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Gigante da tecnologia e FBI alertam ES sobre extremismo na internet

Gigante da tecnologia e FBI alertam ES sobre extremismo na internet

Amazon identificou manifestação de dois jovens sobre ataque a escolas de Vila Velha e fez alerta a serviço de investigação dos EUA, que acionou a Polícia Federal e a Polícia Civil do Espírito Santo

Publicado em 27 de abril de 2023 às 07:28

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Mulher usando o celular
Jovens usaram chat de live para falar sobre ataques. (Freepik)

Durante live realizada na plataforma de uma das gigantes mundiais de tecnologia, a Amazon, com sede nos Estados Unidos, dois jovens capixabas relataram a intenção de promover ataques a escolas de Vila Velha. O monitoramento realizado pela empresa em suas redes flagrou a manifestação e o fato foi comunicado ao FBI, o departamento de investigação norte-americano, que acionou a Polícia Federal  e a Polícia Civil do Espírito Santo.

De acordo com o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, adjunto da 2ª Delegacia Regional de Vila Velha, que realizou as investigações no Espírito Santo, os jovens, de 16 e 17 anos, agiram em um ambiente virtual onde se sentiam seguros. “Mas não consideraram que as empresas estão preparadas e que qualquer tipo de ameaça é reportada para as autoridades”, pondera.

Ele explicou ainda que toda ameaça de ataque a escola é tratada com prioridade absoluta pelas forças policiais, pelas instituições de ensino e pelas empresas privadas que administram os debates em redes sociais.

“Em nenhum ambiente os infratores estão isentos da ação preventiva e repressiva do Estado. As forças policiais do mundo estão organizadas e imbuídas no propósito de evitar novos eventos. Tudo o que pode ser feito para que não haja mais tragédias em escolas está sendo feito”, destacou.

Guilherme Eugênio, Delegado titular da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic)
Guilherme Eugênio Rodrigues, delegado adjunto da 2ª Delegacia Regional de Vila Velha . (Fernando Madeira)

“Foi brincadeira”, diz jovem

A live foi realizada no último dia 11 de abril, por meio da plataforma “Amazon Twitch”. O evento foi criado por uma terceira pessoa, que chegou a abordar sobre o tema “massacre em escolas” e aconselhou aos participantes a não “realizarem nenhum ato de violência em escolas”.

De acordo com as investigações, foi nesse momento que um dos jovens declarou: “Dia 20 vou para a escola matar todo mundo”. O outro adolescente também fez um comentário: “Pensando em fazer um massacre na minha escola, o que vc acha”.

Ao identificar os comentários, a Amazon informou ao FBI, que fez uma investigação inicial, identificando dados disponíveis sobre os usuários das duas contas, e comunicou os fatos à Polícia Federal, que por sua vez acionou a Polícia Civil do Espírito Santo.

Com base nas informações recebidas, a investigação chegou ao nome de duas pessoas. Uma delas um jovem de 17 anos, que usava várias contas de e-mail e cujo acesso à internet era pago pela irmã.

Ao ser ouvido pela polícia, o jovem permitiu o acesso ao celular dele, onde foi identificada a participação na live. “Foi quando ele admitiu a autoria das postagens e alegou ter realizado o comentário em tom jocoso, que não estaria preparando um ataque e que a fala seria uma brincadeira”, informa o delegado.

Jovem usa nome de professor

A situação mais complexa envolveu o segundo jovem, de 16 anos, que utilizou o nome de um professor em seu perfil. Com isso, as informações recebidas eram todas do professor, que, em um primeiro momento, chegou a figurar na investigação como suspeito e prestou depoimento para a polícia.

Com o avanço das investigações, segundo o delegado, foi possível constatar detalhes nas informações prestadas às redes sociais que não conferiam com os dados do professor. E permitiram identificar que o autor das postagens era um jovem, cujo nome era igual ao do professor, mas com sobrenome diferente. E mais, ele era vizinho do professor.

Aspas de citação

O autor da postagem se valeu do nome de seu vizinho, um professor, ao promover os atos

Guilherme Eugênio Rodrigues
Delegado adjunto da 2ª Delegacia Regional de Vila Velha
Aspas de citação

Após ser localizado, o jovem de 16 anos foi levado à delegacia para ser ouvido e permitiu acesso ao seu smartphone. “Foi então constatado que ele é o titular da conta na Amazon Twitch, empregada na realização da postagem. Confrontado por essa constatação, ele finalmente admitiu a autoria das postagens e alegou a ter realizado em tom jocoso e que não tinha intenção de atacar escolas”, relata o delegado.

A investigação apontou ainda que o jovem usou indevidamente o nome do professor. “Uma pessoa inocente, envolvida em uma situação que poderia ter acarretado a ela e à família graves implicações, que felizmente não foram concretizadas”, pontua o delegado.

Quem são os jovens

As investigações apontam que os dois jovens não estudam e nem trabalham. O que tem 17 anos utilizou a internet paga pela irmã. “Ele leva uma vida muito simples, não estuda e não trabalha. Ao que tudo indica, não possui acesso a armas de fogo e não chegou a atingir o grau de escolaridade peculiar de sua faixa etária”, explica o delegado.

Uma situação bem semelhante à do segundo jovem, de 16 anos. Em depoimento, ele assinalou que, durante a live, “fez uma brincadeira, em tom de piada”. Afirmou ainda que “não tinha e não tem a intenção de atacar escolas”. Também afirmou não possuir armas em sua casa, reconheceu que o professor é seu vizinho, mas negou ter usado o wi-fi dele.

De acordo com o delegado, um representante do Conselho Tutelar e os pais dos jovens acompanharam os depoimentos. “As famílias demonstraram raiva, indignação, desespero e, nos dois casos, narraram que os adolescentes ficam no quarto e que não têm domínio sobre o que eles fazem com o celular ou computadores. Ambos são jovens de baixa renda”, conta.

A investigação, que contou ainda com o apoio do setor de inteligência da Guarda Municipal de Vila Velha e da Secretaria de Educação do município na identificação dos estudantes, apontou que as postagens citavam o dia 20 de abril como as datas dos possíveis ataques. Os trabalhos de apuração foram concluídos  em menos de 48 horas e finalizados no dia 14 de abril.

"Também contamos com a cooperação do delegado federal Guilherme Helmer, da Delegacia de Defesa Institucional e Direitos Humanos da Polícia Federal, cujo trabalho foi fundamental  na identificação do adolescente de 16 anos que usava indevidamente o nome do professor", acrescentou o delegado da PCES.

Não foram identificados indícios de que os jovens tinham plano de ataque, armas, facas ou outros equipamentos e cenários. Eles não foram apreendidos.

Os trabalhos de apuração foram concluídos e encaminhados para a Promotoria da Vara da Infância e Juventude do município, para análise sobre as medidas socioeducativas que podem ser adotadas em relação aos dois jovens.

Por se tratar de menores de 18 anos, os nomes dos jovens e das escolas, assim como dados que possam levar à identificação deles não estão sendo informados, seguindo orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente.

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