Os graves problemas estruturais do Brasil não se bastam. Enquanto perdura a guerra de narrativas sobre a necessidade de manutenção do teto de gastos, algo que não deveria estar em discussão diante de um Estado financeiramente sufocado, nas adjacências também é comum se surpreender com situações tão absurdas que parecem inventadas, sempre escancarando para o cidadão que o descaso com o dinheiro público é a regra tácita.
O Brasil é mesmo um país sem limites para os disparates estatais. Basta pensar que, em um processo por danos morais contra um agente público, é o Estado que vai desembolsar os valores ao ofendido. Ao concluir que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ofendeu a honra do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, é assim que a Justiça se faz: cobrando do erário.
Ficou determinado que a União pague R$ 59 mil a título de reparação pelas ofensas, e vale lembrar que, dos mais de 200 milhões de brasileiros, somente um pode ser condenado por tal ato, mas o preço será pago por todos. A justificativa de que Gilmar Mendes agiu na condição de funcionário público federal é risível, e só alimenta a indignação e o ressentimento com o poder público, ao se apresentar de forma tão paternalista.
Como ainda cabe recurso, se a sentença for mantida, a União deve cobrar o ressarcimento desse valor de reparação. O ministro, então, arcará com os custos. Resta, contudo, saber em quanto tempo se dará esse retorno, inclusive se realmente se efetivará. O absurdo de o Estado ser o fiador de um processo que no fim das contas é pessoal permanece.
Em meio à pandemia, com milhões de brasileiros desempregados ou lutando para manter o emprego, sem falar no setor empresarial acumulando prejuízos e sobrevivendo a duras penas, o Tribunal de Justiça de São Paulo teve a brilhante ideia de oferecer até R$ 100 mil a desembargadores por "produtividade", com a criação de 19 câmaras extraordinárias.
Não bastam os proventos já muito acima da média, haveria também um "agrado". A proposta foi suspensa, enquanto o Conselho Nacional de Justiça decide a validade.
O Brasil é um celeiro de absurdos, diariamente. No governo federal, funcionários que deveriam direcionar seus esforços de trabalho pelos interesses coletivos do país são mobilizados para ranquear prefeitos e governadores na guerra ideológica da pandemia. Não se engane, aqui também há desperdício de dinheiro público e a perpetuação da ineficiência estatal.
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Não é só o patrimonialismo explícito, muitas vez corruptivo, que aplaca as ambições de tornar o Brasil um país mais justo e mais forte. O desperdício de talentos com tarefas inúteis também são chagas a serem curadas. Há coisas que precisam parar de acontecer no Brasil.
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