Publicado em 6 de novembro de 2022 às 10:00
Entrar em uma caverna pré-histórica, pisar na Lua, fugir de animais selvagens na África ou até passear por dentro do corpo humano. Tudo isso sem sair da escola ou da universidade. O metaverso começa a se tornar realidade, revelando-se mais uma ferramenta para o ensino em sala de aula. Rompendo barreiras do espaço e tempo, a tecnologia promete não apenas facilitar o aprendizado, oportunizando vivências até então inimagináveis, mas também deixá-lo mais lúdico e interativo. >
Mas o que exatamente é o metaverso? Trata-se de uma realidade paralela e virtual, onde os alunos poderão interagir, e, nos casos mais sofisticados, é acessado por meio de óculos de realidade virtual. A palavra vem do prefixo grego “meta”, que significa “além”, unido à palavra “universo”.>
Para a doutora em Educação, especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas na Educação e diretora do Instituto Crescer, Luciana Allan, o metaverso certamente irá atrair a atenção de crianças e jovens, em geral já acostumados ao ambiente dos jogos digitais, fazendo despertar o interesse pelo aprendizado.>
“Mas o mais importante é que coloca os alunos no centro do processo. Com o metaverso, eles terão contato com ambientes e conceitos abstratos mostrados de forma mais clara, e isso é motivador. Tanto na educação básica quanto no ensino médio e faculdade, os alunos estão acostumados a receber estímulos e, então, o metaverso terá muito a contribuir”, avalia.>
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Outra vantagem mencionada pela diretora do Instituto Crescer é reduzir os riscos de algumas práticas. Por exemplo, no ensino técnico, onde jovens e adultos podem ter de aprender a conduzir caminhões de grande porte ou operar máquinas, essas aulas podem ser realizadas em meio virtual.>
Indagada se acredita que o metaverso poderá deixar os alunos “dependentes” de diversão no processo de aprendizagem, ela disse que não. “Não vejo problema nenhum, pois os professores não vão utilizar o recurso o tempo todo. Ele apenas será somado a outros. Haverá sempre a fala do professor, a leitura de um texto, a apresentação de um vídeo etc. Uma boa aula emprega recursos diversificados”, pondera.>
Ainda de acordo com ela, o professor não deve se encantar com o metaverso. “Ele tem de ser muito crítico e avaliar o quanto faz sentido utilizar a ferramenta em sala de aula. Se o professor não é crítico, uma boa tecnologia se torna ruim”, alerta. Luciana ressalta também que, na hora de escolher aplicativos, as instituições devem analisar além dos aspectos visuais.>
“É preciso prestar atenção se os conceitos estão corretos, se há coerência com a linha pedagógica, se o custo-benefício se justifica, como será a experiência do usuário, considerando alunos e professores”, ressalta.>
Na Emescam, a expectativa é que aulas de anatomia sejam realizadas parcialmente no metaverso a partir de 2024. Em um ambiente “paralelo”, os alunos terão acesso a um laboratório virtual.>
Diretora acadêmica da faculdade, Cláudia Câmara conta que, atualmente, a Emescam está analisando parcerias para a criação do Emescam Lab, laboratório que, entre outros assuntos relacionados à tecnologia, irá incorporar a realidade virtual ao processo de ensino e aprendizagem.>
O primeiro projeto para utilização do metaverso é seu emprego nas aulas de anatomia, ministrada aos alunos de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia a partir do primeiro período, mas outras formas de utilização podem ser pensadas mais adiante. A instituição já avalia, por exemplo, o uso do metaverso para simulação de atendimentos e treinamento dos alunos.>
Eles poderão “passear” pelo corpo humano e até “entrar” em órgãos no metaverso. Segundo Cláudia, a qualidade na visualização de órgãos e tecidos será superior nessa nova tecnologia, ampliando a possibilidade de se explorar melhor o objeto estudado, com manuseio em 360 graus.>
Porém, Cláudia adverte que, mesmo havendo um ganho muito grande, o metaverso não irá substituir os estudos no anatômico convencional.>
Cláudia Câmara
Diretora acadêmica da EmescamEla acrescenta que o metaverso irá permitir também a discussão de casos clínicos de forma síncrona com alunos e profissionais de diversas instituições, inclusive internacionais.>
Na Faculdade de Direito de Vitória (FDV), o professor de Direito Digital e coordenador do EAD, Bruno Costa Teixeira, lembra que desde 2014 a instituição vem estudando e aplicando elementos constitutivos importantes do que vem sendo entendido atualmente como metaverso, como programas que simulam ambientes imersivos, com salas virtuais e avatares utilizados em atividades complementares. >
Bruno Costa Teixeira
Professor de Direito Digital e coordenador do EAD da FDVDe acordo com ele, a plataforma de ensino da faculdade, a FDV Digital, concentra esses recursos e vem sendo cada vez mais utilizada pelos alunos.>
“Tecnologias baseadas em blockchain fazem mais sentido para nós, para a aprendizagem jurídica, do que as simulações em ambientes virtuais 3D em si”, explica o professor de Direito. A blockchain é um banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações e onde não é possível realizar alterações sem a permissão da rede, o que permite transações de forma segura.>
A coordenadora pedagógica da FDV, Camilla Vazzoler, destaca que os investimentos em tecnologia são realizados no sentido de incentivar a produção e aquisição de conhecimento de forma coletiva. “Todo recurso é sempre o meio para a produção do conhecimento e não o fim. Não se pode abandonar a ideia de que ensino e aprendizagem são processos. Então, a ideia é potencializar o processo, que não se encerra na tecnologia”, argumenta. >
Na Multivix, o assessor acadêmico-corporativo Helber Barcellos da Costa conta que a adoção do metaverso está em fase de análise. “Estamos estudando as possibilidades”, adianta.>
Fora isso, a faculdade segue investindo em tecnologia, com adaptação de novas metodologias de ensino e implementação do novo portal acadêmico, entre outras novidades para 2023.>
Uma delas é a adoção da matéria Prática de Extensão Interdisciplinar e Inovação, que foi um projeto-piloto e, agora, passa a estar presente no currículo de todos os cursos. >
Helber Barcellos da Costa
Assessor acadêmico-corporativo na MultivixEntre os projetos já realizados, alunos da Odontologia e das Engenharias Elétrica e da Computação desenvolveram, por meio da inteligência artificial, a identificação humana em odontologia forense. O projeto conquistou o segundo lugar na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2020. Outra ideia bacana veio dos alunos das Engenharias da Computação e elétrica e Administração, que desenvolveram programa para substituição de cartão por biometria no transporte público.>
Mais uma novidade em termos de tecnologia na Multivix será no curso de Medicina do ano que vem, onde haverá a implantação de softwares de soluções educacionais que fazem uso de inteligência artificial no aprendizado do aluno. “O objetivo é identificar as necessidades dos alunos em sala de aula”, observa Helber Barcellos. >
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