Murilo Abreu é figura conhecida no meio cultural capixaba. E não é à toa. Nos idos dos anos 2000, participou ativamente das produções da banda Solana, que movimentou a cena local e ficou conhecida principalmente pela inventividade e pelas referências literárias. Na mesma década, passou a integrar o projeto Aurora Gordon, que revisitou fases importantes da produção cultural do Estado nos anos 1960 e 1970.
Depois de muita parceria, muita troca de experiências e contribuição para projetos coletivos relevantes, o músico e compositor voltou o olhar para si mesmo e decidiu explorar uma concepção musical que já trazia consigo havia muito tempo. Assim, nasceu o recém-lançado EP Lera, com quatro faixas autorais que firmam a personalidade do artista.
Para estar confortável em um coletivo, é muito importante você ter autoconhecimento, saber para onde quer seguir com aquilo e qual a melhor forma de colaborar. Cada um possui sua ambição, perspectiva, personalidade... e na maioria das vezes você precisa abrir mão disso. Lera é a primeira vez que me expus de forma solitária, sem pensar em estar somando a algo que não dependia só de mim, detalha Murilo, em entrevista ao C2.
PRODUÇÃO
Nesta jornada solo, o músico priorizou um processo de produção simples, com arranjos, pré-produção e mixagem divididos em etapas e idealizadas logo após as composições das canções. No ano passado, juntou-se a Rodolfo Simor, com quem já lida há tempos, e gravou as faixas. Esse processo foi muito prazeroso, nos identificamos facilmente na forma de pensar em agir, salienta o músico, que assina todas as vozes e instrumentos do EP.
As canções revelam um certo equilíbrio na produção de Murilo, que trouxe duas faixas leves, com arranjos minimalistas, mescladas a outras duas com pegada um pouco mais musicada que remete bem a uma mescla que vai do MPB ao folk. Uma Ira (Mayra) abre o trabalho com uma combinação bem sutil de voz e violão e é a única não assinada somente por Abreu, que teve a contribuição de Francisco Vervloet na faixa.
A faixa é sucedida por Guerra de Egos, em que a voz mansa de Murilo ganha contornos um pouco mais ritmados, assim como Vamos Tomar um Café da Manhã?, que encerra do EP.
Quase sussurrada, Poder de Criança é uma ode à sabedoria dos pequenos, digamos.
Busquei preservar o formato das canções exatamente na forma que foram compostas e como eu as tocava no violão. O minimalismo dos arranjos vem justamente do fato de serem músicas que refletem momentos muito íntimos e passagens fundamentais de minha vida, reflete Murilo, antes de confidenciar que todas foram compostas entre 1997 e 2000.
Justamente pela ordem cronológica, Lera deveria ter sido lançado antes de tudo o que Murilo produziu na música. O músico e compositor diz ter outras letras prontas, novas e também mais antigas, mas que não conseguiria trabalhar com elas sem antes concretizar o EP.
Nunca tive ambição de ser um compositor e seguir carreira solo, mas estou satisfeito e orgulhoso do que fiz. Cada passo dado nesse instante tem sido gratificante demais. O que me importa neste momento é tocar e cantar, diz.
O show de lançamento será na próxima quinta-feira, dia 25, no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória. Na ocasião, Murilo terá o reforço de Thaysa Pizzolato (piano e teclados), Rodolfo Simor (violões e guitarra) e Bento Abreu (bateria). Além das faixas do EP e outras músicas inéditas, Murilo promete relembrar algumas canções do Solana e do Aurora Gordon.
Também pode rolar uma surpresa ou outra... o repertório está bem bacana, garante Murilo, que deve se concentrar em Lera pelos próximos tempos, e espera gravar outro EP ainda neste ano.
Fora isso, vivo para cuidar do meu pequeno filho, do meu lar e da minha mente. O mundo anda bem estranho e desconfortável, tenho escolhido ficar mais próximo dos amigos e familiares, conclui.
Lera
Murilo Abreu. Independente, 4 faixas. Disponível nas principais plataformas de streaming. O show de lançamento será na quinta-feira (25), no Sesc Glória, às 20h. Os ingressos custam R$ 15 (meia), e estão disponíveis na bilheteria do local. (27) 3232-4750.
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