Só os freios da lei vão reduzir mortes de motociclistas no interior

Fiscalização ainda é muito frouxa nos municípios do interior do Estado, onde nos últimos dois anos houver crescimento de 48% no número de mortes

Publicado em 25/07/2019 às 22h21
São Mateus - Maura Wagmaker cuida do irmão, Gilmar, desde que ele sofreu um acidente de moto em fevereiro do ano passado. Ele perdeu um pé, teve lesões neurológicas e hoje usa uma cadeira de rodas. Crédito: Lucas Paixão
São Mateus - Maura Wagmaker cuida do irmão, Gilmar, desde que ele sofreu um acidente de moto em fevereiro do ano passado. Ele perdeu um pé, teve lesões neurológicas e hoje usa uma cadeira de rodas. Crédito: Lucas Paixão

A fiscalização frouxa, quando ao menos existe, tem implicações diretas na violência no trânsito. Basta analisar o crescimento expressivo da quantidade de mortes de motociclistas no interior do Estado: não é coincidência que a imprudência seja mais comum onde falta controle rigoroso. A conscientização ainda depende da ameaça de punição aos maus comportamentos ou se torna inócua.

Reportagem deste jornal, na segunda-feira, apontou o aumento de 48% no número de motociclistas que perderam a vida fora da Grande Vitória nos últimos dois anos. Nas cidades menores, a ausência de serviços de transporte sistematizados é implacável, o que faz do veículo de duas rodas a alternativa mais viável de mobilidade, em tempos de crise econômica.

O problema é que a direção sem habilitação é uma prática culturalmente aceita, justamente pela histórica falta de fiscalização mais rigorosa. Tanto que até menores de idade fazem uso das motocicletas com uma frequência inaceitável. O uso de equipamentos de proteção obrigatórios, então, é inexistente, uma ficção. Tudo é permitido longe dos olhos da lei. No interior, eles costumam estar sempre fechados.

Não dá para deixar correndo solto. Ao se exigir uma maior presença de agentes fiscalizadores, sabe-se que nem sempre será possível uma cobertura expressiva em todos os municípios e, principalmente, em suas zonas rurais. Mas já é hora de se estabelecer algum tipo de estratégia de controle, com blitze esporádicas e outras ações que imponham a presença do poder público, demonstrando aos infratores que as regras não são uma fantasia e devem ser cumpridas.

Os acidentes com moto tendem a ser dramáticos, deixando marcas indeléveis naqueles que escapam da morte, com sequelas físicas e emocionais. Para cada seguro pago em caso de morte de motociclista, outros dez são pagos a pessoas que tiveram invalidez permanente. Os dados são da Seguradora Líder, administradora do seguro DPVAT, que cobre danos pessoais.

No Brasil, ainda não se pode abrir mão da rédea curta na legislação de trânsito. O governo Bolsonaro deu investidas recentes contra o que chama de “indústria da multa”, um populismo que não cabe em um setor ainda tão distante da civilidade. A irresponsabilidade mata e precisa de freios legais. As cidades menores não podem continuar se equilibrando à margem da lei.

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