Publicado em 23 de dezembro de 2019 às 11:25
Tido como um marco na TV brasileira, o humorístico "Tá no Ar" fez, em abril passado, exatamente o contrário do que seu nome indica: saiu do ar, depois de seis temporadas. Desde então, a presença de um de seus criadores e estrelas, Marcelo Adnet, se fez rara na tela da Globo.>
A primeira reaparição foi com um quadro fixo no vespertino "Se Joga", todas as quartas-feiras. Mas, nesta segunda (23), Adnet retorna ao horário nobre: ele é o âncora da retrospectiva satírica "A Gente Riu Assim".>
No ano passado, em sua primeira edição, o programa seguiu os moldes do "Globo Repórter", com apresentação de Adnet e sua ex-mulher, Dani Calabresa. Em 2019, o formato é outro: o noticiário esportivo "Bem Amigos", com Adnet imitando Galvão Bueno. Antonio Fragoso, Betty Gofman, Caíto Manier, Fabiana Karla, Paulo Vieira e Welder Rodrigues também participam.>
Em entrevista por telefone, Adnet faz uma retrospectiva dos seus últimos 12 meses --não foi um período exatamente tranquilo para ele.>
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Ao longo da campanha eleitoral de 2018, o ator lançou vídeos em que imitava todos os candidatos à Presidência. A única paródia que suscitou reações negativas foi a de Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, Adnet recebeu acusações de "mamar na lei Rouanet" e até ameaças de morte.>
O caldo engrossou quando surgiu uma gravação em que Bolsonaro, à época hospitalizado depois de sofrer um atentado em Juiz de Fora, parecia xingar uma enfermeira. Era uma imitação da voz do então candidato, e Adnet foi imediatamente responsabilizado por ela. Em três dias, o áudio foi compartilhado mais de 280 mil vezes no Facebook.>
"Eu não ligo quando criticam o meu trabalho", afirma o humorista, que desmentiu pelo Twitter a autoria da gravação. "Mas isso aí foi longe demais." O ator tomou providências legais, apoiado por advogados da TV Globo.>
"Este é um governo absolutamente agressivo, que cria um clima horroroso no país. Tudo que é ligado à ciência e à arte está sendo demonizado. Artistas, cientistas e professores sofrem um bombardeio diário de mentiras, de assassinatos de reputações. O grupo que está no poder quer calar as vozes dissonantes.">
No próximo dia 21, estreia "Fora de Hora", uma sátira aos telejornais desenvolvida por Adnet e por Marcius Melhem, diretor de humor da Globo. Adnet terá dois personagens fixos: um repórter esportivo e um outro, sensacionalista, que não conhece limites.>
"Fora de Hora" terá quadros gravados "a quente", às vésperas de ir ao ar, comentando o noticiário político. O humorista afirma que a Globo não impõe nenhum parâmetro.>
"Em quase sete anos na casa, nunca ninguém me mandou pegar mais leve", afirma Adnet. "Isto não quer dizer que eu tenha carta branca. Todos os textos têm que ser lidos e aprovados, mas a interferência é mínima".>
"Eu tive um certo receio quando apresentei a ideia do militante revoltado [personagem sem nome que criticava a Globo, presente em todas as temporadas do "Tá no Ar"]", prossegue. >
"Mas o Schroeder [Carlos Henrique Schroeder, diretor-geral da emissora] aprovou na hora. Neste ano até pensamos em transformar o militante num fanático da extrema-direita, mas o programa já estava no fim. Além disso, esse tipo se manifesta mais por escrito, nas redes sociais.">
Em fevereiro, Adnet terá dois sambas-enredo seus no Carnaval carioca. O de perfil mais alto é "O Conto do Vigário", escrito com sete outros parceiros para a São Clemente, escola de samba do Humaitá --o bairro da zona sul onde o ator passou boa parte da vida. O outro, sobre Beth Carvalho, também foi composto com vários parceiros e é para a Botafogo Samba Clube, uma escola pequena que existe há apenas dois anos.>
Circulou o boato de que, no desfile da São Clemente, Adnet entraria fantasiado de Jair Bolsonaro, em cima de um carro alegórico. O humorista não confirma, mas tampouco descarta a ideia. >
De qualquer forma, a letra do samba-enredo promete atrair a ira de seus detratores: "Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu/ E o país inteiro assim sambou/ Caiu na fake news".>
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