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A cada 24 horas, um homem é preso por agressão a mulher na Grande Vitória

A cada 24 horas, um homem é preso por agressão a mulher na Grande Vitória

Em 6 meses, Grande Vitória teve 231 detidos por bater em mulher

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 01:36

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A Polícia Civil prende pelo menos um agressor de mulher em flagrante por dia na Grande Vitória. Os números são do Plantão Especializado da Mulher (PEM). No primeiro semestre de 2018, foram detidos 231 homens. Em todo o ano passado, a polícia efetuou 435 prisões.

Os números podem ser ainda maiores, já que a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) não informou à reportagem as prisões que acontecem em outras delegacias regionais da Grande Vitória e do interior do Estado.

Na terça-feira (07), a Lei Maria da Penha, de enfrentamento à violência contra mulher, completou 12 anos e os dados de denúncias mostram que as mulheres estão mais conscientes, segundo a titular da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, Cláudia Dematté.

No primeiro semestre deste ano, foram feitas 7.664 denúncias de mulheres vítimas de violência em todo o Estado. A quantidade no mesmo período do ano passado não foi informada, mas durante todo o ano foram 14.395 boletins de ocorrência registrados.

“Depois da criação da Lei Maria da Penha você percebe que cada dia mais denúncias aparecem. Não quer dizer que aumentou a quantidade de casos. Infelizmente sempre existiu, mas o número de mulheres que buscam as delegacias tem subido”, disse Cláudia.

A arquiteta Helena Mansur denunciou o ex-namorado. (Ricardo Medeiros)

Vítima de violência, a arquiteta Helena Mansur, de 31 anos, é uma das mulheres a prestar queixa contra o ex-namorado depois de ter sido agredida fisicamente (veja entrevista abaixo). Na ocasião, o suspeito a trancou dentro do apartamento onde moravam juntos em Itapoã, Vila Velha, e quando ela tentou fugir, ele a agarrou e deu um soco no nariz dela.

Aspas de citação

Ele me disse que eu não sairia viva de casa e percebi naquele momento que eu teria que lutar pela minha vida

Helena Mansur, Arquiteta
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De acordo com Helena, em uma das tentativas de fugir do agressor, ele pisou no pé dela, o que causou uma fratura. Ele só deu uma pausa no ataque quando viu os jatos de sangue saindo do nariz dela.

ALTERAÇÃO

Uma alteração recente da Lei Maria da Penha tornou mais rigorosa a punição para quem descumpre a medida protetiva, tornando crime a ação, sendo inafiançável na esfera policial. O agressor que mandar até uma mensagem via Whatsapp pode ser preso e ficar detido entre três meses e dois anos.

Para a delegada, a medida vem aumentado o número de prisões. “A gente não tem essa estatística ainda porque é uma alteração recente, mas percebemos no dia a dia. Inclusive, também aumentaram os decretos de prisão por parte da Justiça”, avaliou.

O secretário estadual de Segurança Pública, coronel Nylton Rodrigues, acredita que ainda é preciso mudar a cultura machista para continuar reduzindo os números de violência. “Nós temos como pano de fundo o machismo. É algo que a sociedade tem que desconstruir. E quem desconstrói? É a família, porque isso vem na infância de forma silenciosa”, declarou.

ENTREVISTA

"Nós brigamos e durante as agressões ele me disse que eu não sairia viva de casa. Percebi naquele momento que eu teria que lutar pela minha vida". (Ricardo Medeiros)

Há dois anos, a arquiteta Helena Mansur, de 31 anos, enfrentou o episódio mais traumático da vida dela: foi agredida pelo ex-namorado com quem tinha um relacionamento de 10 anos.

Ele era agressivo?

As pessoas já tinham me falado que ele era, mas eu não percebia.

Quando percebeu?

Quando teve a agressão física. Um dia cheguei em casa e ele estava desnorteado. Tinha consumido bebida alcoólica e fazia uso de remédios antidepressivos para um tratamento.

O que aconteceu?

Eu abaixei para pegar alguma coisa e ele bateu na minha cabeça. Tivemos uma discussão e decidi que ficaria em um quarto e ele em outro. Quando deitei, ele voou no meu pescoço e entramos em uma briga. Ele fechou a porta do quarto e disse que eu não sairia viva.

O que você fez?

Quando ele se acalmou, me deixou sair do quarto. Mas quando tentei fugir de casa, ele me agarrou e me deu um soco no nariz. Ele só parou quando viu a quantidade de sangue.

Ele foi preso?

Ele foi preso, mas depois pagou fiança. Hoje não temos mais nenhum contato.

Você pediu medida protetiva?

Me perguntaram se eu queria, mas na época eu não achei necessário.

Como você se sentiu depois do ocorrido?

Mudou tudo na minha vida. Fiz acompanhamento com psicólogo e com psiquiatra. Isso afetou na forma de eu me relacionar com as pessoas, me afetou no sentido de confiança.

Como você consegue falar sobre isso?

Eu nunca falei abertamente com ninguém. Falei com algumas pessoas próximas e algumas pessoas da minha família. Mas quando vi aquela reportagem da Tatiane (caso em que o marido é acusado de jogar a mulher do 4º andar) eu pensei no que as pessoas poderiam ter feito, sabe. Eu pensei 'será que não tinha porteiro?' ou 'será que não tinham vizinhos?'. Os meus vizinhos me ajudaram no meu caso e eu senti muita gratidão a eles. Eu decidi falar porque todo mundo tem uma responsabilidade. A sociedade é muito machista e precisamos combater o que está no nosso alcance.

LEI MARIA DA PENHA: 7 FORMAS DE ESCAPAR DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO

Violência contra a mulher. (Pixabay)

Nesta terça-feira (7), a Lei Maria da Penha completa 12 anos e, desde então, muitas mulheres têm denunciado mais situações de violência dentro de casa. Só no primeiro semestre deste ano foram 7.664 boletins nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs). E para sair de um relacionamento violento, existem orientações que podem ajudar.

A titular da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher no Espírito Santo, Cláudia Dematté, e uma das delegadas do Plantão Especializado da Mulher, Milena Girelli, são claras: todas as mulheres precisam procurar ajuda ao se incomodarem com alguma situação no relacionamento.

A violência pode não ser apenas física, mas também patrimonial - quando a mulher depende financeiramente do homem - ou psicológica, quando é ameaçada ou sofre com insultos e outras situações. 

VEJA AS ORIENTAÇÕES

- Se percebeu alguma coisa estranha dentro no relacionamento, mas ainda não quer denunciar, a orientação é procurar psicólogos na Casa do Cidadão. “Temos assistentes sociais, psicólogos que podem ajudar a entender se a mulher passa ou não por uma situação de violência”, diz Milena.

- Dificuldades financeiras e depressão também podem fazer do homem uma pessoa violenta dentro de casa. A busca por ajuda psicológica mais uma vez vem como possível solução.

- Há situações em que o marido só age de forma violenta quando está sob efeito de álcool ou drogas, mesmo sendo uma pessoa de bom convívio fora desses momentos. “O tratamento pode ser uma solução. Muitas mulheres não querem terminar o relacionamento, mas querem ajudar o homem. Tem que estar com o coração aberto para que não se leve para a questão jurídica. Prender nunca é melhor opção”, declarou.

- Projeto “Homem que é Homem”: os homens também podem passar por tratamento psicológico promovido pela Polícia Civil. O tratamento visa reeducar o homem, retirando ideais machistas que o acompanham desde a infância e também reforçam a violência contra a mulher.

- A busca por ajuda também pode acontecer em centro especializadas das prefeituras. Em Vila Velha existe o Centro de Referência no Atendimento Especializado à Mulher em Situação de Violência Doméstica de Vila Velha (Cramvive) e em Vitória o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAMSV).

- A Polícia Civil pode ser procurada a qualquer momento, mesmo que seja apenas para pedir orientações. Existem 13 delegacias especializadas na Grande Vitória e no interior, além do Plantão Especializado da Mulher (PEM), que funciona durante 24 horas em Vitória. Denúncias podem ser feitas também pelo Disque Denúncia, no 181 ou por meio do site em uma aba específica (clique aqui)

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- A mulher que tenta escapar do homem e não consegue também pode pedir uma medida protetiva. “O homem precisa ficar afastado de acordo com a determinação da Justiça e não pode nem entrar em contato com a mulher com a possibilidade de ser preso e autuado de forma inafiançável na esfera policial”, explica a delegada Cláudia Dematté.

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