Junta de Impugnação Fiscal (Jif), onde são feitos os questionamentos administrativos contra quem multou.>
Se não for bem sucedido, o infrator pode ainda recorrer ao Conselho de Defesa do Meio Ambiente (Condema) da Capital. É um órgão que só se reúne uma vez por mês, o que torna o processo ainda mais lento, diz o secretário.>
Ele cita como exemplo as multas aplicadas contra a Vale e ArcelorMittal. Ambas recorreram à Junta de Impugnação e a última também foi ao Condema. O processo está com o relator, que ainda não concluiu seu voto. A próxima reunião do Condema será em fevereiro, quando se espera que o caso seja votado, contou.>
Ele se refere às multas que foram aplicadas às empresas por poluição ambiental em janeiro de 2016 e que serão votadas no Conselho dois anos depois. Uma delas foi aplicada após a divulgação de um vídeo da Polícia Federal que mostrava uma chuva de minério caindo do Porto de Tubarão no mar de Camburi. A burocracia acaba atrasando muito estes processos, desabafa.>
Os casos mais céleres referem-se a multas do disque-silêncio, onde há o registro do flagrante. O fiscal vai até a casa do reclamante e constata o motivo do barulho, faz a medição e a notificação. O transgressor tem o direito de recorrer, mas há um flagrante e, em 90% dos casos, elas são deferidas , relata o secretário.>
Prova da agilidade, segundo ele, é que em 2016 Vitória aplicou R$ 560 mil em multas do disque-silêncio e conseguiu receber, no mesmo ano, R$ 249 mil.>
- Foto: Polícia Federal/Divulgação"/>
Multas aplicadas >
Motivos>
Ocorrem por diversos tipos de infrações ambientais, que vão desde poluição, esgoto, falta de licenciamento, limpeza pública como os pontos viciados em lixo , disque-silêncio, dentre outras. Podem ser aplicadas pelo Estado, por intermédio do Iema e pela Prefeitura de Vitória.>
Valores arrecadados>
Motivos>
Nem sempre a multa aplicada é paga no mesmo ano, em decorrência dos muitos graus de recursos. Em geral, os valores arrecadados são bem inferiores aos valores aplicados no mesmo ano.>
Iema em 2016>
Aplicadas>
750 multas, no total de R$ 21.560.145,00.>
Arrecadadas>
Um total de R$ 1.384.214,45, com processos encerrados na primeira instância.>
Em 2017>
Aplicadas>
Foram 861 multas até o dia 21 de dezembro, no valor de R$ 8.229.358.>
Arrecadadas>
Até o último dia 25 arrecadou R$ 1.286.721,54, com processos encerrados na primeira instância.>
Fundo Estadual de Meio Ambiente (Fundema)>
Recebe esses valores quando o processo é encerrado em 2ª instância.>
Em 2016>
Arrecadou R$ 201.177,55.>
Em 2017>
Arrecadou R$ 308.725,84>
Conversões de multas>
Transformação da multa em prestação de serviços. Foi o que aconteceu com uma multa aplicada à Vale, de R$ 3.304.415,52, que foi destinado ao projeto Conecta Meio Ambiente, que visa a eliminar a tramitação física de processos no Iema/Seama, em um prazo de 24 meses.>
VITÓRIA>
Em 2016>
Aplicadas>
181 multas que totalizam R$ 69.796.178,41. Incluem o disque-silêncio, fiscalização ambiental (esgoto, licenciamento, poluição e outros), dentre elas as aplicadas contra a Vale e ArcelorMittal por poluição ambiental.>
Arrecadadas>
R$ 1.389.690,21, sendo R$ 249 mil referentes ao disque-silêncio; R$ 829.690,21 com limpeza pública e R$ 311 mil outras multas.>
Em 2017>
Aplicadas>
Foram aplicadas 216 multas, totalizando R$ 21.306.966,85, referentes ao disque Silêncio, Fiscalização Ambiental (esgoto, licenciamento, poluição e outros), além das duas multas aplicadas no último dia 27, referente aos shows na Praça do Papa, de R$ 300 mil cada uma.>
Arrecadados>
R$ 557.488,84., até o último dia 27, com limpeza pública. Os demais valores não foram informados.>
Vandalismo e entulho causam prejuízos>
Os pontos viciados em lixo, descarte fora do horário e o vandalismo ainda são desafios para Vitória e uma das constantes causas de multa, como destaca o secretário de Meio Ambiente e Serviços Urbanos, Luiz Emanuel Zouaim.>
Apesar das multas, o prejuízo fica mesmo com a administração pública. Só com a retirada de entulho, explica o secretário, são gastos quase R$ 3 milhões por ano. O valor que daria para construir uma creche por ano gastamos com a transgressão de algumas pessoas. Precisamos mudar essa cultura, diz.>
Em julho do ano passado, relata, foi feita uma limpeza da orla de Vitória, quando foram recolhidas 85 toneladas de entulho em 15 horas de trabalho. A maior parte do material 35 toneladas foi retirada do bairro Grande Vitória.>
O curioso, explica o secretário, é que o recolhimento de entulho, ao contrário do que muitos pensam, não é uma atividade pública. É de responsabilidade do morador, que deve contratar o serviço particular, explica.>
DESCARTE>
Outra dificuldade que a cidade ainda enfrenta, explica ele, é que as pessoas colocam o lixo sobre a calçada e muito antes do horário do caminhão. Calçada não é lugar de lixo, que, por vários motivos, acaba se espalhando. O coletor do caminhão não pode varrer lixo, só recolher. E o morador acaba sendo multado por deposição irregular do lixo, principalmente os condomínios, relata o secretário.>
Vitória, diz o secretário, está entre as poucas cidades brasileiras que fazem o recolhimento diário do lixo. Mas a legislação municipal orienta que cabe ao morador acondicionar os resíduos em sacolas plásticas e colocá-las, antes do caminhão de coleta passar, dentro de um contentor, em sua calçada.>
Zouaim pondera que não é possível fiscalizar a cidade inteira, mas que a fiscalização para evitar que lixo seja depositado nas ruas, de forma irregular, está sendo feita. Temos uma boa equipe de fiscalização e também recebemos muitas denúncias, até pelas redes sociais, o que nos ajuda a identificar os infratores, explica o secretário.>
Outro gasto do município é com o vandalismo das lixeiras instaladas nas ruas da cidade. O município vai comprar, ainda este mês, mais 2 mil unidades, a um custo de R$ 100 cada uma.>
Mas, até o final de 2018, o secretário sabe que, em média, só devem sobrar umas 700. O restante é destruído. Só conseguimos recuperar 10% do que é destruído. Um absurdo gastarmos dinheiro com patrimônio público que é depredado, desabafa.>
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