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Devota de Vitória vai a Roma acompanhar canonização de Irmã Dulce

Devota de Vitória vai a Roma acompanhar canonização de Irmã Dulce

Desde criança, Maria Amélia Carrera acompanha a obra social da freira baiana que, no próximo dia 13, será proclamada santa

Publicado em 2 de outubro de 2019 às 20:39

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A missionária Maria Amélia Carrera tem vários objetos com a imagem da Irmã Dulce, de quem é devota desde a infância. (Fernando Madeira)

Com o testemunho da avó que havia trabalhado nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Salvador (BA), a missionária Maria Amélia Reuter Mota Carreira, 54 anos, desde a infância tem admiração pela freira baiana que cuidava dos mais carentes e, ao longo do tempo, tornou-se devota. Agora, vai realizar um grande sonho: no próximo sábado (5) embarca para Roma, na Itália, onde vai participar da missa de canonização no dia 13, quando a irmã se tornará a Santa Dulce dos Pobres - a primeira santa brasileira. 

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Já peguei na mão de uma santa, dizia minha avó muito antes da Irmã Dulce ser beatificada. Cresci acompanhando as histórias. Sempre houve um relacionamento muito forte e de experiências de fé

Maria Amélia Carrera
Missionária
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Maria Amélia considera que a Irmã Dulce é uma santa muito próxima, sobretudo pelo fato de ter conhecido pessoas que conviveram com ela, como a sua avó. Quando a freira foi beatificada, em maio de 2011, a missionária seguiu com seus pais para Salvador a fim de acompanhar a celebração.  Para ela, foi um momento muito emocionante, de renovação de fé e, principalmente, de partilhar uma santidade que, em sua opinião, é possível para todo mundo. 

Irmã Dulce, reconhecida por seu trabalho social, será canonizada no dia 13. (Divulgação/OSID)

Além de devoção, a Irmã Dulce também serve de inspiração. Maria Amélia tornou-se missionária há mais de 20 anos, e dedica-se a trabalhos sociais como o realizado em Lábrea, no Amazonas, em um barco-hospital com uma equipe que oferece assistência em saúde para a população carente da região. Questionada como é sua relação atualmente com a freira baiana, ela diz que é de amizade.

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Converso, pedindo intercessão, pedindo conselhos, falando das alegrias e dificuldades. Principalmente na certeza de que meu pai e minha avó também estão lá, ao lado dela no céu.

Maria Amélia Carrera
Missionária
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Também devota de Irmã Dulce, a dona de casa Maria Ruth de Brito Falcão, 74, diz que o reconhecimento do trabalho da freira veio a partir de uma reportagem numa emissora católica falando dos milagres atribuídos à futura santa. A partir de então, começou a se interessar mais, a ponto de encomendar uma imagem da freira que exibe com orgulho.

Maria Ruth Falcão é devota da Irmã Dulce e comprou uma imagem para proteção da família. (Acervo pessoal)
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Eu converso com ela e, até mesmo antes de chegar a imagem, pedi para eu melhorar de uma dor no braço que vinha sentindo. Graças a Deus, e a ela, fiquei curada.

Maria Ruth Falcão
Dona de casa
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A dona de casa não vai a Roma para acompanhar a celebração de canonização, mas espera assistir pela tevê toda a cobertura da missa, que será realizada às 10 horas (horário local), na Praça de São Pedro, no Vaticano, pelo papa Francisco. 

QUEM FOI A IRMÃ DULCE

A Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador, e foi batizada Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes.  O interesse pela vida religiosa começou a se manifestar já no início da adolescência quando , aos 13 anos, já atendia doentes no portão de sua casa. Em 1933,  ela ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe). No mesmo ano, recebe o hábito e adota, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce. Em 1935, ela inicia um trabalho assistencial nas comunidades carentes.

OBRAS SOCIAIS

As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) abrigam atualmente um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% gratuito do Brasil, com cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia. Entre o público atendido pela instituição filantrópica, estão pacientes com câncer, idosos, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes em situação de risco social, dependentes químicos, pessoas em situação de rua e demais usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Fundada em 26 de maio de 1959 por Irmã Dulce, a organização conta com um perfil de serviços distribuídos em 21 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de saúde, assistência social, pesquisa científica, ensino em saúde, ensino fundamental e na preservação e difusão da memória da freira.

PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

A causa da Canonização de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à religiosa. O título é o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heroico, as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Caridade. Já em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de seu colégio de cardeais e bispos, atestou a autenticidade do primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a última etapa do processo de beatificação.

Irmã Dulce acolhendo uma das milhares de crianças assistidas na instituição, na Bahia, que leva seu nome. (Divulgação/OSID)

PRIMEIRO MILAGRE E BEATIFICAÇÃO

O milagre ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando, após dar à luz seu segundo filho, Gabriel, em 11 de janeiro de 2001, Claudia Cristina dos Santos sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José. Diante da gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou a família que apenas “uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia. Em desespero, a família da miraculada chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto, decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da freira. A hemorragia cessou subitamente. O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”.

O milagre passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida em todos os estágios. Já no dia 10 de dezembro de 2010, o Papa Bento XVI autorizou a promulgação do decreto do primeiro milagre. Irmã Dulce foi então beatificada no dia 22 de maio de 2011, em cerimônia realizada no Parque de Exposições de Salvador. Ela passou a se chamar Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica.

SEGUNDO MILAGRE E A CANONIZAÇÃO

No dia 13 de maio deste ano, o Papa Francisco promulgou um decreto reconhecendo a autenticidade de um segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce, cumprindo-se assim a última etapa do processo de canonização da beata. Trata-se da cura da cegueira de José Maurício Moreira, 50 anos. Ele teve, aos 22 anos,  o diagnóstico de um glaucoma muito sério, descoberto tardiamente e já em estado avançado. O tratamento, que durou dez anos, não foi suficiente para impedir que o nervo ótico – responsável pela comunicação com o cérebro – fosse destruído. Desse modo, na virada do ano de 1999 para 2000, ele ficou totalmente cego de ambos os olhos e assim permaneceu por 14 anos. Em 2014,  Maurício teve uma conjuntivite muito grave e, sofrendo com fortes dores, pegou a imagem de Irmã Dulce que pertencera a sua mãe, a colocou sobre os olhos e, com muita fé, fez uma oração pedindo a intercessão da irmã para que aliviasse as dores daquela inflamação. Ao acordar, Maurício percebeu então que tinha voltado a enxergar. O segundo milagre validado pelo Vaticano também passou por três etapas de avaliação.

PROGRAMAÇÃO

A cerimônia de canonização de Irmã Dulce, vai acontecer no próximo dia 13 de outubro, na Praça São Pedro (Vaticano), às 10h (hora local), presidida pelo Papa Francisco. A religiosa, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, se tornará então a primeira santa de nosso tempo nascida no Brasil e sua canonização será a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento). A cerimônia no Vaticano contará ainda com a apresentação dos cantores Margareth Menezes e Waldonys, e do Padre Antônio Maria, acompanhados pelo músico José Maurício Moreira, que recebeu o segundo milagre. Os ingressos, que são gratuitos, já começaram a ser distribuídos.

Papa Francisco vai comandar cerimônia de canonização. (GREGORIO BORGIA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

A programação segue com a realização, no dia 14 de outubro, da primeira missa em honra da Santa, às 10h, na Basílica Sant’Andrea della Valle, localizada em Corso Vittorio Emanuelle II, em Roma (Itália). A celebração será presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. Para participar da missa do dia 14, não é necessário ingresso.

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Já no dia 20 de outubro, em Salvador, acontecerá a primeira celebração no Brasil pela Canonização de Irmã Dulce, a partir das 12h30, na Arena Fonte Nova (abertura dos portões ao meio dia), com a expectativa de reunir 55 mil pessoas. A programação cultural e religiosa do evento na capital baiana contará com apresentações musicais, espetáculo teatral e missa presidida pelo Arcebispo Dom Murilo Krieger. Na encenação do espetáculo “Império de Amor”, serão levados ao palco mais de 600 atores, sendo 550 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – núcleo de educação das Osid, além de idosos da instituição. Os ingressos começaram a ser distribuídos através das paróquias da Arquidiocese de Salvador.

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