Carne de sol de qualidade no Espírito Santo? Só podemos estar falando de Montanha, conhecida como a capital capixaba da iguaria. Mas é por lá, em um dos locais mais quentes do Estado, que um empresário agrícola apostou as fichas na produção de brócolis japonês (também encontrado com o nome de "híbrido").
A citação anterior ao clima da cidade não é aleatória: tão famosa como a carne de sol, as altas temperaturas também marcam a região. Ainda assim, o agricultor Carlos Vassoler, de 28 anos, plantou cerca de dois mil pés da hortaliça, que notoriamente se desenvolve em áreas amenas, sendo comum encontrar plantios na região Serrana capixaba.
LÓGICA INVERTIDA
Com acompanhamento de um agrônomo e tendo avaliado bastante antes de iniciar a plantação das mudas, Vassoler estudou as características da hortaliça. Ele foi até Santa Maria de Jetibá — na região Serrana do Estado — e cidades vizinhas para entender como poderia adaptar uma cultura "fria" em um terreno "quente" como o da cidade de Montanha.
"Tenho um plantio de pimenta-do-reino e o espaçamento entre cada pé é de cerca de dois metros, com gotejamento (irrigação por gotas) a cada 50 centímetros. Então, sobravam dois gotejos livres e água que usamos na fertirrigação (processo de aplicação de fertilizantes via irrigação) ia para o solo. Aí comecei a pensar em quais cultivos poderia plantar para aproveitar esta situação, mas precisava ser algo que não tivesse interferência na mecanização da colheita, pois há as estacas dos pés de pimenta. Precisava ser algo manual, e me veio em mente o brócolis e o couve-flor", conta Vassoler.
Dos produtores com os quais conversou na região Serrana, ele escutou que o plantio do brócolis ocorre predominantemente no começo do ano, quando há o clima frio, porém sem o rigor do inverno, situação oposta ao que acontece em Montanha.
"Como eles plantam em janeiro e fevereiro, pensei que plantando aqui entre junho e julho daria certo, pois é quando a temperatura em Montanha é mais amena, o inverno não é chuvoso, nem úmido. Para minha felicidade, o brócolis se adaptou muito bem. Brinco que quebrei os paradigmas na região", disse o produtor.
RESULTADO POSITIVO
Com cerca de 60 dias de plantio, a colheita já pode ser iniciada. Neste estágio, o padrão é colher unidades entre 300 e 400 gramas. Carlos, entretanto, optou por dar mais um mês nutrindo as plantas e agora colhe cabeças com peso superior a um quilo.
O tamanho e qualidade do brócolis despertou interesse em comércios de outros Estados, mas as vendas são concentradas na região. "Consegui um acordo no Rio de Janeiro me pagando R$ 3,50 por unidade, só que ficaria caro para levar até lá. Aí consegui vender aqui mesmo por Montanha, Vinhático, Nanuque (MG), Carlos Chagas (MG) e até Teixeira de Freitas (BA), todos mais ou menos pertos daqui. O custo ficou menor e ainda vendo cada cabeça por R$ 5", explica o jovem agricultor.
META: PLANTAR NO VERÃO
Com a primeira colheita iniciada nesta semana, Vassoler já se planeja para replantio, que deve ocorrer em breve. Para este novo estágio, porém, ele terá que readaptar a fórmula da "lógica climática invertida", pois pretende plantar a hortaliça no verão.
Para obter sucesso similar na colheita, ele fará testes com as mudas plantadas nas sombras dos pés de pimenta e também de café da propriedade.
O quase "ineditismo" em colher brócolis em Montanha e região — já houve plantio-teste em Pinheiros, cidade próxima — chamou a atenção do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que repostou nas redes sociais a imagem de um belo exemplar colhido na Fazenda Vassoler.
Caso consiga manter o plantio por um período maior no ano, o empresário pretende ter produção suficiente para abastecer uma rota contínua entre as cidades de Montanha (ES), Teófilo Otoni (MG) e Teixeira de Freitas (BA), onde almeja vender as unidades de brócolis.
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