Publicado em 3 de novembro de 2020 às 22:32
A Superintendência Regional do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho (MPT) vão investigar se o possível descumprimento de normas de segurança do trabalho pode ter provocado o naufrágio de um rebocador na noite deste domingo (1) na costa de Guarapari. Após o acidente, dois trabalhadores foram resgatados com vida, porém um deles desapareceu no mar.
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"A auditoria fiscal do trabalho realizará a análise do acidente ocorrido. A Marinha fará a análise do incidente porque eles são responsáveis pela segurança da navegação. Nós faremos a análise do ponto de vista do trabalho em si", afirma o superintendente Regional do Trabalho no Espírito Santo, Alcimar Candeias.>
Já o MPT disse, em nota, que tomou conhecimento do caso pela imprensa e que "vai instaurar procedimento de investigação para apurar as circunstâncias do naufrágio de rebocador no litoral de Guarapari, responsável por provocar o desaparecimento de um trabalhador e ferimentos em outros dois".
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Eric Barcelos Rangel, de 56 anos, estava na embarcação que seguia de Vitória para o Porto de Açu, em São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro. Os colegas dele foram resgatados na tarde de segunda-feira (2), após passarem várias horas em alto-mar, mas Eric não foi mais visto. O resgate, segundo a família de Eric, foi acionado por tripulantes de um navio que viram o rebocador.>
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A Marinha informou que foi instaurado o Inquérito Administrativo sobre Fatos da Navegação (IAFN) para apurar as circunstâncias do acidente. Após a conclusão, o documento será encaminhado ao Tribunal Marítimo que, após vistas, enviará à Procuradoria Especial da Marinha, para que adote as medidas previstas.>
É com base nessas informações coletadas pela Marinha que a Superintendência Regional do Trabalho fará investigação própria. Segundo Candeias, normalmente, auditores também acompanhariam as apurações, porém, por conta da pandemia, o trabalho terá que ser feito posteriormente. >
Chefe de máquinas desaparece após rebocador afundar em Guarapari
Ele afirma que existe uma coordenação que atua especificamente inspecionando o trabalho portuário e aquaviário. De acordo com Candeias, o setor é de grande complexidade, porém, acidentes não são frequentes. >
"Do ponto de vista da saúde e da segurança do trabalhador, em regra, temos poucos acidentes. Mas a fiscalização do setor é um trabalho complexo, muitos marítimos são estrangeiros, existem as bandeiras de conveniência - que são navios de um determinado país, mas que estão inscritos em outro por questões econômicas. Quando a gente chega ao local, se depara com tripulantes de outra comunidade, com costumes diferentes", relata. >
O Sindicato Marítimo Aquaviário (Aquasind) afirma que a combinação de jornadas prolongadas e número reduzido de tripulantes abre espaço para acidentes. O presidente da entidade, Antenor José da Silva Filho, explica que, atualmente, os trabalhadores atuam em escalas de 48 horas ou 72 horas.
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"Esse modelo existe há algum tempo, mas antes ela era suportável porque havia sete tripulantes em cada turno. Quando tinha uma jornada exaustiva, era possível o revezamento entre eles. Hoje não tem revezamento. Se houver manobra prevista para o dia todo e a noite toda, tem que estar a postos, de prontidão", diz. >
De acordo com o sindicato, a viagem prevista para o rebocador que se acidentou poderia levar até 10 horas com tempo bom, e 16 horas, no caso de intercorrências. >
O superintendente regional do Trabalho explica que mesmo que os trabalhadores não fiquem engajados o tempo todo (e sim, à disposição) as jornadas podem acabar sendo excessivas, o que coloca em risco a saúde deles e a segurança da navegação como um todo. >
"Uma embarcação dessa de apoio, às vezes, se insere em uma operação e, de forma atípica, são exigidos esforços extraordinários e jornadas maiores. É aí que acontece o problema", diz.
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A empresa Brasbunker contratou a empresa Vitória Embarcações para fazer a manobra de entrada de um navio bunker (de combustível) no Porto de Açu, no Norte do Rio de Janeiro. Esta, por sua vez, teria feito a contratação dos tripulantes. >
A reportagem tentou contato durante toda a tarde com a Vitória Embarcações, que também é proprietária do rebocador, mas não obteve resposta. >
Segundo a família de Eric, ele havia citado problemas anteriores na embarcação, principalmente na parte elétrica. A esposa do trabalhador desaparecido afirmou que, há dois meses, o marido fez uma viagem que costuma ter duração de 15 dias, mas que acabou se estendendo por quase 30 dias pelas condições do rebocador. >
Ao G1 ES, o proprietário da Vitória Embarcações disse que, há cerca de um mês, o barco apresentou problemas na borracha do reversor, que é como se fosse a caixa de marchas do barco. Após esse problema, todo o material foi trocado e a manutenção foi feita, de acordo com a empresa.>
Já nesta última viagem, Edson garantiu que não foi constatado nenhum problema na embarcação e contou que eles tinham o costume de chamar o trabalhador desaparecido para verificar a embarcação antes de sair com ela, pois ele entendia de máquinas. Ele disse também que foi feito um teste de cerca de duas horas com o rebocador e que estava tudo certo.
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