Publicado em 12 de dezembro de 2021 às 09:10
Passados quase três meses desde que o Ministério da Saúde autorizou a aplicação das doses de reforço das vacinas contra Covid-19, apenas 11 das 27 capitais brasileiras já complementaram a imunização de 50% ou mais de seus idosos. O levantamento foi realizado pela Folha com dados do Ministério da Saúde até 4 de dezembro e com as estimativas populacionais mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
A análise revela uma grande variação entre as coberturas. Vitória lidera o ranking, com 91,3% de seus moradores com 60 anos ou mais já imunizados com o reforço, seguida de Campo Grande (79,4%), Rio de Janeiro (73,9%) e Belo Horizonte (64,1%).>
Enquanto isso, no extremo oposto, Macapá e Rio Branco contabilizavam, respectivamente, apenas 10,7% e 14,3% desse público-alvo alcançado com a dose adicional. Boa Vista, Brasília, Cuiabá e Palmas também aparecem no fim da fila, com coberturas inferiores aos 40% da população de 60 anos ou mais.>
Teresina, Maceió, Porto Velho, São Paulo, Natal, São Luís, Curitiba, Aracaju, Recife e Manaus completam a lista das 16 capitais --12 delas no Norte e Nordeste-- que ainda não atingiram a marca de metade dos idosos com a aplicação extra.>
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Há de se considerar os atrasos nos números do ministério em relação aos boletins municipais, devido ao processo de digitalização dos registros. Isso leva a divergências entre os dados das secretarias municipais e da pasta federal.>
A prefeitura de São Paulo, por exemplo, informa ter vacinado 49,6% dos idosos com o reforço até o fim de novembro. Já os registros do ministério indicam que 42,5% dos paulistanos com 60 anos ou mais haviam recebido a dose extra.>
A dose de reforço contra a Covid-19, liberada primeiramente para os idosos de 70 anos ou mais e pessoas imunossuprimidas, começou a ser aplicada em setembro. Ainda no fim daquele mês, a pasta ampliou o público-alvo, incluindo também aqueles com 60 anos ou mais e os profissionais da saúde.>
Vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e professora da Universidade Federal do Ceará, a epidemiologista Lígia Kerr lembra que os idosos estavam entre os primeiros grupos da campanha, iniciada no fim de janeiro, e, portanto, podem estar com a proteção defasada.>
"A terceira dose da vacina nos idosos é necessária. Acima dos 60 anos, já se sabe que há uma queda de anticorpos razoavelmente intensa depois de quatro meses [após a segunda dose]", diz.>
Pesquisa realizada em Israel com dados de 843 mil pessoas com 50 anos ou mais, publicada nesta semana pelo New England Journal of Medicine, por exemplo, sugere que o risco de morte é 90% menor entre as que receberam o reforço da Pfizer após cinco meses, na comparação com aquelas que haviam completado apenas o primeiro esquema vacinal.>
"Os idosos acima de 70 anos continuam sendo os mais acometidos pelas formas graves da Covid-19 com indícios de ascensão nas taxas de hospitalizações desta população", diz a última versão no plano.>
Diante das incertezas trazidas pelo surgimento da variante ômicron, a BioNTech e a Pfizer informaram nesta semana que a terceira dose de sua vacina contra a Covid neutralizou a nova cepa do coronavírus em testes de laboratório --com apenas duas doses, porém, há perda de eficácia frente à variante.>
As empresas anunciaram que, caso necessário, seria possível desenvolver uma versão do imunizante, específica para a nova mutação, até março do ano que vem.>
"Mesmo com a maioria dos governadores tendo proibido as festas públicas, muita gente vai persistir e fazer sua festa particular, podendo levar ao aumento da circulação do vírus. É importantíssimo que os idosos sejam cuidados, e a melhor maneira de cuidar deles nesse momento é levá-los para se vacinar com a maior urgência possível", alerta Kerr.>
Na avaliação da vice-presidente da Abrasco, prefeitos e governadores devem aproveitar o momento, mais propício em termos da oferta de doses, para acelerar a aplicação das doses de reforço.>
"Estamos com um suprimento importante, então é fundamental que essa terceira dose seja levada ativamente até os idosos, ou que eles sejam chamados e levados às unidades de saúde, para que possam ser adequadamente imunizados", recomenda a especialista.>
Nanci Silva, consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, também cobra mais estímulo por parte das autoridades sanitárias.>
"Essas taxas estão relacionadas ao grau de educação da população, de um modo geral, mas também, obviamente, ao grau de incentivo e de informação por parte das prefeituras. As pessoas precisam ser estimuladas ao processo de vacinação. É necessário criar as condições propícias para que as pessoas sejam vacinadas. Chegar até essas pessoas, ir até onde o idoso está", reforça Silva.>
Mais recentemente, em 16 de novembro, o ministério da Saúde estendeu a aplicação da dose de reforço para toda a população adulta. Até o momento, segundo a análise da Folha, foram administradas 5,3 milhões de terceiras doses nas capitais em pessoas com 18 anos ou mais (incluindo os idosos).>
Vitória também lidera o ranking com o maior percentual de pessoas com 18 anos ou mais já imunizadas com a dose de reforço (27,35%). Campo Grande, Porto Alegre e Rio de Janeiro são as outras únicas que também já venceram a marca dos 20%.>
Enquanto isso, sete capitais ainda não vacinaram nem 10% de seus adultos com o reforço: Porto Velho, Brasília, Cuiabá, Palmas, Boa Vista, Rio Branco e Macapá.>
Ao anunciar a ampliação para todos os adultos, a secretária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, Rosana Leite, afirmou que a previsão do governo federal era garantir o reforço a todos os brasileiros maiores de 18 anos até o meio do ano que vem, totalizando 103 milhões de doses aplicadas até maio de 2022.>
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