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Em uma década, violência tirou a vida de 10 mil jovens no ES

Em uma década, violência tirou a vida de 10 mil jovens no ES

Os dados apresentados pelo Atlas da Violência nesta quinta-feira (27) indicam os números de homicídios na faixa etária de 15 a 29 anos no Espírito Santo, no período entre 2008 a 2018

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 20:25

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Cápsula no chão: balas perdidas atingiram pelo menos 11 pessoas em outubro e novembro de 2019
Mais de 10 mil jovens foram assassinados no Estado nos últimos 10 anos. (glukan/ Pixabay)

Fabricia estava em casa, em Linhares, no Norte do Estado, quando recebeu o telefonema de um parente informando que o filho dela havia sofrido um acidente de moto no bairro Soteco, em Vila Velha. Ela não sabia, mas o primogênito Ewerton Celeste Marizani, de 24 anos, tinha sido assassinado com 11 tiros na Rua Tocantins.

“Ele morava com uma tia e o pai em Vila Velha. Era um dia de sábado quando ligaram pra falar do acidente. Fiquei preocupada e quis ir logo ao local. Antes de sair, me deram calmantes. Quando cheguei no DML, em Vitória, soube que ele tinha sido assassinado”, relembrou Fabricia Celeste, de 49 anos.

Ewerton Celeste Marizani, de 24 anos
Ewerton Celeste Marizani, de 24 anos. (Acervo pessoal)

O drama de Fabricia não é solitário. Os dados do Atlas da Violência 2020, divulgados nesta quinta-feira (27), mostram que no intervalo entre 2008 e 2018, o total de 10.233 jovens, com idade entre 15 a 29 anos, foram assassinados no Espírito Santo.

O pedagogo Jocelino Júnior atua na promoção de Direitos Humanos em Vitória e pesquisa a juventude negra do Espírito Santo. Segundo ele, as principais vítimas são jovens pobres, majoritariamente negros, que moram em bairros da periferia. De acordo com Jocelino, os principais alvos têm entre 15 e 22 anos.

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Quando esses jovens morrem estão em estado de evasão escolar, que acontece a partir do 5º ano do ensino fundamental. Um dos fatores é a inserção deles no tráfico de drogas neste período. No Iases, o mesmo perfil: jovens pretos, de lugares vulneráveis, sendo que a maioria parou de estudar aos 16 anos. Estes estão vivos, mas com a juventude morta

Jocelino Júnior
Pesquisador da juventude negra do ES
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O professor de mestrado em Segurança Pública da UVV, Henrique Herkenhoff, foi secretário de Estado da Segurança Pública de 2011 a 2013. Ele pontuou que apesar de apresentar um acumulado que chama a atenção, o Atlas aponta a redução dos índices de violência contra os jovens. Em 2008 foram registrados 1.113 mortes violentas contra 618 em 2018. A diferença aponta uma queda de -44,5%.

“Não é um dado para se comemorar, mas dá uma certa esperança porque o processo é de redução. Esse resultado deve ser atribuído a uma política pública bem sucedida e muito intencional. No Espírito Santo, a redução de homicídios foi colocada como prioridade e se tornou uma política de Estado, não de um determinado governante”, ressaltou.

O secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho, disse que cerca de 76% dos assassinatos registrados no Espírito Santo estão relacionados ao público indicado no estudo. Ele ressalta que tanto as vítimas quanto os responsáveis pelas mortes têm perfis semelhantes e estão ligados ao tráfico de drogas.

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Estamos perdendo uma geração de jovens, mas a mesma faixa etária que morre é a que mata. E isso vai se perpetuando porque é a cultura permeada no tráfico de entorpecentes. Diante de qualquer rivalidade, diante de qualquer punição que mereça ser dada ou diante de enfrentamento com outro grupo rival, o primeiro pensamento é a carga com disparo de arma de fogo, é o fator morte que prepondera

Alexandre Ramalho
Secretário de Estado da Segurança Pública
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O titular da pasta de Segurança Pública diz que, apesar da redução de casos ao longo da última década, não há o que comemorar. No entanto, ele pontua que o Espírito Santo registrava a faixa de 56,4 mortes por 100 mil habitantes em 2008, e 10 anos depois atingiu a marca de 29,3. Em 2019, a taxa era de 24,3.

“A nossa ferramenta para a redução é o Programa Estado Presente, definido na primeira gestão do governador Renato Casagrande. O programa tem o eixo social e o policial, sendo que neste desenvolvemos operações integradas, tratamos das estruturas das polícias e da promoção de um ambiente de satisfação para o policial, além da recomposição de efetivo”, detalhou.

CENTRO DE REFERÊNCIA

Na área social, a Secretria de Estado de Direitos Humanos (Sedh) planeja a criação de 14 centros de referência para a juventude. No local, jovens de 15 a 29 anos terão acesso a atividades que envolvem cultura, educação, cursos profissionalizantes, além de um espaço para interação da juventude em seus territórios.

A previsão é de que cerca de 600 jovens moradores de Vila Velha e Serra sejam os primeiros a receber os serviços ainda no primeiro semestre de 2021. A secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Boro, explicou que o governo está na fase de selecionar as organizações da sociedade civil que vão gerir os dois centros.

“Quando a gente oferece diferentes oportunidades de educação, esporte, lazer, a gente promove cidadania, a gente ensina sobre os direitos e com isso faz com que a juventude esteja mais engajada nesses projetos e com mais perspectivas de trabalho, na cultura, e isso é importante para garantir um ambiente mais seguro”, enfatizou Nara.

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