Publicado em 13 de setembro de 2019 às 16:46
Há semanas o país acompanha a situação grave da região Norte do Brasil, em especial, que sofre com as inúmeras queimadas em plantações e também na mata nativa. A combinação de ausência de chuvas, altas temperaturas, clima seco e baixa umidade favorecem o surgimento de novos focos diários.>
O produtor rural e engenheiro civil Carlos Vassoler, de 24 anos, deixou a cidade de Montanha, no Norte do Espírito Santo, na madrugada de quinta-feira (5) com destino a Jaru, em Rondônia, onde a família mantém uma propriedade rural voltada para a criação de gado de corte.>
Ao chegar lá, o capixaba encontrou uma realidade de chamas incessantes, fumaça e prejuízos incalculáveis. Enquanto fazia o possível para controlar o fogo, ele registrou a destruição causada.>
VEJA VÍDEO>
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INCÊNDIOS PELO CAMINHO>
Nos mais de três mil quilômetros percorridos da cidade do Norte do Estado até Rondônia, Carlos passou por situações tensas em meio ao fogo. >
"Saímos do Espírito Santo e gastamos quase três dias e duas noites para chegar até aqui (Jaru-RO). No caminho, nos deparamos com muitos incêndios, em especial na região entre Uberlândia, em Minas Gerais, a Cuiabá (Mato Grosso). Até Rondonópolis (MT) nós encontramos muitos incêndios às margens das estradas. Passamos por anéis de fogo, que é quando tem fogo por todos os lados. Eram chamas com mais de 5 metros de altura. Chegamos a ficar parados na estrada poque não dava para passar. Isso aconteceu na BR 364 e também na 070. Nessa região há muitas plantações de milho, soja e algodão. Tudo queimou", detalhou Carlos.>
SENTINDO NA PELE>
A lida no combate intenso aos focos cobram um preço elevado. Pisar no chão quente provocou ferimentos na tentativa de não ver tudo ser consumido pelas chamas.>
"A gente praticamente não dormia, ficávamos subindo e descendo o morro apagando focos. Fiquei muitas bolhas nos pés por conta do calor no solo, mesmo tendo experiência no campo. Respirar é quase impossível nessas condições. Eu já tenho problemas respiratórios sérios. É fumaça na cara o tempo todo, muita ardência nos olhos, sensação de sufocamento. O fogo nos rodeava muita e tínhamos que abrir uma brecha rápida para sair e não ser pego pelas chamas", contou o jovem>
MATA EM CHAMAS>
Além das propriedades particulares, a região é rodeada por matas nativas, por se tratar da região amazônica. A sensação descrita por ele em ver tudo ardendo em chamas é de desolação. >
"Na nossa propriedade temos bastante matas nativas e o fogo também se alastrou por lá. Presenciei muita mata queimando e é triste demais ver isso ao vivo. Não dava para entrar nela porque é muito perigoso. O fogo consome as árvores por dentro dos troncos e se um desses cai, é difícil escapar", disse o produtor rural.>
DÓ E SOLIDARIEDADE>
Na tentativa de não ver todo o patrimônio ser consumido pelo fogo, Carlos e outros produtores rurais vizinhos uniram esforços. Com muita dificuldade se chegava ao êxito, porém sempre com o o medo de novos focos surgirem.>
"A sensação que tenho ao ver tudo queimado aqui é de dó porque é um patrimônio que levamos tanto tempo para construir, fazemos planos em cima dele, plantamos reservas, capim para o gado e do nada você vê o fogo se alastrando. O pior é não dispor facilmente dos epi's necessários, o acesso a recurso de fora é muito difícil, nem estrada direito tem. Apagamos as chamas com bombas costais, um trator velho e o que mais tínhamos em mãos. Mas muita gente aqui se juntou para trabalhar em conjunto.>
Embora as chamas estejam controladas, o produtor rural permanecerá por lá por mais alguns dias para evitar que o que presenciou nos últimos dias volte a acontecer.>
"Não dá para relaxar. A toda hora aparecem novos focos. Temos que nos revezar no combate. Hoje está controlado, mas do nada o cenário pode mudar. Não chove há muito tempo. Não perdemos nenhum animal porque conseguimos fazer o manejo, porém o prejuízo no patrimônio já é muito grande. Muita coisa se perdeu", finalizou. >
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